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Monark mudou-se para os Estados Unidos no fim de setembro deste ano após virar alvo de Moraes e do ministro da Justiça, Flávio Dino
Monark mudou-se para os Estados Unidos no fim de setembro deste ano após virar alvo de Moraes e do ministro da Justiça, Flávio Dino| Foto: Arquivo pessoal/Monark

O ano começa com a arena digital pegando fogo, com os casos Mynd8 e Monark acontecendo ao mesmo tempo. A diferença de tratamento entre eles deve prolongar esse debate e atrair a atenção do cidadão comum. O influencer Monark teve seu canal removido ontem do Youtube. Segundo o aviso que consta da plataforma, ele teria infringido as regras de utilização. São muitas regras e não sabemos qual foi a regra desrespeitada nem qual foi o conteúdo que fez isso. O influencer diz não saber, o Youtube não revelou esse ponto específico.

Há pessoas, principalmente no meio liberal, que argumentam de forma simples. Youtube é uma empresa privada e pode decidir quem está ou não ali. No entanto, a maioria das pessoas contextualiza o fato em um cenário mais complexo, no qual Monark já foi alvo de uma série de medidas consideradas excessivas. Muita gente que não gosta do Monark nem concorda com ele fica apreensiva com as medidas contra ele, parece ser um caso único. Foram ações duras tanto por parte das plataformas quanto por parte do poder público.

Houve um tempo em que muita gente dizia que é só sair da internet, tudo some. Hoje sabemos que não.

É um rigor que contrasta com as consequências reais das ações de Monark. Existe um argumento de que ele teria atentado contra a democracia ou seria uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. Custa entender como. Aliás, custaria até mesmo entender como ele ameaçaria a gestão de um síndico de prédio.

Por outro lado, temos o caso da Mynd8 que continua candente e agora com a promessa de uma CPI na Câmara dos Deputados. Há também vários pedidos de parlamentares da oposição junto ao Ministério Público, STF e TSE. Não existe aqui nenhuma dúvida sobre consequências. São gravíssimas, trágicas, horrendas. Uma moça, Jéssica Canedo, tirou a própria vida depois de ser alvo de páginas de fofoca agenciadas pela Mynd8. Seria irresponsável fazer uma relação de causa e efeito, suicídios são fenômenos complexos. Cabe, no entanto, a pergunta: essa ação ajudou a preservar a saúde mental de Jéssica? Evidente que não.

Fica evidente algo que o humorista Danilo Gentili me disse há alguns anos em uma entrevista: não é o que se fala, é quem fala.

A agência Mynd8 primeiro fez um comunicado dizendo que não agencia a Choquei. Obviamente surgiram questionamentos. A origem das fake news foi outro perfil, Garoto do Blog, agenciado pela Mynd8. Outros perfis de fofoca agenciados também replicaram. Donos de vários deles foram ao Instagram da moça debochar quando ela tentou desmentir.

A agência emitiu outra nota. Diz que não determina o conteúdo exibido pelas páginas, alega que seus parceiros têm sido alvo de ações coordenadas de ódio e promete ações judiciais. É direito da empresa tentar se defender. A surpresa fica no contraste das ações do poder público e de plataformas. Impossível impedir que, diante dos fatos, a discussão seja capturada pela polarização política.

Fica evidente algo que o humorista Danilo Gentili me disse há alguns anos em uma entrevista: não é o que se fala, é quem fala. Se for Monark, a reação é do máximo rigor. Se for a Mynd8, todo benefício da dúvida é dado sem economia.

O universo digital é novo, ainda estamos aprendendo como nos comportar. É um grande desafio descobrir o conjunto de regras ideal.

O universo digital é novo, ainda estamos aprendendo como nos comportar. É um grande desafio descobrir o conjunto de regras ideal. No mundo todo há gente competente trabalhando nisso, mas ainda não temos uma resposta pronta. Saber o que não queremos é mais fácil. O duplo padrão é algo que deve ser rejeitado e o cidadão comum tem deixado isso muito claro.

Existe uma forma mais emocional de ver a questão e mais difícil de regrar, a diferença ideológica. Caímos sistematicamente naquele tipo de argumento de que “todo mundo sabe” quem são os favorecidos e quem são os prejudicados. Seria, no entanto, um desafio fazer regras legais com base nisso, que pode ser visto de forma subjetiva. É mais objetivo fazer regras com base em métodos e interesses econômicos. Ações coordenadas de perfis são permitidas? Se essas ações favorecem interesses econômicos de determinadas pessoas em detrimento de outras, são lícitas ou há conflitos?

Houve um tempo em que muita gente dizia que é só sair da internet, tudo some. Hoje sabemos que não. Ações no mundo digital têm impacto real em ganhos financeiros, prestígio e poder. Afetam até quem não tem perfil em redes sociais ou não é ativo neles, como a jovem Jéssica Canedo. Nos resta a união para descobrir o que queremos. Um desafio e tanto. A internet pode ser uma forma democrática de expor opiniões e tendências. Mas, por ser controlada por poucos players e controlável por governos, também pode ser muito efetiva na perseguição e na censura.

O duplo padrão sempre será uma realidade se acreditarmos que nosso grupo pode tudo porque é bom e nossos adversários não podem nada porque são maus. Quantos de nós serão capazes de ver algo além disso e lutar por justiça e liberdade? Espero que muitos.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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