Nenhum setor da economia brasileira vai tão bem quanto o agronegócio. Ilha de prosperidade em um país em recessão, o campo bate recordes anuais de produção, sustenta o comércio exterior, gera empregos e dribla as crises nacionais, apresentando taxas sustentáveis de crescimento há três anos. Na última quinta-feira (3), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou a força do segmento, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 3,8% em 2015, o da agropecuária saltou 1,8%.
Agronegócio vai continuar crescendo
A crise brasileira está longe do fim. Projeções do mercado e agências de risco apontam para uma retração do PIB entre 3,5% e 4% em 2016. No entanto, mesmo com um cenário negativo, ninguém dúvida da capacidade do agronegócio ser novamente a exceção.
Segundo o economista e analista de mercado Camilo Motter, o cenário é propício para crescimento. “O mercado vai continuar estimulado, principalmente pelo câmbio, o que pode aumentar o volume de exportações. O agronegócio brasileiro sempre foi muito competitivo, basta ver o quanto o setor foi crucial para o superávit da balança comercial”, afirma.
Responsável por apenas 5,2% do PIB, a agropecuária sozinha não será capaz de segurar o país. “A participação [da agropecuária no PIB] é muito pequena e não surtirá muito efeito no resultado final, mas os prospectos para o setor são positivos, a safra será recorde, o real vai continuar desvalorizado e a demanda por alimentos, embora os mercados como China e Estados Unidos estejam desacelerando, será mantida”, diz Vitor Andrioli, analista da consultoria FCStone.
4,3%
a 4,4% de retração do PIB. Esse seria o tombo da economia brasileira em 2015 caso a contribuição do campo fosse nula, estima o economista Lucas Dezordi, da Universidade Positivo.
Da geração de renda a criação de empregos, há uma série de fatores que dão vantagem ao campo. A boa remuneração do mercado externo e a demanda crescente por alimentos proveniente de países como a China abriram margem para um salto de 107% na produção de grãos em quinze anos, rompendo a barreira dos 200 milhões de toneladas. No mesmo período as exportações do campo dispararam 406%, chegando a US$ 75 bilhões.
Confira os números do agronegócio no Brasil
O quadro garante uma injeção na veia da balança comercial nacional, bem como desdobramentos em fatores como a geração de emprego e o próprio PIB. “O agronegócio tem um papel multiplicador na economia, influenciando toda a cadeia produtiva, desde o produtor até o consumidor final. Ela gerou novos empregos e minimizou os impactos negativos de uma economia em recessão”, pontua o analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. Em 2015, a agropecuária foi o único setor que registrou saldo positivo de empregos, de acordo com dados do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Mais do que demanda, o campo foi favorecido por avanços tecnológicos que ampliaram a produtividade. Como complemento, o setor viveu um reforço na injeção de subsídios para custeio da safra, comercialização e investimentos. Entre as safras 2000/01 e 2015/16 o montante de recursos que compõem o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) subiu de R$ 8 bilhões para R$ 187,8 bilhões. O aporte abriu margem para a construção de novas agroindústrias e para reforço na infraestrutura. “O crédito rural realmente foi importante para impulsionar o campo. No entanto, hoje, se compararmos com outros setores, somos o que menos utiliza. O agronegócio recebe pouca ajuda do governo, por isso temos mais produtividade e competitividade”, diz o superintendente técnico da Confederação Nacional de Agricultura, Bruno Lucchi.
Mesmo crescendo num ano de pessimismo, o agro não ficou imune ao enfraquecimento da economia. Tirando o desempenho negativo da agropecuária em 2012 (-3,1%), por seca; e 2009 (-3,7%), por crise econômica; 2015 só foi melhor que 1997 (+0,8%) e 2005 (+1,1%), em uma série histórica iniciada em 1996. “Isso leva a conclusão de que o agronegócio, apesar de apresentar desempenho positivo em 2015, não passou ileso das consequências da crise”, disse a economista Tânia Moreira Alberti, da Federação de Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep), em relatório.
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