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Apesar de o mundo estar vivendo dias de alta tensão política neste fim de 2024 – incluindo a hipótese de escalada em conflitos como a invasão russa da Ucrânia –, e considerando que a realidade política e as relações internacionais interferem e direcionam as decisões econômicas, está aberta uma janela de oportunidades para os países emergentes darem um salto substancial rumo ao crescimento econômico. No caso do Brasil, a janela de oportunidade que se abre é bastante grande e capaz de propiciar robusta expansão no maior gargalo nacional, condicionado a que o país consiga entender a complexidade do cenário mundial e adotar as políticas e as medidas certas para a atração de investimentos.
O grande gargalo referido diz respeito ao tamanho e o grau de modernidade tecnológica da infraestrutura física do país. Tomando apenas os setores de transporte, energia, portos, aeroportos, armazenagem e telecomunicações, a necessidade de investimentos em capital físico e tecnologia nesses setores para que o país possa se aproximar dos países desenvolvidos é estimada em torno de US$ 500 bilhões. Esse grande volume de dinheiro resulta da comparação entre a taxa de investimento necessária nos setores citados, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), e a taxa de investimentos efetivamente realizados.
Segundo estudos internacionais, há em torno de US$ 44 trilhões circulando pelo planeta em busca de oportunidades de investimentos na economia real
O Brasil tem enorme dificuldade para refazer concepções e mudar rumos e, quando o faz, geralmente as modificações são lentas e incompletas. Esse comportamento leva o país a desperdiçar oportunidades valiosas para promover o crescimento e melhorar as condições de bem-estar da população. Segundo estudos internacionais, há em torno de US$ 44 trilhões circulando pelo planeta em busca de oportunidades de investimentos na economia real, para financiar investimentos em infraestrutura geral e também capital físico vinculado à logística de comércio exterior.
Ainda que seja difícil estipular com precisão os valores monetários quando se trata de contas mundiais, a base inicial parte do PIB global medido pelo dólar PPC (paridade do poder de compra), que foi de US$ 105 trilhões em 2023, sendo que a taxa de investimento real sobre o PIB do mundo está em 26%, equivalente a US$ 27 trilhões. Esse valor se refere aos investimentos efetivados no ano, bem abaixo do valor de US$ 44 trilhões estimado como capital disponível para financiar investimentos. É importante ressaltar que, do total de US$ 105 trilhões de PIB mundial, as dez maiores economias do mundo respondem por US$ 75 trilhões, ou seja, 71% do total. Por conseguinte, essas dez maiores economias detêm a maior fatia do fluxo de capitais circulantes no planeta.
Historicamente, o capital estrangeiro privado busca participações em projetos empresariais privados, na agricultura, na indústria, no comércio e no setor de serviços em geral. Porém, nas décadas seguintes ao fim da Segunda Guerra Mundial, os setores de energia, telefonia, portos, aeroportos, transporte, finanças, seguros, educação e saúde tornaram-se alvos preferenciais de organismos internacionais de financiamento, a exemplo do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas também atraíram investidores estrangeiros privados em busca de projetos viáveis, com taxa interna de retorno superior à taxa de juros.
A janela de oportunidade atual está no volume de capital circulando pelo mundo. Resta saber se o Brasil conseguirá se preparar para atrair capitais estrangeiros em forma de investimento direto ou mesmo em empréstimos com juros reduzidos. O problema começa quando se sabe que a infraestrutura brasileira ainda é, em expressiva parte, propriedade do setor estatal, o marco regulatório do investimento estrangeiro não é de boa qualidade, o governo investe pouco e não avança no programa de privatizações, não conclui a reforma tributária, não oferece segurança jurídica e não tem ambiente institucional merecedor de alta confiança.
O Brasil tem um território enorme, que, se por um lado é um ativo de alto valor econômico, por outro lado impõe a necessidade de altos volumes de investimento para dotar o sistema econômico de infraestrutura física capaz de suportar elevadas taxas de crescimento. Considerando, também, que o Brasil não tem alto desempenho na produção de tecnologia e inovações quando se olha o ranking mundial, tem-se um quadro que recomenda melhorar o ambiente institucional e a segurança jurídica, e adotar política externa de bom relacionamento e parcerias com as dez maiores nações em termos de economia, ciência e tecnologia, sem que isso implique abandonar as relações com outras nações. Janelas de oportunidade significam exatamente isto: condições atuais favoráveis para aumentar o fluxo de capitais para dentro do país. Cabe ao país saber aproveitar ou não, sobretudo porque em algum momento as janelas se fecham.