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Chengdu: a casa dos pandas gigantes

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Pandas gigantes do Centro de Pesquisa de Chengdu comendo bambu

Chengdu foi nosso primeiro destino na República Popular da China e fez parte do roteiro porque meu sonho era ver de perto os pandas, esses bichinhos gorduchos, carismáticos que para nós ocidentais faziam parte apenas dos nossos livros e desenhos infantis.

Ameaçados de extinção, os ursos panda não somam mais de 2000 em todo o planeta e a grande maioria deles (80%) estão nas montanhas de Sichuan (a qual a capital é Chengdu) e nas regiões de Shaanxi e Gansu. Aqui existem pelo menos três grandes centros de pesquisa e reprodução dos pandas onde vivem quase que no seu habitat natural, mas não deixa de ser um “zoológico especial” de pandas. Vou falar mais sobre esses fofos mais para adiante, mas antes quero contar sobre os impactos chineses.

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Chengdu, como outras cidades da China, está sempre em baixo de névoa, mistura de poluição e neblina, além de muita chuva

Já contei no post de Hong Kong nossas impressões sobre os chineses bem antes de chegarmos e também já havíamos lido e escutado algumas experiências de pessoas que passaram por aqui, então, pensei que estaríamos preparados. Engano!! Na descida do avião fui ao banheiro e o primeiro impacto: um lixo. Banheiro de aeroporto não costuma ser intransitável, mas aquele era. Disse pro Seba sem muita convicção, “se o banheiro aqui é assim, imagina o que nos espera”. Dito e feito, na China não existe banheiros limpos e os que têm vasos sanitários são raros, normalmente são um buraco no chão mesmo e você fica em pé mesmo. Papel higiênico então é artigo de luxo, nem guardanapo se vê nos restaurantes. Ir ao banheiro na China é uma tortura e a tática é fazer uma longa respiração antes e prender o ar, e claro, carregar papel na mochila, sempre. Partindo desse princípio, dá para prever que as cidades não são limpas e eles também não são nem um pouco preocupados com a higiene.

Segundo e terceiro impactos: a língua e os preços. No aeroporto ainda, fui procurar um posto de informações turísticas que não existe e consegui me comunicar rapidamente com um rapaz de informações do aeroporto que me disse para pegar um ônibus até o centro da cidade que sairia mais barato que o taxi. Senti o drama ali, se no aeroporto não falavam inglês, imagina no restante da cidade. Sabíamos que o taxi era barato, mas sabem quanto era o ônibus? Dez Yan, que significa 1,65 USD para cada um. O taxi provavelmente sairia uns 6 USD. Impacto muito positivo. A China realmente é barata (diferente de Hong Kong).

Fizemos reserva em dois hotéis diferentes para as quatro noites na cidade, pois o hostel indicado estava lotado no primeiro dia e então fomos para uma espelunca chamada Hotel 1018. Descemos do ônibus perto do hotel e pegamos um taxi numa esquina negociando com mímica e dinheiro na mão além do e-mail da reserva do hotel com o endereço escrito em chinês para o motorista saber onde queríamos ir. Por incrível que pareça negociamos, baixamos o preço de 5 para 3 dólares sem falar uma palavra. Ao chegar no “pseudo hotel” reservado no booking.com (por isso cuidado), o dono e a atendente não falavam nem “hi” em inglês e ai começou nosso problema. Mostramos a reserva no tablet e a moça abriu um programa no computador que servia de tradutor. Ela escreveu que o preço do hotel, porque era feriado, havia mudado e agora estava o dobro do que havíamos reservado. O inferno da negociação demorou cerca de uma hora e o nosso humor e bom senso já estavam chegando no limite. A maldita semana do feriado, chamada de “golden week” por causa do fluxo de dinheiro que gira no país nesses dias, nos atrapalhava de novo. No final já estávamos pensando em chamar a polícia (que também não adiantaria nada por causa do idioma), mas o dono do hotel ligou para uma pessoa que falava inglês e que então conseguimos argumentar e negociar. Resumo da ópera: íamos pagar 160 Yan pela diária, o dono queria 280 Yan e acabamos ficando por 200. Juro pra vocês que minha vontade naqueles minutos era pegar um taxi de volta para o aeroporto e o primeiro avião para fora da China. Era só o começo!

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Tianfu Square, a principal praça da cidade

Sugestão, se você sentir a mesma vontade, resista por mais um tempo que a experiência vale a pena. Fomos dormir para esquecer o acontecido e recuperar as energias e o ânimo.

Quarto impacto: gritaria e brigas. Sim, para mim os chineses estão numa concorrência grande com os árabes de quem grita e briga mais. No corredor do hotel os hóspedes chineses, adultos, corriam pelos corredores e gritavam “conversando” até que de repente a conversa virou uma briga generalizada. Claro que não entendíamos nada, e quando descemos para procurar algo para comer, vimos que a briga era com o tal dono do hotel que queria cobrar mais do que o combinado com os hóspedes – que chamaram a polícia.

Quinto impacto: o trânsito. Se eu achava que em Porto Alegre, Rio, São Paulo e Nova Iorque o trânsito é um inferno, aqui em Chengdu é pior. Aqui você é constante mente desafiado, no idioma, na comida, e para atravessar a rua, fora a poluição sonora das buzinas incessantes. Motos, quadricículos, bicicletas, taxis, carros e ônibus aparecem e se cruzam de todos os lados independentemente da presença de policiais ou do sinal de pedestres estar aberto ou não. Atravessar as ruas que são largas e muito movimentadas é um grande desafio e requer muita atenção e cuidado. Só para dar uma situada, Chengdu tem cerca de 6 milhões de habitantes que vivem neste caos.

Massss, como eu e o Seba somos cabeça dura resistimos a todos os impactos e fomos até o hostel que era pertinho confirmar nossa reserva. Aí estava nosso alívio e consolo e a grande dica. No dia seguinte mudamos para o Sim’s Cozy Garden Hostel, uma benção de Deus no caos chinês, com locais atenciosos que falam inglês, com uma pequena agência de turismo dentro, lavanderia, jardim, sala de jogos, cinema, internet, bar e restaurante delicioso e barato, perto de tudo e com um quarto privado muito bom. Ou seja, o melhor hostel que ficamos até agora na nossa viagem.

Dicas importantes para a China:
Tenha um bom guia de viagem e não hesite em seguir as recomendações, em geral são certeiras. Procure fechar os passeios turísticos com agência e guias que falem inglês. Vai facilitar muito a sua vida e evitar algumas possíveis e prováveis dores de cabeça. Fique em algum hotel, e de preferência Hostel, que as pessoas falem inglês (não são todos) e então você pode e deve pedir quando sair que eles escrevam num papel para o taxista ou para quem quer que seja, em Chinês, aquilo que você quer, ou para onde deseja ir. Isso é imprescindível para conseguir circular e comer na China e nos hosteis eles estão acostumados a fazer isso.

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O Buda gigante é realmente impressionante. Esculpido na pedra, tem mais de 1200 anos

O maior Buda do Mundo
Bem, até agora só falei em coisas ruins, mas a China não é só isso. Superadas as dificuldades começamos a aprender como as coisas funcionam aqui e então relaxamos e aproveitamos mais. Entramos no sistema! Fechamos o passeio da agência de viagem de dentro do Hostel para ir até Leshan ver o maior buda esculpido em pedra do mundo, com 71m de altura e mais de 1200 anos. Um espetáculo, grandioso, emocionante. Só não foi melhor porque toda a cidade de Curitiba parecia estar no parque onde fica o Buda. Feriado, lembra? A dica aqui é, se o parque (que é grande e lindo e tem muita coisa pra ver além do Buda) estiver lotado e a fila para descer as escadarias para ver o Buda por inteiro muito grande, passeie pelo parque e depois saia e pegue o barco que te leva pelo rio para ter uma visão linda dessa obra de arte milenar que foi mandada esculpir por um monge budista que queria acalmar as águas do rio e proteger os barqueiros das correntes. Se não fizer questão do parque, vale a pena pegar somente o barco.

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Os pandas se alimentam de grande quantidade de uma tipo de bambu específico das altas montanhas da China

O rosto mais famoso da China
No dia seguinte fomos realizar mais um sonho meu e ver de perto o ícone nacional mais adorável da China, o panda gigante. Saímos bem cedo com um grupo também organizado pelo hostel direto para o Chengdu Research Base of Giant Panda Breeding. O local tem 100 hectares dedicado a cuidar, preservar e reproduzir a espécie praticamente em extinção. Lá é possível conhecer o panda vermelho também, lindo, mas não tão fofo como o gigante. Este centro, um santuário desses bichinhos, possui cerca de 50 animais que custam cada um, por mês, somente para alimentação de bambus especiais vindos da montanha, 800 dólares por mês. A manutenção de pandas-gigantes custa em média 2,6 milhões de dólares por ano a estes centros e zoológicos.

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Bebê panda com um mês de vida na incubadora do Centro de Pesquisa em Chengdu

O panda é um animal solitário e preguiçoso por natureza que costuma viver no alto das montanhas no meio das florestas de bambu, seu principal alimento. Dos 40 kg de bambus que come por dia, apenas uma pequena parte é absorvida pelo organismo e por isso passa uma grande parte do dia comendo, lentamente.

O Centro conseguiu desenvolver ao longo dos últimos anos técnicas de inseminação artificial que tem ajudado muito na reprodução e preservação da espécie. Nesta época do ano em que fomos, outono (e inverno também), pudemos ver vários bebês recém nascidos. Uma vontade imensa de apertar e levar um pra casa!

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Jardim do Templo de Wuhou, em Chengdu. Vale a pena ir ao entardecer e depois caminhar pelos mercadinhos em volta

Depois desses sensacionais passeios, o resto da cidade deixa a desejar, mas vale sim alugar uma bike ou andar mesmo (porque o trânsito é infernal) e visitar o Templo e Monastério Budista de Wénshu, a praça principal chamada de Tianfu Square com uma estátua de Mao Tsé-Tung (líder comunista, revolucionário e fundador da República Popular da China), o People’s Park, Templo de Wuhou e seus jardins cheios de bonsais e um mercado de rua charmoso em uma região toda construída no estilo da China antiga. Pertinho dali está o bairro tibetano, com lojas e restaurantes típicos.

Prepare-se para a comida
Bem, para aqueles que são chatos para comer, desista da China. Achar um restaurante com cardápio em inglês não é fácil (no hostel tem ou em fastfoods que existem no mundo inteiro), e se não achar a solução é fechar o olho e escolher alguma coisa. Em Chengdu pelo menos, eles comem muito arroz frito e noodles (massa), frutos do mar, porco, galinha e rã, cérebro não sei do que era, pato entre outras coisas. Ainda não vimos insetos e cobras nos espetos, mas é muito comum os churrasquinhos de esquinas.

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Hot Pot é um tipo de comida tradicional na China

Conhecemos uma chinesa no hostel e saímos para jantar num restaurante típico, uma comida chamada “hotpot” – uma espécie grosseira de fondue. Na mesa eles colocam uma grande “panela” com água quente temperada e misturada com óleo e você vai até o balcão e escolhe os ingredientes para cozinhar ali. Foi uma experiência interessante, mas confesso que fiquei no mais básico como arroz frito, bolas de carne (espero que de porco), tofu e batatas.

Aqui você vai ver o quanto os chineses são apaixonados por chá. Faltam supermercados, mas não faltam casas e salões de chá que são ponto de encontro para lazer e até reuniões de negócios.

Ao redor de Chengdu
Como estávamos no meio do raio do feriado e metade da população da China estava viajando, não pudemos nem ir para o Tibet, que era nossa primeira intenção (havia um congresso comunista e a região estava fechada para turistas) e tão pouco viajar pelas regiões próximas que nos foram indicadas.
Pelo que ouvimos dos turistas que se aventuraram a viajar, as estradas não são autopistas e o trânsito é caótico quase que intransitável. Uma viagem de ônibus com duração normal para Danba é de 10 horas, mas fomos alertados que poderia durar até 18 horas. Sentiu o drama? Não tínhamos tempo para isso e então, mudamos os planos novamente.

Danba é considerada o vilarejo mais bonito da China, de estilo arquitetônico e cultural tibetano. Outro local que gostaríamos de ter conhecido e que pelos mesmos motivos ficaram para uma próxima é o Parque Nacional de Jiuzhaigou e a montanha mais alta da China, Émei Shan. Se puder, programa a visita!

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Buda Gigante de Leshan, fica cerca de 1h30 de Chengdu
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Mercado noturno ao redor do templo de Wuhou – comidas e souvenirs de todos os tipos
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Templo budista de dentro do parque de Leshan
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O dragão chinês é um animal sagrado e representa a energia do fogo, que destrói mas permite a transformação. Simboliza a sabedoria e o Império.
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Incensos são queimados como oferenda na entrada do templo budista. É símbolo da generosidade e do desprendimento.
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Escrituras no jardim do Templo. Gostaria muito de saber o que significa
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Turistas disputam lugar para ver os pandas de perto.
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Vá cedo ver os gordinhos, no horário da primeira alimentação. O número de turistas às 8h é menor
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Que eu sou simpático ninguém pode negar!
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Panda vermelho
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Noodles estilo chinês, picante!
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Buda gigante visto do barco
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Nosso próximo destino: Xi’an e Pingyao

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