Foi um choque. Por isso, demorei para escrever sobre a notícia do fechamento do Fäviken. Magnus Nilsson sai do restaurante e consequentemente decreta seu fim, os sócios e proprietários da fazenda, sede da casa, disseram que sem ele não existirá mais. Na verdade, confesso o motivo da decepção, eu queria repetir a experiência lá. A vontade estava alojada em algum canto de mim.
Um longo post do chef no Instagram, começando com “dear friends” e uma reportagem no LA Times tentam explicar o inexplicável. É de cortar o coração. Além de chef inspirador, a maneira como conduziu o término de um ciclo de quase 11 anos de sucesso mostra porque é admirado. O texto fala do sonho que foi criar o Fäviken, um projeto especial, e como foi incrível o tempo ali. Tive a honra de testemunhar.
Isolado de tudo. Acho que foi o que me atraiu. Claro, os comentários sobre o lugar de experts em que confio, a comida e o trabalho do jovem chef foram decisivos. “Você tem certeza de que precisamos ir até lá”, escutei. Sim. Fui firme. Nunca duvidei que seria uma experiência que guardaria até o final dos dias. Foi mesmo. Não sabia nem como chegaria na pequena ilha ao Norte da Suécia, Jarpen. Planejei sete meses antes.
O fechamento
Ele conta que foi uma decisão muito difícil, que acredita ser a acertada. Eu tenho minhas dúvidas. No dia 14 de dezembro de 2019 será a última noite ali. Depois vai descansar da pressão que é comandar um restaurante. Fechará as portas definitivamente, partindo para outra experiência que ele diz não saber exatamente qual. Até o momento, imagina cuidar de um pomar. Nós esperamos que volte com novidades. Quer um tempo para a família, para pescar, refletir e descansar. Ok.
A decisão veio a público depois que as reservas do restaurante de 12 lugares estavam completas, isso para não motivar a ida ao lugar apenas pela notícia do fechamento. O desejo é de que o último ano seja um ano como outro qualquer. Gostaria também que as pessoas fossem lá para experimentar o que Fäviken oferece, não porque vai fechar. Também não gostaria que as pessoas lamentassem. Não resisti, desculpe.
Agradece a todos que foram comer e compartilharam a experiência. A única entrevista concedida, apenas para o jornal LA Times, está no perfil dele do Instagram. Pede para os amigos da imprensa não especularem sobre os próximos passos. Com desculpas, claro, despede-se esperando que respeitem sua decisão. Revela-se. Por isso tem uma legião de admiradores.
Magnus Nilsson
Entrevistei o chef formado pela escola francesa. Foi parar Fäviken meio por acaso. Decepcionou-se quando retornou a Estocolmo depois dos estudos, os ingredientes eram muito diferentes, decidiu que não poderia cozinhar. Buscou outra formação: sommelier, era o que faltava em Fäviken. De volta às origens, pois nasceu ali perto, não demorou muito para tomar conta da cozinha, na época o restaurante não tinha movimento.
Começou cozinhando sozinho, tinha uma mesa comunitária com oito lugares. Coube-lhe resgatar as tradições ancestrais de preparo dos alimentos, fazer conservas, guardar a caça e os vegetais para os tempos frios, daí surgiu o diferencial do lugar. Ovas, fatias de ganso defumado, peles desidratadas, lagostins, ruibarbo fermentado, peixe salgado e guardado no porão por meses, musgos e algas, ovo de pato. Impossível esquecer, entre tantos pratos, o tartar de coração de boi com tutano, o osso sendo cerrado no salão e preparado na hora, sabores únicos de um verdadeiro banquete ancestral.
Planta o que precisa lá, a terra é boa. Sente-se a genuína paixão pelo ofício. “Real food”, comida de verdade, sem pretensões de impressionar, em menu único, explica. Ele também queria entrar na lista dos 50 Best Restaurants. Conseguiu, sua estreia foi já no 34º. A casa lotou e está lotada até dezembro de 2019.
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