O café está tão valorizado que, além de servir de chamariz para pequenos assaltantes ou para quadrilhas especializadas, também tem despertado a atenção de entidades filantrópicas e servido como uma moeda de troca para a compra de máquinas e implementos agrícolas.
Na região de Franca (a 400 km de SP), um dos polos cafeeiros do país, o hospital psiquiátrico Allan Kardec desenvolve uma campanha na qual pretende receber mais de cem sacas de café como doação.
Se a meta for cumprida, isso significará, na cotação atual, R$ 50 mil a mais nos cofres da instituição, que enfrenta dificuldades financeiras e chegou até a atrasar salários.
No último ano, quando a campanha também foi desenvolvida, o hospital conseguiu amealhar cerca de 70 sacas.
Quando as doações forem todas recebidas, o hospital venderá o produto e usará o dinheiro em seu custeio e no pagamento de servidores.
“Também é possível que o produtor doe o café e o deixe depositado num armazém, que é mais seguro, e só nos comunique. Quando o armazém vender, repassará o dinheiro para o hospital”, disse o cafeicultor Wanderley Cintra Ferreira, presidente do hospital Allan Kardec.
No sul de Minas Gerais, uma feira agrícola de uma cooperativa de cafeicultores, realizada no primeiro semestre, teve ao menos 80% das vendas pagas pelos produtores rurais por meio de operações com sacas de café.
Negócios
O pagamento de equipamentos agrícolas com a produção do campo é chamado de Barter e ocorre há décadas no meio rural, mas, com a cultura num bom momento em relação a outras atividades, essa modalidade teve alta entre os produtores.
A estimativa da Cooxupé (cooperativa que organizou a feira) é que os negócios fechados atingiram R$ 139,2 milhões, 16% a mais que a edição do ano passado.
Além de pagar com a produção, o cafeicultor ainda conseguiu dividir o valor da compra em três safras --uma parcela agora, em setembro, e as demais no mesmo mês de 2017 e 2018.
O produtor Adalberto Araújo, que tem produção anual estimada em mil sacas -- R$ 500 mil brutos, conforme a cotação atual--, comprou cerca de R$ 20 mil em implementos, ou 40 sacas, a serem pagos nessas condições.
“Com o parcelamento e o pagamento feito a partir do próprio café que a gente tem, fica mais fácil comprar. Assim não fico dependendo de como está a cotação no dia, não fico tendo de fazer contas para o momento certo de comprar”, disse o produtor.
Receptador
Presidente da Cooxupé, Carlos Paulino disse que a procura dos criminosos pelo café se explica pelo valor que os ladrões podem obter em comparação a roubos de cargas de outras culturas.
“O café não está com um preço excepcional, mas está com preço bom. Um saco de milho gira em torno de R$ 40 ou R$ 50, dependendo da região, enquanto o café passa de R$ 500. E deve ter algum receptador pagando bem. Café não tem carimbo de origem. Saiu de uma mão, chegou à outra, acabou”, disse.
O país, segundo dados do Ministério da Agricultura, manteve em 2015 sua posição de principal produtor e exportador mundial de café, além de ser o segundo maior consumidor.