Nesta quinta-feira (9), o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, divulga seu relatório mensal com as projeções de colheita atualizadas para o país. Com 90% da área de soja já colhida (ritmo dentro da média) e 70% dos trabalhos concluídos nas lavouras de milho (um atraso de 13%), o documento é considerado decisivo, pois praticamente encerra o período de revisão nas estimativas de safra.
Isso num momento em que a neve - que tradicionalmente vem em dezembro - chegou mais cedo a alguns estados, deixando sob o gelo 4,55 milhões de hectares cultivados com milho. O cálculo foi feito com base nos mapas climáticos norte-americanos e no que ainda resta para colher nos estados afetados, que ficam próximos à fronteira com o Canadá, como Minnesota e Dakota do Norte. Isso representa 13,5% da área total semeada nos EUA ou praticamente a extensão dedicada ao cereal no Mato Grosso, maior produtor do Brasil.
Materiais de alta qualidade têm sido essenciais para suportar as adversidades climáticas, apontam os analistas. Diretor de mercado da Associação de Sojicultores de Minnesota, Kim Nill explica que a neve antecipada não prejudicou a soja, pois as áreas mais ao norte do país já haviam sido colhidas. “Apesar de um número expressivo de lavouras de milho ainda no campo, os produtores com os quais eu conversei esperam colher em breve. Eles só estavam esperando por causa da alta umidade dos grãos”, conta Nill. “No entanto, sabem que o frio atual, que tem baixa umidade relativa, vai, na verdade, acelerar o processo natural de secagem dos grãos. E o congelamento do solo facilita o trabalho com o maquinário pesado. Mesmo que esperem mais um mês, a produtividade por hectare não é impactada de forma significativa.” De modo geral, há o risco de queda de produtividade, mas apenas para quem plantou de forma muito tardia.
Relatório
Apesar de a colheita norte-americana estar na reta final, ainda existe dúvida quanto ao tamanho real desta safra, sobretudo pelos efeitos climáticos que têm dado o tom da campanha 2017/18. Seca, chuva em excesso e agora até neve: os produtores dos EUA viram de tudo neste ano. “Tivemos um mês sem chuva no início do plantio, entre maio e junho, aí pensamos: ‘pronto, não tem mais safra’”, diz Tarso Veloso. E o que veio, documentado inclusive nos relatórios do USDA, foi o oposto. “Dos últimos 15 anos, 2017 foi o segundo mais seco, perdeu só para 2012. O mercado tinha certeza de que haveria quebra, mas veio o USDA aumentando as produtividades. E por incrível que pareça, elas estão muito melhores do que quase todo mundo achava, tanto para soja quanto para o milho.”
O quadro atual
O mercado dá como certo que os rendimentos médios da soja e do milho – estimados hoje em 3.330 kg/hectare e 10.780 kg/hectare, respectivamente - serão menores do que na temporada passada, quando o clima praticamente perfeito impulsionou as plantações. No entanto, mesmo que uma nova redução seja esperada para a soja em relação à previsão atual por causa de chuvas nas últimas semanas, os resultados ainda são considerados surpreendentes. “Temos alguns produtores que estão com produtividades entre as maiores que já tiveram. Dependendo do estado, você tem alguns problemas, mas nos grandes produtores elas estão boas. Provavelmente, ficaremos no Top 5 de produtividade”, afirma Veloso. “Todo mundo está surpreso.”
No caso do milho, a tendência é de que o USDA até aumente sua estimativa para o rendimento nos campos. Com neve e tudo. Significa que a colheita só não será recorde mais uma vez porque a área de plantio caiu 4,2%, ficando em 33,64 milhões de hectares. “Ainda há 30% da área a ser colhida, mas os relatos dos produtores até agora mostram que a colheita está maior do que eles esperavam e aparentemente um pouco maior do que o USDA pensou”, salienta o analista sênior de mercado da Price Futures Group, de Chicago, Jack Scoville.
Agora, as cotações no mercado internacional dependem do percentual de redução ou de aumento que o USDA irá trazer. A variação é esperada (mas dentro de certos limites). “Estamos finalizando a colheita da soja, então espero um aumento para as posições de janeiro, fechando em até US$ 10,25/bushel depois do relatório, a menos que o USDA apareça com uma colheita muito maior, aí então poderíamos cair para US$ 9,40/bushel novamente”, frisa Scoville. “Para o milho, eu não venderia agora. Pode-se passar de US$ 3,70/bushel em algumas semanas, com o rally pós-colheita, aí poderíamos aproveitar melhor a demanda internacional.”