A imagem do Licancabur descortinando o dia fica gravada para sempre, pelo menos é o que eu gostaria. Conhecido como “vulcão do povo” tem aquela forma perfeita do nosso imaginário e ainda uma lenda de disputa amorosa.
A história inclui uma punição, um castigo pela ambição humana. Quem sabe apenas uma maneira de os antigos colocarem ordem na casa, até hoje as festas são proibidas em San Pedro de Atacama, pequeno oásis no deserto. Fui conhecer.
Vai entender porque alguém pode proibir dançar. A explicação está em que o alvará para abrir um “cabaré” na cidade é muito caro, nenhum bar tem, o jeitinho são as festas clandestinas, que já ganharam fama. Outra lenda do povo Inca no território chileno é da entrega de oferendas em seu pico acreditando que deixaria o vulcão quieto. Mas Atacama não é apenas isso.
Desfiladeiros, esculturas de pedras, planícies de sal, vales, crateras, lagos, gêiseres, dunas e vulcões, claro, fazem do Atacama um lugar que é preciso conhecer. Não existe nada igual.
O local com o céu mais estrelado do mundo por ser um dos menos iluminados e estava na minha lista há muito tempo, porém sempre trocado pelas necessidades do ofício e por um certo comodismo. As viagens de aventura são sempre postergadas.
O clima do imenso deserto é de oscilações térmicas entre o dia e a noite, mas está longe de ser um problema. O visitante nem lembrará disso. O silêncio do local inspira reflexões, como se depois de subir ao cume de uma montanha, e isso é possível aos mais aventureiros, você mergulhasse no seu interior.
Viagem de conhecimento em todos os sentidos, o deserto acumula superlativos – é mais árido do mundo – e abriga o Observatório Internacional Alma, com 66 antenas móveis, e seus vulcões ativos, Lascar é o principal, no seu topo pode ser vista a nuvem que não é nuvem e sim fumaça, o sinal de que está vivo.
Foram apenas quatro passeios, existem muito mais, que pode incluir acordar de madrugada, desaconselhável para os notívagos, e passar muito frio para ver o nascer do sol, ou banhos em águas termais. De bicicleta ou a cavalo, a pé ou de carro, você escolhe como ir.
Se hospedado em uma das grandes redes, como Tierra Atacama e Explora, alguns passeios estão incluídos na diária, alimentação e bebidas também. O viajante terá ainda guias superexperientes e conforto. Se a escolha for por um hotel menor ou hostel a pequena vila irá lhe socorrer no agendamento.
Na principal rua de San Pedro de Atacama, a Caracoles, o comércio é de bares, restaurantes, agências de turismo e lojas de artesanato – vá com lugar sobrando na mala.
Algumas regras, alguns sacrifícios e você está apto a testemunhar a emoção, por exemplo, de encontrar flamingos, ou andar 40 quilômetros sem estrada dentro da cratera de um vulcão extinto, nada além de pedras, terra, esculturas do tempo e do vento. Se não estiver tocando Pink Floyd durante a viagem, peça ao motorista. Puro êxtase.
No hotel tudo está em sintonia com o lugar, desde a arquitetura e ambientação, até a comida e o atendimento. Carinho e atenção também por conta da Nomad Roots/Teresa Perez que organizam a viagem para você não ter nenhuma preocupação.
Por conta dos horários dos voos, o ideal é passar uma noite em Santiago, que é uma cidade que merece ser visitada de vez em quando e nem precisa ser por conta das inúmeras vinícolas. Da moderna capital do Chile você pega um voo até Calama, de pouco mais de uma hora. Depois mais uma hora de carro até San Pedro de Atacama. Dependendo de como organizou sua viagem, uma taça de champanhe estará lhe esperando.
O Salar de Tara fica a 140 quilômetros de San Pedro de Atacama perto da fronteira com a Argentina e a Bolívia – prepare-se para um rally – vale o esforço.
O Licancabur é parte da Cordilheira dos Andes e fica a mais de 4.800 metros do nível do mar. É a vista da janela de todos os quartos do Tierra Atacama. Está próximo ao povoado de San Pedro de Atacama, cerca de 30 quilômetros.
O Tierra Atacama Hotel & SPA surpreende o hóspede já na chegada com seus muros de adobe. A entrada é pelo antigo curral de toros, passagem dos tropeiros que passavam com o gado da Argentina até o porto de Antofagasta.
O contato com a natureza e a energia do deserto parecem nocautear o visitante com sua força bruta. Fica o desejo e a certeza de querer voltar.
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