Depois de 3 meses e meio pela Europa, chegou a hora de conhecer a Ásia e a porta de entrada foi a China, ou melhor, Hong Kong. Não seria nosso destino de escolha, mas tínhamos que ir até lá para pegar o visto para China, então aproveitamos para conhecer, e valeu a pena. Pra entrar em Hong Kong não precisa de visto e por isso é o destino de muitos mochileiros que estão há mais tempo na estrada e precisam pegar o visto. Tentamos fazer antes da sair da Europa, em Roma, mas com muita má educação e sem dar a mínima para nós, aliás, dando as costas, nos disseram que só dariam para residentes na Itália.
Nunca havia prestado muita atenção nos chinos, até começar essa viagem. A forma como o Seba foi tratado no consulado e a maneira como os grupos de turistas chinos se comportam pelo mundo nos fez pensar duas vezes em conhecer a China. São mal educados (o conceito de educação também pode ser questionado, mas me refiro ao nosso padrão “ocidental”, claro), não respeitam regras, fila, nem tão pouco pessoas, mulheres, crianças, falam alto, querem sempre estar na frente, custe o que custar porque, afinal, eles são mais importantes. Sei que toda generalização é burra, me perdoem as exceções, mas foi essa a impressão que ficou de início. Depois da nossa jornada de 20 dias pela China, espero que possa ter mudado de opinião.
Resistimos à vontade de mudar os planos e seguimos rumo a Hong Kong. Antes de embarcar, ainda em Roma, presenciamos a chegada de um grupo de pelo menos 40 chinos tentando furar a fila do check in e a atendente ameaçando chamar a polícia caso eles não se organizassem e seguissem as regras, as linhas e a fila. Bingo! Não estávamos tão errados assim.
Enfim, depois de 9 horas de voo, chegamos a Hong Kong – “Região Administrativa Especial da China (SAR)”, com um sistema político, alfândega, moeda e imigração próprios. A cidade foi colônia britânica por mais de 90 anos, e em 1997, devolvida à China. É considerada uma das regiões mais desenvolvidas da Ásia, com uma economia fortíssima e por isso chamada de Tigre Asiático, junto a Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul.
Hong Kong é singular, diferente das outras cidades da China. Muitos falam inglês, ou pelo menos se esforçam, as placas estão em Inglês e cantonês, idioma local, o transporte público é considerado um dos mais eficientes e desenvolvidos do mundo e muito barato. Não se pode fumar dentro dos locais, nem mesmo nas ruas. Existem lugares específicos sinalizados com placas. Adorei! A culinária é diversificada e de qualidade, para todos os tipos de paladar e nacionalidade. Não se assuste ao caminhar e ver nas vitrines dos restaurantes os patos e galinhas assadas penduradas pelo pescoço. É bizarro, mas muito tradicional. Nos mercados de rua é comum ver peixes vivos e caranguejos que são mortos na hora para vendê-los “fresquinhos”. Os caranguejos são amarrados vivos (prefiro não comentar…)
Hong Kong em si fica numa ilha cercada de várias outras e por Kowloon, o continente. É um porto gigante, mas que nem por isso perde sua beleza. A cidade lembra de tudo um pouco e por isso é diferente. Pode lembrar Nova Iorque pelos arranha-céus exagerados e que disputam qual tem a arquitetura mais diferenciada, moderna e tecnológica; São Paulo pelo centro financeiro, pelo trânsito, noite agitada e pela gastronomia sofisticada; o Rio porque é cercada pelo mar e rodeada de montanhas e praias com paisagens lindíssimas; Paris pelo lado fashion com a presença das grandes marcas e os Estados Unidos por causa do apelo ao consumo. Tudo em Hong Kong é consumo. Para ser ter uma ideia, grande parte das estações de metro desembocam num luxuoso shopping center e todos eles com as maiores grifes do mundo.
Hong Kong não é barata como todos costumam pensar. Não sei se foi sorte ou azar, mas chegamos no primeiro dia do maior feriado do país, 8 dias em que pelo menos metade dos chineses, ou seja, 670 milhões (dados locais) estavam viajando e por isso tudo estava superpovoado e inflacionado para mais que o dobro do preço normal (hotéis, por exemplo). Por isso, se pretende conhecer Hong Kong e não gosta de multidão, evite a primeira semana de outubro a todo custo. Por outro lado, tivemos a “sorte” de presenciar as festividades que envolvem o dia 1º de outubro, dia da proclamação da República Popular da China por Mao Tsé-tung. Na Baía Victória, onde há todos os dias um show de luzes e laser a partir das 20h, participamos de pelo menos 25 minutos de queima de fogos de artifício, ao estilo chinês: grandioso e impecável.
Hong Kong é uma metrópole para se caminhar, passear sem rumo. Tem sim milhões de lugares indicados para visitar, mas somente alguns acho que realmente valem a pena planejar, de resto, deixe-se levar. O ponto altíssimo para mim, e que me fez gostar de Hong Kong foi pegar o teleférico Ngong Ping,maior da Ásia com 5,7 km e com uma paisagem deslumbrante, para ver o maior Buda sentado de bronze do mundo. Fica num vilarejo antigo, cheio de lojinhas para turistas, mas bem charmoso. Pra ficar sem ar! De quebra, na chegada do metro ou na saída tem um shopping outlet, o Citygate Outlets que supostamente teria barganhas, mas nem tudo é barato mesmo. É preciso vasculhar.
Outros dois lugares imperdíveis com vistas panorâmicas espetaculares são o The Peak, o mais bonito, principalmente para ir à noite quando o dia estiver claro (os dias costumam ser nublados, com uma neblina ou poluição mesmo) e o prédio mais alto de Hong Kong, o Sky 100 com uma vista de 360º da cidade. Não se anime a ver o sohw de luzes e laser lá de cima que o ângulo não é bom. Assista na avenida das estrelas, uma espécie de calçada da fama sem graça, mas com uma vista linda também da baía, e caminhe, caminhe, caminhe.
Pegamos um desses folders turísticos que oferecem diversas rotas para fazer a pé bem interessante. A que mais gostamos foi a “Central & Western District” que passa pelo Western Market, um antigo mercado de comida de 1906, depois segue pela Wing Lok Street até a Des Voeux Road West para ver as lojas que vendem todo tipo de frutos do mar secos. Em seguida seguimos para a Hollywood Road cheia de antiquários e o Man Mo Temple, templo taoísta mais importante de Hong Kong construído em 1847 para os deuses da literatura. Interessante ver que os devotos acendem incensos como oferenda e o altar é cheio de flores e frutas.
Seguindo a caminhada, chegamos na escada rolante de 800 metros que sobe o morro atravessando ruas e bares. Lá de cima percorremos o charmoso bairro SoHo, cheio de restaurantes do mundo e lojas. Caros, mas atraentes (parece que esse e outros tours estão disponíveis para baixar na App Store e no Android Market).
Outro passeio interessante é pelo Yau Ma Tei & Mong Kok, mas esteja preparado para a multidão chinesa. No caminho estão mercados de flores, peixes, o Ladies’ Market (mercado de rua com tudo que imaginar desde capas de celular, roupas, bolsas, meias, brinquedos…), o Night Market (restaurantes e bares para experimentar a comida local) e o Jade Market (Jade é uma pedra verde sagrada para os chineses, que estão por todas as joalherias da cidade e mercados de rua- verdadeiras e muitas falsas, óbvio, o problema é saber diferenciar).
Em Mong Kok é possível achar muitas lojas de eletrônicos e câmeras fotográficas, mas as maiores lojas tem os mesmo preços em todo o resto o mundo, ou com uma diferença muito pequena. As maiores lojas aqui são a Fortress e a Broadway.
Se tiver tempo, vale pegar um ônibus e passear para o outro lado da ilha de Hong Kong até o Stanley Market, outro mercado de rua, mas que fica na costa da praia com um calçadão gostoso. O trajeto até lá é lindo e um bom tour.
Para quem gosta de parques de diversão, lá estão dois parques que parecem atraentes, como a Disneyland , que dispensa comentários e o Ocean Park , uma espécie de aquário e parque de diversões.
Dicas
Nós brasileiros costumamos achar que a China é o paraíso das compras, porque a final de contas, a maioria do que temos e vestimos são “Made in China”, mas pelo menos aqui em Hong Kong é lenda. As coisas não são tão baratas assim. Roupas por exemplo, são caras. Eletrônicos podem ter preços bons ou similares aos EUA. Aqui existem espalhados pela cidade os “Computers Centre” que são aglomerados de lojas e lojinhas num prédio de 3 ou 4 andares que vendem de tudo. Fomos a alguns em Monk Kog e ficamos na dúvida se os produtos eram verdadeiros ou falsos, mas compramos duas lentes para a máquina com preços bons. Uma delas está com problema, mas quero acreditar que foi azar! Depois fomos ao Wan Chai Computer Centre(130-138 Hennessy Road), melhor, mais organizado e mais agradável para comprar e pesquisar. Compramos um Tablet perfeito, original com preço muito bom, melhor que nos EUA. Não se esqueça de negociar bastante e pesquise, porque pode ter muita diferença de uma para outra.
Onde ficar
Os preços dos hotéis em Hong Kong são exorbitantes. Chegamos no meio do maior feriado Chinês e por isso estavam ainda mais caros. Acabamos pegando uma promoção no Booking.com e ficamos num hotel quatro estrelas na Ilha de Hong Kong que saiu barato, mas tivemos que ficar mais noites a espera do visto e mudamos de hotel para uma espelunca 10x pior e mais cara. Dizem que ficar no continente, em Kowloon, é mais barato e o transporte para se locomover é bom e barato.
Visto
A nossa ideia era ficar 4 dias necessários para fazer o visto, passear e tocar para China. Mas, como não checamos antes e nem percebemos o dia que estávamos viajando (sexta-feira) véspera de feriado (pior é impossível), logicamente a embaixada estava fechada nos próximos 4 dias e teríamos que ficar mais 3, pelos menos, para pegar o visto. (Chegamos na sexta final do dia, pois o fuso da Europa é de 6 horas. O feriado começava no sábado até o domingo seguinte, mas o serviço público fechou “somente” na segunda e terça.) A solução foi ir até uma agência de viagens (bem ao lado da saída do metrô de Wan Chai pertinho da Wan Chai Computer Centre) que faz vistos com rapidez e pagar caro por isso, muito caro (não gosto nem de lembrar). Fizemos as contas do tempo que ficaríamos na cidade sem nada mais para fazer mais as diárias caras que pagaríamos e então achamos a melhor essa a melhor opção. Os vistos ficaram prontos em dois dias.
Transporte do/para o aeroporto
O Aeroporto de Hong Kong é um espetáculo, uma cidade, com internet gratuita (raridade nos aeroportos por aí). O trem que sai de lá chama Airport Express e te leva para os principais pontos de conexão. É a forma mais rápida, prática e barata. Além de oferecer o serviço de “In Town Check in”, que quando você está indo para o aeroporto com o trem você pode despachar as malas na estação central com até 90 minutos de antecedência.
Octopus Card
Este cartão pode ser comprado já no desembarque no Aeroporto e você coloca créditos, principalmente para usar no transporte público, mas muitas lojas de conveniência, supermercados e restaurantes aceitam para pagar as compras. À medida que precisa você vai carregando nas máquinas espalhadas por toda cidade. É uma mão na roda. Ao devolver o cartão você recebe o dinheiro pago como depósito e o saldo restante.
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Nosso próximo destino: China – Chengdu!
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