| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O Brasil está em posição mediana no panorama da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) sobre perdas e desperdício na América Latina, mas apresenta boas práticas, como as centrais de abastecimento (ceasas) e bancos de alimentos, que fortalecem e integram a atuação das unidades de segurança alimentar e nutricional. O grande problema pela frente, segundo disse à Agência Brasil o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, é que o país ainda tem entre 10% e 30% de alimentos desperdiçados desde a colheita até o consumidor, chegando a 40% em alguns casos.

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“É ao longo da cadeia que acontecem distintas porcentagens [de desperdícios]”, afirmou Bojanic, que participou do seminário Sem Desperdício – Diálogos Brasil e União Europeia, promovido hoje (31) no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) pela FAO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a organização não governamental WWF-Brasil. O seminário reuniu especialistas da Dinamarca, Espanha, França, Holanda e Suécia, além de pesquisadores brasileiros e representantes do varejo e indústria nacionais.

Alan Bojanic disse que experiências internacionais bem-sucedidas podem ser adotadas no Brasil para que haja redução substantiva dessas perdas. “Porque não é só uma questão ética, mas também tem uma dimensão ambiental muito forte, [como] as emissões de gases de efeito estufa muito grandes dos alimentos que são desperdiçados. Tem uma questão financeira, econômica, social”.

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Exemplos

Segundo o representante da FAO no Brasil, as campanhas de comunicação bem financiadas e de londo prazo existentes na França, com a meta de mudar a atitude dos consumidores, poderiam ser adaptadas ao Brasil. Esse marketing objetiva mostrar à população que o país está enfrentando um problema muito grande e, ao mesmo tempo, como podemos ir mudando o comportamento para tornar realidade a redução do desperdício de alimentos, indicou.

Da Espanha, citou a questão legislativa como exemplo exitoso a ser copiado, em termos de acordos firmados entre a sociedade civil e os governos. Destacou que o seminário está sendo também uma ótima oportunidade de mostrar para os estrangeiros as boas experiências brasileiras que podem ser exportadas, entre as quais os bancos de alimentos, cuja eficiência e qualidade não existe em nenhum outro país da América Latina.

Bojanic considerou muito interessante a experiência que vem sendo desenvolvida pela Embrapa no sentido de desenvolver embalagens que protejam e aumentem a vida útil dos alimentos. “As embalagens estão no centro da discussão”, garantiu. Nesse sentido, salientou a questão da tecnologia para produção de produtos de maior durabilidade, além dos segmentos de transporte e distribuição.

Aprimoramento

Observou a necessidade de aprimoramento da regulamentação das perdas ao longo da cadeia produtiva, desde a produção até o consumo, e da aprovação de projetos de lei pelo Congresso para orientar políticas públicas que venham a ser feitas. Ressaltou que o problema é tão grande que serão precisos maiores esforços e investimentos para diminuir as perdas que acontecem nas estradas. “O problema não é fácil. É uma combinação de mudança de atitudes com grandes investimentos, em alguns casos. Em outros casos, são investimentos menores, mas têm que ser feitos”.

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Para isso, disse ser preciso uma boa legislação que incentive o crédito, a adoção de novas tecnologias e a mudança de hábitos, além de articular os interesses do setor privado da indústria de alimentos, da distribuição e dos supermercados com os interesses dos consumidores e da sociedade em termos gerais. Na avaliação de Bojanic, a articulação de atores é um tema central nessa empreitada.

O seminário integra projeto aprovado pela plataforma Diálogos Setoriais, parceria estratégica entre União Europeia e Brasil para favorecer o intercâmbio de conhecimentos, experiências e melhores práticas sobre temas de interesse mútuo, informou a assessoria de imprensa do evento. O projeto, com duração de um ano, prevê a contratação de um consultor externo para conduzir um estudo quantitativo sobre desperdício de alimentos no Brasil, com foco no consumo das famílias.