Dizem que até gravar Dookie – terceiro álbum na discografia do Green Day, responsável por jogar a banda no mundo das celebridades, Billie Joe Armstrong mal tinha dinheiro para comer e vivia emprestando grana de amigos para beber, usar drogas e manter a banda na ativa. Não sei se é verdade, mas serve para ilustrar a mudança pela qual passou o grupo. Dookie está longe de ser um dos meus discos preferidos e de encabeçar qualquer lista séria de grandes discos de rock.
Não entra na lista dos 20 melhores. Não entra nem na lista dos 20 melhores da década de 90.
Mas, convenhamos, era um disco divertido. Tinha toda aquela empolgação adolescente que deveria funcionar muito bem no palco. Lembro de ter visto na televisão algumas apresentações ao vivo do Green Day. Na época, as pessoas pareciam estar se divertindo, com as rodas de pogo e os stage dives. Billie Joe era bem mais magro e cantava sobre andanças a pé pela cidade, namoradas complicadas e benzina. Não era revolucioário, mas era bacana.
O sucessor “Insomniac” ia pelo mesmo caminho. Letras e arranjos simples. Bastante energia, uma pitada de pop. Tudo certo.
O Green Day continuou a lançar discos e eu parei de acompanhar a banda. Ouvia uma coisa ali e aqui, na internet e na MTV, e as novas músicas não pareciam muito melhores que “When I Come Around”. Fui questionando minha assumida indiferença com uma sequência de críticas boas e repetitivas quatro estrelinhas para os novos discos do grupo.
Com “American Idiot” a coisa ficou séria. Lembro de ter lido em algum lugar que aquele era o maior disco conceitual desde “Tommy” do The Who e que o Green Day havia tomado ares políticos. Cheguei até a ver Billie Joe cantando e dando entrevistas pelas grandes causas do nosso tempo com Bono (sempre ele).Escutei duas músicas e preferi me abster. Eu deveria estar sendo o chato da história.
Aí vem “21st Century Breakdown”, rapidamente lançado ao topo da parada americana com uma enxurrada de criticas construtivas: a prova de que o Green Day virou uma “banda adulta”, “uma ópera rock que segue o padrão de American Idiot”, um “petardo na sociedade americana”.
Abri meu coração e fui escutar. Pelo que entendi, a banda conta a história de um casal adolescente a perambular por um país decadente e próximo do colapso, adivinhem qual o país? Lógico. Os Estados Unidos da América.
Seria tudo muito bonito e eu estaria aqui comentando sobre a genialidade do Green Day se o disco não fosse muito chato. Pior. Não é que seja ruim (o que está longe de ser um defeito por si só). O disco é morno e morno para uma banda de rock, meu amigo, é um atestado de suicídio. Mostre os hits do disco, como “Last night on Earth” e “Know your enemy” para sua avô quase surda e ela vai dizer que achou tudo bonito. O Green Day virou um Semisonic com menos arranjos. Falta conteúdo para ser a dita banda adulta que eles querem ser. Faltam hormônios para ser a banda punk teenager de outrora. Nem quente e nem frio. Só um monte de acordes bem gravados emendados uns nos outros. Um grande candidato ao disco mais chato do ano. Billie Joe era mais legal quando passava fome.
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