Não estive na entrega do The World’s 50 Best Restaurants em Bilbao, que aconteceu no dia 19 de junho. Falo isso com tristeza, primeiro porque é uma oportunidade de ver chefs que admiro, depois porque a cerimônia foi em um dos melhores lugares do mundo quando falamos em comida, o País Basco, e, claro, acompanhar a entrega do chamado “Oscar da Gastronomia”, além de dar a notícia em primeira mão. O prêmio existe desde 2002 e fazem parte do júri mil pessoas.
Triste também porque nosso principal chef entre os 50 melhores, o mestre Alex Atala, não participa mais da festa apesar de estar no ranking, ele ficou na 30ª posição neste ano. Li que foi o único a não comparecer.
Estava envolvida com a pós-graduação em Chef de Cuisine Nacional e Internacional da Universidade Positivo, justifico assim a ausência do blog nas últimas semanas.
Dito isso, vamos aos comentários, porque todo mundo, mesmo quem diz que não se interessa, já deve ter visto a lista de 2018. Em todo o caso, o link está aqui.
2018
Em 2018, poucas novidades e quase sempre é assim. Destaco a subida do Mirazur, em Menton, na França; e Gaggan, em Bangcoc, na Tailândia. Arpége, em Paris, que está entre os tops 10 agora; Da América do Sul dois nomes: Central e Maido, ambos em Lima, no Peru, que continuam no grupo principal.
Neste ano, vale falar que entraram mais asiáticos na lista. E, repito, quase não existe diferença entra os primeiros classificados, todos são muitos bons, alguns se destacam mais do que outros, ou conseguem influenciar mais, é só isso. Conheço a maioria.
Receber a festa de premiação ajuda, aposto na subida do El Celler de Can Roca (segundo em 2018 e primeiro em 2013 e 2015) e do Asador Etxebarri no próximo ano. São dois restaurantes incríveis.
Costumo dizer que surpreender numa primeira visita é até fácil quando se tem competência, repetir o impacto outras vezes é bem mais complicado e esses dois são verdadeiros campeões. Já estive pelo menos três vezes neles para comprovar.
Número um
Osteria Francescana, em Módena, do chef Massimo Botura, subiu ao topo mais uma vez, feito que aconteceu em 2016. Com certeza contou o trabalho com os Refettorios, os restaurantes sociais espalhados pelo mundo, no Brasil inclusive, no Rio de Janeiro em parceria com a Gastromotiva.
Vale lembrar que, em Curitiba, a Gastromotiva funciona na Universidade Positivo.
O discurso do chef é “tornar visível o invisível”. Fala na revolução para lutar contra o desperdício e a fome. Faz eco.
O prêmio pode gerar polêmica, como todo ranking, já comento sobre a nova premiação que vai surgir, mas é preciso destacar que a prática adotada por chefs nos melhores restaurantes, que vem sendo amplamente divulgada, como o uso de produtos locais, métodos e receitas tradicionais, o respeito às estações, a valorização do produtor, influencia e se espalha por estabelecimentos no mundo todo, o que é muito positivo.
Mais brasileiros
Na lista que vai até a 100ª posição entram o Maní (78), de Helena Rizzo, que já frequenta o ranking, e o carioca Lasai (100), de Rafa Costa e Silva. E todos comemoram a entrada da A Casa do Porco (79), de Jefferson Rueda, um sucesso por aqui.
Estrearam também Enigma (95), de Albert Adrià, em Barcelona; SingleThread (91), na Califórnia, eleito também o mais promissor; e Leo (99), o primeiro colombiano, que muito dos votantes conheceram ano passado quando a cerimônia do 50 Best América Latina foi em Bogotá. Funciona receber a premiação.
É a terceira vez que o prêmio principal é entregue fora de Londres, a revista Restaurant é inglesa, e, como mencionei, isso influencia quem entra nos primeiros lugares ou até ajuda a entrar na lista, com certeza.
Gastón Acurio foi homenageado pelo conjunto da obra e ninguém discute o seu papel na promoção da gastronomia peruana. Tudo começou com ele.
Clare Smyth, a chef do Core, em Londres, levou o prêmio de melhor chef mulher. Discurso forte, falou na necessidade de mais igualdade de gêneros nos eventos e premiações e de uma indústria mais humana.
Duas coisas chamaram a atenção ainda no seu pronunciamento: “Com autoconfiança, trabalho duro e determinação, tudo é possível”, disse; e o fato de ela falar que é perfeccionista, procura ser a melhor que pode. É isso. Europeus e escandinavos, dentre outros, de modo geral, trabalham muito para serem bons no que fazem. É o segredo.
Estranho apenas seu restaurante não estar na lista e o Atelier Crenn, da chef Dominique Crenn, que levou o prêmio em 2017, ter saído do ranking.
A Espanha é o país, entre os 23 relacionados, com mais colocações na lista e isso é muito justo.
Outros destaques
Disfrutar, em Barcelona, ficou com a “highest new entry”; Azurmendi, no País Basco, levou o título “the sustainable restaurante”; Cédric Grolet, Le Meurice, Paris, é o melhor confeiteiro; Dan Barber, de NY, foi a escolha dos chefs; Den, do Japão, “highest climber award”; a “art of hospitality” foi para o restaurante Geranium, na Dinamarca; e Single Thread, na Califórnia, “one to watch”.
Novo prêmio
A notícia estourou recentemente. A chef paranaense Manu Buffara estava na primeira reunião do grupo para discutir como seria a premiação. Ela é jurada e me contou alguns detalhes do World Restaurant Awards, que terá a primeira edição em 19 de fevereiro de 2019, em Paris.
A IMG, uma empresa da área de entretenimento, responsável pela Semana de Moda de Nova Iorque, entre outros eventos, foi convocada por dissidentes do 50 Best para lançar um o prêmio para a gastronomia. Vem com força.
O jornalista italiano Andrea Petrini e o inglês Joe Warwick são os curadores. O júri – 100 pessoas – será composto por jornalistas e chefs famosos, como Alex Atala, Massimo Bottura, Virgílio Martinez e Daniel Humm.
A intenção é ter uma premiação mais justa e fora dos padrões tradicionais, mas ainda não sabem como irá funcionar. Existem muitas dúvidas. Pelo menos não divulgaram nada ainda.
Pode aparecer, por exemplo, um prêmio para o “melhor restaurante no meio do nada”, como a jornalista Alê Forbes escreveu.
Quem sabe é a chance para a nossa chef Manu Buffara, que tem levado Curitiba e o seu trabalho para o mundo. Acho que ela ainda não retornou da Taste Londres e da parada em Lyon, onde esteve para cozinhar. Ela não tem parado e investe na carreira internacional.
Todas as fotos são de divulgação para a imprensa, acesso exclusivo pelo site do The World’s 50 Best Restaurants.