Ni Hao,
As aulas recomeçaram… e alguém teve a brilhante ideia de nos sugerir de pular um semestre. Em vez de irmos para o Beginner 2, como programado, eu, Fernando e mais alguns outros alunos fomos direto para o Elementary 1. E daí?
E daí que os professores só falam em chinês na sala de aula e os livros não têm mais textos em pinying, só em caracteres. A sensação é igualzinha a de tirar as rodinhas da bicicleta. Todo mundo diz que você vai conseguir, alguém fica segurando a bicicleta para você, mas a lei da gravidade é mais forte!
Eu sou o protótipo da CDF. Sento na primeira fila e, finalmente, entendi porque ela é chamada de fila do gargarejo. Meu professor de gramática conta muitas piadas na sala de aula, as quais, aliás, só ele entende, e ri bem em cima de mim. Além disso, para poder enxergar todos os tracinhos dos caracteres, aumentei o grau dos meus óculos a ponto de ter medo que um raio de sol atravesse as lentes e queime o livro em cima da mesa. Só está faltando mesmo um iPad, que eu espero ganhar de aniversário (viu, Luiz!), para poder ter um dicionário sempre em mãos.
Apesar de tudo, ando me sentindo como uma daquelas crianças que o professor recomenda aos pais levar na fonoaudióloga, fazer um exame de audiometria, de oftalmologia ou pesquisar uma possível síndrome de déficit de atenção.
Lá estou eu copiando uma frase, com a língua para fora da boca imprensada entre os dentes cerrados, os dedos apertando o lápis, olhando por cima das minhas lupas e a professora apaga o quadro bem na minha cara! “Espere!”… não, “Wait!”… também não… como se diz mesmo “Espere!” em chinês? Tarde demais! Durante todo este raciocínio, a professora já escreveu outra frase no quadro e só me resta apelar para o coleguinha do lado. No meu caso, graças a Deus, o coleguinha do lado é meu enteado, Fernando, que não pode negar informação à mulher que ajudou a trocar suas fraldas!
A aula mais irritante, ou para ser politicamente correta, desafiadora, é a de Listening and Comprehension. Estou feliz da vida respondendo a primeira pergunta do exercício 2 e o coleguinha do lado me diz que aquela já é a resposta do exercício 3. A que horas acabou o exercício 2??? Por que ninguém me avisou???? Que injustiça!
A verdade é que essa avalanche de chinês todos os dias está dando um super gás no meu aprendizado. E para completar, eu ainda conto com a
Por sua vez, de tanto me ver na Internet buscando o significado dos caráteres (o site nciku.com é fantástico, apesar do nome sugestivo), ela se animou a voltar a exercitar seu inglês. Isso é globalização em seu sentido mais puro!
Mas o que queria muito contar para vocês é que essa volta à universidade teve um sabor muito especial. Vocês se lembram do meu projeto de ajudar brasileiros a vir para China aprender mandarim que eu falei no post “Ano de Colheita”? Pois bem, ele se concretizou!
Meus primeiros clientes foram a Paola e o Gabriel. Duas pessoas muito especiais.
Paola é de origem asiática o que, aqui na China por ironia do destino, causa espanto em algumas pessoas. A amiguinha americana da Mariana não esconde a cara de surpresa toda vez que vê a Paola falando em português com a gente. Quando a apresentei para o Edvan, por exemplo, ele impostou a voz e mandou um Ni Hao caprichado!
Paola tem só 22 aninhos e já é uma mulher do mundo. Imaginem que já passou três meses no Japão trabalhando numa fábrica de doces durante as madrugadas e, agora, está aqui aprendendo mandarim. Consegui uma vaga para ela no dormitório da universidade a qual ela divide com uma coleguinha da Indonésia. Não é o máximo?
Antes, no entanto, de achar esse quarto para a Paola, eu passei por um episódio bem constrangedor, mas que é a cara da China.
Para que a Paola, ainda no Brasil, já pudesse ir se aculturando, pedi para a pessoa encarregada do dormitório para filmar o quarto que ela iria dividir com uma inglesa. A chinesinha me levou até lá, bateu na porta do quarto e, sem esperar muito, entrou totalmente sem-cerimônia.
Eu, achando que a menina que estava dormindo lá dentro era uma retardatária, ou seja, uma estudante que já deveria ter feito o “checkout” do quarto, invadi o recinto e filmei tudo com a maior cara de pau.
Gente, a inglesa levantou da cama e soltou os cachorros em cima da chinesa…. em mandarim! Eu estava tão embasbacada de ver uma ocidental falando um chinês tão perfeito, que não consegui nem ficar zangada com a inglesinha. No final das contas, era ela quem tinha razão de estar chateada conosco por termos invadido seu quarto. Nós, ocidentais, não vamos conseguir nunca entender essa desfaçatez com que os chineses invadem sua privacidade sem achar que isso é, no mínimo, deseducado. Com certeza, resultado de anos e anos de Revolução Cultural.
Enfim, por vias das dúvidas, escolhi uma nova colega de quarto para a Paola,“bitches” (como diria a inglesinha do video abaixo)!
O Gabriel já é outro perfil. Um rapaz impulsivo e muito determinado, que veio para China com a cara e a coragem, decidido a melhorar seu mandarim.
No Brasil, ele era autodidata e, antes de vir para China, enfiou a cara nos estudos. Não me perguntem como alguém pode ser autodidata em mandarim porque, para mim, isso é coisa de gênio, o que, aliás, às vezes o Gabriel parece ser. Como ele, fazendo jus à sua impulsividade, decidiu vir para Shenzhen muito em cima da hora, acabei não conseguindo um lugar no dormitório. Ele acabou ficando no apartamento do Nando até acharmos um quarto num apartamento tipo república, o que é muito comum por aqui.
O mais legal disso tudo é que nós quatro, eu, Fernando, Paola e Gabriel, acabamos ficando na mesma turma, o que só reforça minha sensação de ser uma grande mãezona, com os filhotes todos em volta!
Enfim, leitores, como já falei antes neste blog, “
Caminho das Pedras: https://docs.google.com/file/d/0ByTqd_cj50RxZEp0TG5qOFBiUk0/edit?usp=sharing
再见
Zai Jian
christianedumont@hotmail.com