Convivendo com a comunidade brasileira
O ser humano é um animal gregário por natureza. Estamos sempre buscando um grupo do qual fazer parte. Essa sensação de pertencimento nos dá a segurança necessária para ir tocando a vida, na certeza de que o grupo estará lá por nós.
Portanto, não é de se estranhar que, quando a gente decide ir morar em outro país, uma das primeiras providências que tomamos é buscar pela comunidade brasileira. Só ela será capaz de nos dizer onde comprar os ingredientes para fazer uma feijoada, como assistir às novelas da Globo, escutar ou dançar música brasileira e todas aquelas outras dependências emocionais das quais não conseguimos nos desapegar ao sair do Brasil.
Em todos os grupos, há sempre aquela pessoa super descontraída, que se destaca pela capacidade de integrar os novatos aos veteranos. No meu caso, quando cheguei à China em 2011, não foi diferente. Em pouquíssimo tempo, eu já estava devidamente integrada numa festinha dos brazucas, comemorando o aniversário da Maria, que é casada com o João, que é amigo do Pedro, que conhece o Antônio que é trader e troca dinheiro se você precisar…. e lá estava eu, comendo sopa de palitinho, me sentindo feliz e tão à vontade quanto se estivesse num botequim à beira da praia.
Só que pouco tempo depois, esse “calor-humano- que-só-o- povo-brasileiro-sabe-ter” esquenta demais e sua vida vira um grande Big Brother Brasil.
Você, que num primeiro momento atraiu a curiosidade dos outros BBBs que já tinham mais tempo de casa, começa a se sentir invadida em sua privacidade, convivendo com pessoas que você não conhece direito. A mesma comunidade que o recebeu de braços abertos, passa a exerger pressão para que você se integre aos seus próprios códigos culturais e, quando isso não acontece, paredão!
Saiu para fazer uma comprinha de manhã cedo, com a marca do travesseiro na cara e olho manchado de rimel da noite anterior? Esqueça, você vai encontrar alguém conhecido e terá que parar para bater um papinho. Afinal de contas, você não quer passar por antipático e ir de novo para o paredão, né?
Dentro da comunidade, assim como no BBB, começam a se formar grupos de pessoas que se juntam por afinidade e, assim como no BBB, um grupo passa a criticar o outro. Com medo do seu nome cair na boca do povo, você resolve não participar dos eventos sociais ou festas promovidas pela casa. Ferrou, lá está você de novo no paredão por ser antisocial e estar se recusando a se integrar ao grupo. Resolveu ser a simpática, que vai a todo e qualquer evento distribuindo sorrisos amistosos? Ferrou mais uma vez: vai para o paredão por querer aparecer demais.
Por outro lado, basta você estar no paredão, à beira da depressão, chorando de saudades da família e prestes a desistir de tudo e voltar para o Brasil, que lá vem a comunidade unida o reintegrar ao grupo, com sorrisos e lágrimas sinceras de quem sabe o que é passar por este tipo de situação.
E aí? Somos todos uns falsos e fofoqueiros que causam nojo à audiência mais qualificada da TV? Não, amigos! Somos todos seres humanos, tentando fazer parte de um grupo, rejeitando e criticando o diferente e nos aproximando do conhecido.
E qual o segredo da boa convivência na casa?
No meu ponto de vista, depois de muita ralação emocional, só existe uma forma de sobrevivência: entender que somos muito diferentes uns dos outros e que não existe ninguém cem por certo, nem cem por cento errado. Mais do que isso. Conviver com o diferente é uma excelente oportunidade de acrescentar novos valores à nossa antiga lista, construída em cima da nossa zona de conforto enquanto vivíamos no Brasil. Portanto, abra o seu coração e seu espirito e entre que a casa é sua!
Obrigada comunidade brasileira de Shenzhen!!!
Shenzhen, 2011, jogos da Universiade. Solange, obrigada por nos receber em Shenzhen. Leila, obrigada pela foto!
Christiane é certificada pela Sociedade Brasileira de Coach em Life&Personal Coach e atende pessoalmente e por Skype. Pós-graduada em propaganda e marketing, vive há quase cinco anos em Shenzhen, na zona do Cantão na China. Casada, mãe de 3 filhos, trabalha fornecendo suporte a brasileiros que desejam fazer negócios, estudar ou conhecer este país, além de escrever para mídias sociais sobre suas experiências como expatriada.