Apesar de as fontes ricas em vitamina B12 serem de origem animal, a deficiência nessa vitamina não é exclusiva de vegetarianos e vegetarianos estritos (veganos). Em números gerais: segundo a Sociedade Brasileira Vegetariana (SVB), 40% da população onívora (ou seja, que come carne além de vegetais e grãos) latino-americana e 50% dos onívoros no Brasil estão deficientes em B12 e a maioria nem sabe.
E como saber? Não é bem a substância mais popular e muita gente não sabe o que pode acarretar uma deficiência em B12. Pois bem, falei com três nutricionistas para entender melhor o que é esta vitamina e porque ela é importante para o nosso corpo. Se anemia e colesterol estão na boca do povo há anos, assim como diabetes e triglicérides, a B12 é mais discreta, é papo de quem corta derivados animais, a gente bem sabe. Os vegetarianos, por consumirem laticínios e ovos, conseguem ingerir essa vitamina, mas no caso dos vegetarianos estritos, que não consomem nada de origem animal, a suplementação é necessária. Mas todo mundo — onívoros, vegetarianos e especialmente veganos — deveria solicitar o exame ao seu médico, nutrólogo ou nutricionista para acompanhar de perto e nunca, sob hipótese alguma, se auto-medicar ou entender o consumo de B12 como parte de uma dieta. Quem vai dizer o que é melhor para você é um médico ou nutricionista.
Alguns dos sintomas de que ela está baixa são coisas que parecem banais, como queda no rendimento físico, cansaço e memória fraca em um primeiro momento e depois, se evoluir o quadro, formigamento nos dedos dos pés e das mãos e dificuldade em manter o equilíbrio e falta de apetite. “A língua pode ficar lisa e brilhante, porque as papilas se atrofiam, a pessoa perde o apetite. Às vezes pode haver dores pelo corpo. Todos esses sintomas são reversíveis quando há a suplementação oral ou injetável, porém no caso de muitos anos de deficiência, os sintomas podem evoluir para paranoia e esquizofrenia. Nessa fase, há o risco de não ser possível mais a reversão dos sintomas. A deficiência também pode levar a uma menor produção de células do sistema imunológico e menor eficiência do mesmo”, explica a nutricionista Laylla Coelho, professora das Faculdades Integradas Espírita e Faculdade Evangélica do Paraná. “O nosso organismo armazena a B12 no fígado e ele libera conforme a necessidade do corpo. Algumas das funções da B12 no nosso organismo são a manutenção do sistema nervoso, a formação do sangue e metabolismo”, completa a nutricionista Marcela Caron.
Também conhecida por cobalamina, a B12 é uma vitamina sintetizada por bactérias e fungos e absorvida pelo corpo humano através do fator intrínseco, uma substância produzida pelo estômago que ajuda a vitamina a encontrar seu “caminho” pelo sistema digestório. Às vezes, a pessoa até se alimenta de fontes ricas em B12, mas tem uma produção pequena de fator intrínseco ou um estômago pouco ácido — o uso frequente de anti-ácidos, por exemplo, dificulta a absorção da vitamina. Durante sua palestra na reinauguração da Veg Veg, a nutricionista Astrid Pfeiffer alertou que o “gasto” desta vitamina pelo nosso corpo aumenta se a pessoa passa mais tempo em atividades cerebrais, como estudo e criação. Mas ela é imprescindível a todos: todos os dias nosso corpo perde entre 1 e 3 mcg, sendo que os seres humanos adultos conseguem armazenar entre 3 e 5 mg desta vitamina, metade dela no fígado, além de ser reaproveitada através das células intestinais. A B12 pode ser estocada de três a cinco anos, dependendo do organismo e se os estoques estiverem altos. Ou seja, demora para cair e sobe rapidamente quando tem reposição oral ou injetável. No caso de quem se alimenta das fontes animais, o corpo consegue absorver de 1 a 1,5 mcg por refeição. “A capacidade de absorção volta ao normal depois de quatro a seis horas da primeira dose”, ensina Laylla.
Diferentemente do que se ouve por aí, fermentados como missô, tempê, levedo de cerveja, shoyu, espirulina, fermentos e algas produzem uma forma análoga de B12, que não é ativa no nosso corpo — inclusive, podem até atrapalhar na absorção da B12 ativa. “Esta vitamina é encontrada em alimentos de origem animal, como carnes, leites, ovos e queijos, mas os veganos podem encontrar como suplemento vegetal ou mandar manipular”, indica a nutricionista Astrid Pfeiffer. Para os vegetarianos estritos, é preciso atentar se a cápsula é de origem vegetal (algumas são de gelatina animal) e, se for comprimido, se há lactose na mistura; no caso das injetáveis, a periodicidade de tomá-la é menor que as cápsulas. E não há necessidade de se preocupar da origem da B12 da suplementação, pois ela é sintetizada em laboratório a partir de bactérias e não de animais. “Vários microorganismos têm sido empregados industrialmente para a produção de vitamina B12, dentre os quais destacam-se Propionibacterium, Methanosarcina, Butribacterium e Acetobacterium”, enumera Marcela.
*Este texto foi construído a partir das entrevistas feitas por e-mail com as três profissionais citadas (Astrid Pfeiffer, Laylla Coelho e Marcela Caron) e do Guia Alimentar de Dietas Vegetarianas para Adultos da Sociedade Vegetariana Brasileira, disponível para download aqui.
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