No fim de semana, fui ao teatro sem sair de casa. Quer saber? Foi incrível. Recomendo do SescAoVivo, ou #emcasacomsesc, “O Homem que queria ser livro”, com Darson Ribeiro, texto de Flávio de Souza. Então, porque não uma degustação de vinhos on-line. Aceitei o convite. Nunca pensei que um dia isso aconteceria.
Recebi os vinhos em casa, as fichas técnicas e participei da prova. Quer dizer, provei e escutei. “A tarefa de narrar é dura”, ainda mais ao lado de especialistas. A frase é de Shakespeare, que anda pela minha casa.
Debruçada na obra do poeta, sigo a orientação de Polônio, personagem de Hamlet, “escuta mais e fala menos”. Só abri a boca para os vinhos.
Posso usar a desculpa da conexão que também não ajudou, mas devo confessar que ando assim ressabiada e encolhida. Efeito da quarentena e quem sabe de tanto olhar os mariscos fechados em concha que tenho comprado da Trapiche Pescados – frescos toda semana.
Aliás, tentando me salvar do fiasco de me manter calada, insisti pelo chat em saber quais comidas fariam companhia aos vinhos. Se o GO UP Sauvignon Blanc vai bem com ostras, a aposta inovadora da TDP Wines, “vinhos leves, fáceis de beber e rótulos instagramáveis”, deve acompanhar os bivalves, pensei e fui testar. Funcionou.
Li “rótulos instagramáveis”? Deu um arrepio, mas depois entendi, é um apelo para o consumidor jovem, que começa a se interessar pela bebida. Realmente, o rótulo é um atrativo. Parece que a escolha pela arte atrai millenials e a geração Y ou aqueles com pouco conhecimento sobre a bebida. Eu, na categoria etária distante dessas gerações me fingi de morta mais uma vez, brinco que às vezes são as imagens que chamam minha atenção. Uma provocação.
Prova
Foram quase três horas entre degustação, explicações e tempo para os comentários.
Começamos com o GO UP. O vinho que é produzido no Chile do parágrafo anterior. O simpático enólogo Tiago Dal Pizzol foi o primeiro a falar. Ele contou sobre os desafios da profissão e sua trajetória. Mostrou que quer surpreender os consumidores e não tem medo de ousar nas escolhas. Gostei. A vida é mesmo cheia de desafios.
O vinho foi muito elogiado, assim como a iniciativa de produzir na região de Curicó, pouco explorada. Uns goles e fui longe imaginando uma tarde ensolarada e uma piscina de borda infinita. Fresco e com acidez marcada pode entrar para a minha lista. R$ 59,42 no site da Total Vinhos.
Portugal
A Vinícola LusoVini deu a sequência com o bem feito, aromático e um pouco complexo Pedra Cancela Seleção do Enólogo, safra 2016, produzido na região do Dão, em Portugal. Com o método tradicional de pisa das uvas obteve 96 pontos na Decanter World Wine Awards e passa seis meses em barricas de carvalho francês.
“Nosso vinho mais vendido”, disse a enóloga Sônia Martins. Acredito. Indicado para carnes vermelhas, mas também bacalhau e queijos de massa mole, foi perfeito com a lasanha bolonhesa do jantar de ontem. A lembrança de que um “arroz de pato” cairia bem ao seu lado juntou água na boca. Um belo exemplar do Dão com taninos macios, aprecio. Sônia rememorou um pouco dos seus 20 anos de experiência e explicou a evolução dos vinhos da região que costumavam levar a fama de “rústicos” e hoje conquistam um público eclético. R$ 82,37 no site da Total Vinhos.
Argentina
O Malbec com toda a sua estrutura ficou para o final. Los Cardones estava representado pelo seu jovem proprietário, Nicolás Saavedra, que até pouco tempo não se imaginava tocando uma vinícola e apaixonado por vinhos. Não duvidei, é um mundo que desperta paixões mesmo.
Os tons escuros do céu já se mostravam quando o Anko entrou nas taças. Vem dos vinhedos de altitude da região de Salta, na Argentina, e na linguagem dos indígenas do local quer dizer “água em altura”.
O vinho tem bom corpo e sem a doçura tradicional dos exemplares dessa uva. Senti os aromas florais sugeridos na apresentação. Passa seis meses em barricas de carvalho francês e ganhou 90 pontos no guia Descorchados. R$ 109,65 no site da Total Vinhos.
Ainda não tomei depois da prova, talvez hoje à noite com o risoto de codorna ele seja convocado, as sugestões dadas para acompanhamento foram ossobuco e embutidos.
Festival de Vinhos Portugueses
O leitor talvez estranhe o fato de eu ainda estar provando um vinho aberto na semana passada, data da degustação, explico que é graças ao Coravin. O aparelho que carrego na bolsa é como uma Enomatic portátil, com uma agulha fininha permite tirar o vinho sem sacar a rolha, prolongando a vida do líquido.
Termino o longo post – o encontro virtual durou quase três horas – contando que tenho outra oportunidade digital. A ViniPortugal e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) enviaram convite para o meeting zoom quando acontecerá o Festival de Vinhos Portugueses, de 23 de outubro até 1º de novembro deste ano. Opa! Estarei lá.
E por fim, lembrei de um jantar com degustação há muitos anos quando o especialista e colunista do Bom Gourmet Guilherme Rodrigues passou para mim a tarefa de provar o vinho antes de ser servido. Gelei. O pânico foi tão grande que não tive forças para negar a incumbência. Sobrevivi, afinal, saber se o vinho tem algum defeito, oxidado e bouchonnè eu dou conta. Bebendo é que aprendemos.
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