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Está infestando as mídias, as ciências humanas e até as exatas. Se você acompanha meu trabalho nas redes sociais, e aqui na Gazeta do Povo, sabe minha posição: de maneira geral, não aprecio essa cultura politicamente correta, principalmente na minha área de formação: literatura e história.
Mas aqui gostaria de falar sobre as mídias de entretenimento e fazer uma ponderação: eu acho que tem muita gente vendo woke em tudo. O que você acha? Por exemplo, há alguns meses escrevi uma coluna sobre o novo jogo da franquia Assassin’s Creed que você poderá ler depois. Ora, esse jogo se baseia em eventos históricos reais, então não faz sentido mexer em algo historicamente cristalizado por questões de “cotas” no entretenimento.
Agora, temos outra polêmica nas mídias: o live action da famosa animação “Como treinar seu dragão.” O desenho é ambientado na era viking, pelo menos no trailer vemos o personagem principal se chamando de viking. E uma das personagens, que tem mexido com os sentimentos dos fãs, é Astrid.
No desenho animado ela é uma típica escandinava: loira de olhos azuis. Mas no live action será representada pela atriz Nico Parker, que tem traços genéticos bem misturados: pai branco e mãe negra. Essa alteração está incomodando muitos fãs do filme, que veem na escalação da atriz mais uma manifestação forçada da cultura woke.
E aqui tenho que discordar veemente: ora, não se trata de uma série histórica baseada em eventos históricos.
É um universo paralelo onde humanos treinam dragões e, como tal, não há qualquer necessidade de apego histórico ou étnico em relação à personagem
A Astrid não é a representação de um povo, não pertence geneticamente a nenhuma etnia: ela é uma criação de um grupo de artistas. Portanto, os artistas têm o direito de alterar e modificar essa personagem como bem entenderem. O próprio diretor disse que o live action não é uma cópia do desenho, ele sofreu alterações da versão original. Novamente, o personagem é da empresa.
Claro que o público também tem o direito de dizer que não gostou da alteração. Afinal, uma mídia de entretenimento é feita para o público. Claro que essa manifestação deve ser feita de forma ética e humana. Mesmo assim, o abuso do termo woke pode esvaziá-lo (veja o que está acontecendo com o termo fascismo nos últimos anos) e afastar as pessoas bem-intencionadas de uma luta que é real e política.
Em muitos casos, estaremos diante apenas de uma escolha artística, que pode ser intencionalmente inclusiva, e que mesmo assim pode ser muito bem-vinda.
Conteúdo editado por: Aline Menezes