Chegar em Pequim foi um alívio para o meu estresse chinês. Tá bom, pode ser que eu esteja exagerando um pouco, para quem está de férias, por um mês ou alguns dias na China, mas como temos caminhado esse mundão todo, a China realmente foi impactante pra mim. Pequim não foi diferente, mas no bom sentido. Uma cidade bonita, moderna, não tão caótica quanto as outras, LIMPA, banheiros públicos LIMPOS e pasmem, com papel, por todas as esquinas, porém com o buraco no chão (rs)! A essas alturas já estou craque na arte de fazer xixi em pé e as pernas durinhas! Metrô perfeito, sinalização em inglês e chineses se esforçando pra falar inglês. Realmente dá para se dizer que os jogos olímpicos de 2008, o mais caro da história, fizeram muito bem pra cidade e nós turistas agradecemos!
Saímos de Pingyao de ônibus até uma cidade perto chamada Tàiyuán para então pegarmos um trem de alta velocidade para Pequim. Ao chegar à estação gigante, nos batemos um pouco para descobrir como íamos para o hotel. Era noite, não achamos o ônibus indicado e então pegamos um taxi. Turista é turista em qualquer lugar do mundo e já chegamos à conclusão que gente tentando ganhar dinheiro em cima da gente tem em todos os países, um menos e outros mais, mais em todos lugares do mundo. Logicamente que mesmo com os olhos puxados que temos não passamos por chineses e nossa cara entrega: “TURISTA”!!!. Os taxistas que paramos não queriam usar o taxímetro e sim negociar um valor exorbitante (muitos turistas recém chegados não têm noção de quanto vale um taxi e então aceitam o preço). A dica aqui é que isso vai acontecer sempre, mas não aceite e persista na busca de um taxista honesto. Eles existem e mais cedo ou mais tarde vão parar e usar o taxímetro. Acabamos pegando um taxi com taxímetro e pagamos muito menos que eles queriam. Por isso, não desista!!!
Ficamos num hotel bom achado nas promoções do booking.com chamado Grand Hotel Du Palais Rouge. Ele fica num hutong charmozinho e bem agradável pertinho do metrô. Hutong é o nome dado para bairros antigos semifechados tradicionais chineses, com um estilo arquitetônico próprio e casas em volta de um pátio. Existem alguns ainda espalhados pela cidade, mas parece que o governo está destruindo esses bairros para promover uma urbanização nas áreas. Muitos não tem saneamento básico e correm sérios riscos de incêndio.
Começamos nossa trilha por Pequim pertinho do hotel, no templo budista chamado Lama Temple, o único que fomos em Pequim, porque depois de 20 dias na China, já visitamos muitos, muitos templos e são todos muito bonitos, mas muito parecidos. Esse parece que é o mais interessante da cidade. É o mais famoso fora do território tibetano, de 1744, e foi residência de um imperador, hoje é um lugar de culto muito visitado.
Depois do templo, pegamos o metrô (o melhor é usar um cartão que pode ser carregado sempre para evitar ter que comprar toda vez um passe. Se você optar por comprar avulso, preste atenção que o ticket só vale para a estação onde foi comprado.) e fomos para a histórica Praça da Paz Celestial, a Tiananmén. É a maior praça pública do mundo com 440.000 m2, cercada de edifícios de estilo soviético datados de 1950. O local é símbolo da China e foi palco de momentos históricos como a proclamação da República Popular da China no ano de 1949, por Mao Zedong e o protesto a favor da democracia de 1989, quando os tanques e o exército dispersaram milhares de jovens estudantes insatisfeitos com o partido comunista. Na praça está também o mausoléu de Mao, presidente que morreu em 1976 e que tem seu corpo mumificado em uma urna de cristal ali. Em alguns dias da semana o corpo é apresentado ao público que faz filas para vê-lo. Os chineses idolatram Mao. A entrada da Cidade Proibida fica no final da praça (vou contar mais adiante).
Golpe Chinês…
Uma dica importante aqui e que lemos no Lonely Planet é prestar muita atenção e cuidar com a aproximação de mulheres simpáticas que se dizem professoras de inglês. Uma dupla de jovens aproximou-se de nós e começaram a conversar com um ótimo inglês. No decorrer da conversa nos disseram ser “professoras” e nos convidaram para tomar alguma cosia em algum hutong perto dali e assim fazer novas amizades e tal. Para os desavisados, parece uma abordagem normal, não muito comum, mas… Fique atento, elas fazem isso e te levam para algum bar ou galeria de arte onde a conta vem bem salgada. As novas amigas com certeza ganham comissão e está tudo arranjado para extorquir dinheiro de turista.
Ao redor dos pontos turísticos também está cheio de “guias de viagem” que te dão um cartão com a logomarca da “China International Travel Service”oferecendo City Tour, tour para a Grande Muralha e shows à noite. O preço parece tentador, pois inclui transporte, guia, entradas etc., mas não caia nessa. Acontece que muitas vezes eles dizem que vão te levar para a parte x da muralha e te levam para a y, no caminho param em duzentas fábricas e mercados para te empurrar souvenirs e ganhar comissão, fora o tempo em cada lugar que é curto e você não tem controle. Não dê papo também para os simpáticos chineses que te abordam na rua querendo conversa e perguntando da onde são, para onde vão… com toda certeza vão te oferecer ajuda, ou uma nova amizade tudo para tirar um pouco do seu dinheiro contado.
Espetinhos bizarros
De Tiananmén seguimos caminhando pelos Hutongs ao redor até a Wangfujing Dajie, uma rua só para pedestres com um shopping ao lado do outro e onde está, numa viela que cruza, um mercado de comida e souvenirs que você vai encontrar aqueles espetinhos bizarros de cobra, cavalo marinho, grilos, escorpião, pombas e tudo que imaginar. Se não for se arriscar a experimentar, vale o passeio. O Seba experimentou escorpião e disse estar gostoso “parece batata chips!” Posso imaginar! Muito corajoso esse menino!
Amigos russos
Já devo ter escrito mil vezes em outros posts, mas não canso de repetir que uma das melhores coisas de viajar assim é fazer novos amigos, conhecer pessoas de todos os cantos do mundo, trocar ideia e experiências. Não tem preço! Pra que isso aconteça é preciso entrar no espírito viajante, deixar de ser bicho do mato, sair da toca, sorrir, puxar conversa, ser gentil e prestar atenção ao redor. Em um instante, pronto, você tem um novo amigo e quem sabe de quebra companhia pra dividir o tour da tarde ou dos próximos dois dias. Saiba que existe muita gente, muito mochileiro viajando sozinho e esse é o espírito, novos amigos, novas experiências. Nós não estamos sozinhos, mas tenho um relações públicas do meu lado (pensava que era eu) que não perde tempo e quando penso em conversar com alguém ele já está lá organizando nossa saída juntos. Foi esse o clima que conhecemos, no café da manhã, um casal de jovens recém-casados em lua de mel da Russia. Sergey e Arina. Eles nos convidaram para sentar na mesma mesa, pois estavam todas lotadas. Era o que precisava para termos dois novos e queridos amigos. Passamos os próximos dois dias juntos, muuuito bom. Agora resta saber quando vamos recebê-los no Brasil e quando vamos conhecer a Rússia! Não é uma delícia?
A estonteante Grande Muralha
A partir de Pequim é possível visitar algumas partes da Grande Muralha. Como comentei ali em cima, muitos “guias de turismo” oferecem passeios pra lá, mas nós resolvemos escapar deles e fomos nós 4 de ônibus mesmo.
A muralha começou a ser construída há mais de 2 mil anos quando a China foi unificada durante a dinastia Qin. A intenção era ligar as muralhas independentes de cada reino para evitar os saques das tribos nômades. Mais de cem mil trabalhadores foram utilizados na construção e muitos eram presos políticos. Diz a lenda que a muralha em partes cumpriu seu papel, mas que fracassou como linha de defesa impenetrável já que muitos dos seus defensores eram corruptos.
De Pequim existem alguns trechos da Muralha que podem ser visitados, como o mais turístico chamado Badaling. Depois estão os menos cheios que são Mutianyu (que foi o que escolhemos), Simatai e Jinshanling. Depois há os mais distantes e bem menos turísticos que são os trechos de Huanghua ou Jiankou.
O melhor a fazer é escolher qual a parte da Muralha que se quer ir e então perguntar no hotel como ir, por conta própria. Mutianyu (com 3 km de extensão), para onde fomos, fica há 90 km de Pequim e pegamos um ônibus até o distrito de Huairou. De lá se pega outro micro ônibus até a Muralha. Conosco aconteceu que o ajudante do motorista do primeiro ônibus nos aofreceu de levar no carro dele pelo mesmo preço do micro ônibus. Aceitamos e então acabamos indo de carro de Huairou até Mutianyu. Ele nos esperou lá por horas e depois nos trouxe de volta até a parada do ônibus para Pequim. Acabou que deu tudo certo.
A Muralha é linda, a paisagem estonteante. Caminhamos por um bom trecho entre subidas e descidas, grandes escadarias e torres. Não estava muito cheio e em alguns lugares era possível tirar foto sem nenhum turista! A Grande Muralha é uma das atrações que faz a China valer a pena! Vá de tênis e com roupa confortável. Para subir, pegamos o teleférico e para descer um emocionante tobogã, desses típicos das Olimpíadas de inverno!
Nós somos as atrações!
Acho que também já comentei como nós, ocidentais e ainda por cima loiros ou “ruivos” somos atrações para os chineses. Olham-nos com admiração, encantados. Volta e meia, caminhando pela rua ou nos pontos turísticos mesmo, nos elogiam ou simplesmente param ao nosso lado e sem cerimônia posam para foto. Alguns mais educados se animavam e pediam. No mínimo divertido. Quando eu estava sem paciência, olhava bem sério e dizia, “oi!?” Sem contar a curiosidade deles para o que estávamos fazendo. Muitas vezes vi um carão chino na minha frente olhando o que eu estava fazendo no tablet. Engraçado!
Templo do Céu
Ao voltar da Muralha no meio da tarde fomos conhecer o Templo do Céu, um dos parques mais visitados da China e sem dúvida, muito bonito. Os parques chineses costumam ter um clima, um ambiente diferenciado, agradáveis, mas esse em especial transmite uma paz muito grande. Está cercado por muros altos é todo simétrico, plano, com um bosque impecável, cheio de ciprestes milenares, gramados perfeitos, pessoas fazendo Tai Chi, malabarismos, idosos se exercitando e jogando carta. Um ótimo lugar para fugir do agitado mundo chinês e observar como funciona a famosa sabedoria oriental.
No dia seguinte saímos os 4 para conhecer o parque olímpico e o estádio “Ninho de Pássaro” e depois dar uma volta para “compras” já que a o casal não estava de mochila e sim em lua de mel. Arina estava sedenta pelas quinquilharias chinesas e eu claro que adorei a ideia de sair com uma mulher muito mais consumista que eu, nem que fosse só para ficar olhando! Me realizei vendo-a comprar! Demos uma volta por alguns mercados, mas só vimos porcarias e falsificações. Foi então que mudamos a rota e fomos para o Yaer Hutong, um lugar charmoso, ao redor do Lago Houhai, cheio de lojinhas interessantes de arte chinesa, bares e restaurantes. Nesse meio tempo o Seba estava com frebre e foi para o hotel dormir. O cansaço bateu!
Passamos dois dias intensos nos aventurando numa comunicação em inglês não muito fluente para ambas as partes, mas que resultou em uma ótima e gostosa nova amizade. No dia seguinte, quando foram embora, já sentíamos falta!
A Cidade Proibida
Enfim, nós tínhamos mais um dia e ainda nos faltava conhecer a imperdível Cidade Proibida. A recomendação é que se reserve um dia inteiro ou pelo menos meio dia. Estava abarrotada de chineses mal educados pra variar e eu já com limite zero de paciência. Mas, mesmo sem paciência e louca para deixar a China não pude deixar de apreciar esse maior complexo de prédios, palácios e jardins antigos, e melhor conservados, da China. São mais de mil edifícios cercados por muralhas vermelhas gigantes. Chama-se “Cidade Proibida” porque sua entrada esteve proibida por 500 anos quando duas dinastias de imperadores viveram lá. Foi quase impossível ver bem os palácios e tronos por dentro, pois a entrada não é permitida, apenas olha de fora da porta. Dá pra imaginar quantos chineses de acotovelavam na luta por um espaço para tirar foto? Imagina como eu estava alegre? Agora é engraçado lembrar!
Saímos quase que correndo da Cidade Proibida porque eu estava prestes a matar o próximo chino que me empurrasse e então atravessamos a rua e sem querer vimos um outro parque lindo, aparentemente tranquilo e em paz, como os parques chineses costumam ser. Era o Jingshan Park, que olhando para o alto via-se um mirante espetacular com vista p ara toda a Cidade Proibida. Encaramos o parque para relaxar um pouco e apreciar a estonteante vista da linda cidade de Pequim. Diz a lenda que o parque forma uma barreira feng shui para proteger a Cidade Proibida dos maus espíritos e foi criado com a terra retirada de uma escavação de um poço.
Considerações sobre a China
Nesses 20 dias de China tivemos a oportunidade de vivenciar a cultura chinesa intensamente. Quem leu os outros posts sabe que não sou fã da china ou dos chineses, que passei por momentos de muita raiva e indignação, mas que não me arrependo em momento algum de ter vindo.
Recomendo muito e tudo que vimos aqui foi enriquecedor, desde os pandas gigantes, o exército de terracota, a grande muralha, a antiga cidade de Pingyao até as comidas exóticas, o estilo de vida. Os chineses são bastante reservados, pragmáticos, conservadores, um tanto quanto egocêntricos, pode-se dizer assim e não há dúvida que se deparar com pessoas assim, para nós latinos, requer bastante evolução espiritual, um alto grau de tolerância e muita paciência, mas que o resultado final acaba sendo um grande aprendizado.
Muitas peças começam a se encaixar a respeito da personalidade do chinês quando se começa a entender a cultura, a história do país e suas políticas. No país mais populoso do mundo, com cerca de 1,339 bilhão de habitantes, em um crescimento desenfreado, onde as famílias só podem ter um filho, porque eles vão respeitar filas, pessoas? Nunca aprenderam a dividir, sempre foram o centro. E o nível de competitividade num país que cresce 10% ao ano, como fica?
Durante esse tempo aqui comecei a questionar como e baseado em que a China se prepara para ser a maior potência do mundo? Exportando produtos de baixo custo? Atraindo grandes empresas para investir no país e ao mesmo tempo explorar a mão de obra barata? A que custo para o meio ambiente? E para as pessoas, em que condições trabalham? Como vivem? Como moram? O que eu vi aqui é um caos, tanto para o meio ambiente quanto para qualidade de vida. Milhões de pessoas foram tiradas da pobreza com a revolução econômica do país, imagino que antes fosse pior, mas vale a reflexão de onde esse crescimento todo vai parar e a custo do quê, de quem?
Será que já não temos exemplos suficientes do que acontece quando se quer crescer desenfreadamente e ficar cada vez mais rico? A China, com um governo comunista, é um dos países com maior desigualdade social do mundo. É uma nação em desenvolvimento, mas tem um longo caminho a percorrer para ser a grande potência.
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Nosso próximo destino: Tailândia!
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