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Radiohead, a não-banda da década de 90
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Pegando carona na passagem do Radiohead pelo Brasil, prestigioso leitor do blog me pergunta. Se eu coloquei o Nirvana e o Oasis como representantes maiores da música dos anos 90, onde afinal entraria o Radiohead?
Reitero aqui. Nirvana e Oasis foram as bandas representantivas da década de 90. Englobaram todo um discurso feito ateriormente, reciclaram um monte de sons e foram emulados por um montão de bandas dali em diante. E o Radiohead? Vamos a eles. O Radiohead não é representativo da década de 90, porque não é, a rigor, representativo de década alguma. E isso não é necessariamente ruim. Bem pensado é um elogio.
Analisemos a banda. Pablo Honey, escute, tem ecos do grunge de Kurt Cobain. Tudo muito inglês, é claro. Mais lamúria do que raiva, em suma. The Bends é meio Oasis em certo sentido. Ou, vá lá, é o disco que o Coldplay adoraria fazer, mas não tem capacidade para gravar. Nada de novo até então.
E aí que o Radiohead dá seu pulo do gato. OK Computer, o terceiro disco da banda, é o disco de pop perfeito (um próximo texto discutirá esse termo tão execrado que é o pop. O pessoal do metal, um gênero que muito aprecio aliás, quase regurgita com a palavra. Erro primário. É pop desde a Mariah Carey até o Kreator. É pop tudo aquilo que se insere na lógica do mercado e pode ser consumido. Nem o canto gregoriano escapa, portanto. Se você vende você é pop, ponto final. A diferença está na qualidade sonora, na sua relação com a música e com o público..etc…etc…)

Divulgação

Desculpe pelo grande parênteses e voltemos ao Ok Computer, o disco do pop perfeito. Mais do que um disco feito de grandes e desesperadamente lindas canções, o OK Computer é um disco de alerta. Traz em si um recado. Como se Thom Yorke dissesse: “Olha, as músicas são boas, pode cantar juntar. Mas, prepare-se. Não vou deixar tão barato. Dê adeus a sua zona de conforto.”
OK Computer indica uma guinada, é um grito, ainda que surdo, demonstra uma dor, em um ambiente aparentemente indolor. OK Computer mata ao mesmo tempo o grunge e o britpop e não deixa nada no lugar. Todas as bandas que queriam ser o Nirvana e o Oasis tinham ao menos uma fórmula a seguir. O Radiohead, ao chegar em Ok Computer, não deixa fórmula nenhuma. Não há como copiá-los. Não há diálogo com o que vinha sendo feito antes, ao menos não no sentido musical. Ok Computer é lançado em 97. Ele dialoga, reforma, ou contraria o que era produzido em 1997, seja Prodigy, Bush, Ofsspring ou Alanis Morissette?Não. Ok Computer é atemporal. Efeitos tecnológicos de gravação à parte, poderia ter saído em 68,77, 85 ou 2009. Não indica um diálogo com as bandas do “nosso tempo”, não gera uma fórmula e não cria descendentes diretos. Não é portanto, uma banda com cara da década de 90.

Respondi uma pergunta ( a relação do Radiohead com a cena musical dos anos 90) e não tenho a pretensão de depurar a banda em único texto. Até porque o mesmo raciocínio que atesta a não-relação OK Computer/década de 90 poderia, sei lá, mostrar que KID A não pertence à raça humana.

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