Conforme muda o hábito do brasileiro, aumentam as oportunidades de negócio para os produtores, em doses bem maiores que um “cafezinho de sala de espera”.
O consumo de cafés especiais – ou café gourmet – deve chegar a 16 mil toneladas e praticamente triplicar em cinco anos, até 2019, conforme uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). E isso somente no segmento de cápsulas, carro-chefe do setor. “Em 2016, o consumo total de café no Brasil foi de 21 milhões de sacas, com participação de 4% de cafés especiais. Até 2019, esse índice deve chegar a 6% e, em uma avaliação pessoal, alcançar 10% do consumo total nos próximos dez anos, somando as cápsulas e os pacotes de café em grão ou moído”, analisa o diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz.
É um café de qualidade, mais trabalhoso e caro de se produzir, mas que compensa “no balcão”: enquanto a saca de 60 kg do grão tradicional (commodity) remunera o agricultor em R$ 60 (tirando a diferença entre preço e custo), o lucro com o café gourmet pode chegar a R$1,3 mil por saca, ou seja, 20 vezes mais ou 2.000%.
“É uma questão de reeducação, de enxergar o nicho”, diz o cafeicultor Evilásio Shigueaki Mori, de Cambira, no norte do Paraná. Recentemente, ele participou de um leilão promovido pela Abic e vendeu um lote de seis sacas por R$ 12 mil. “Se colhermos no estágio pleno, produzimos uma bebida de excelente qualidade. Nosso café não perde em nada para o de outros países”, acrescenta, lembrando o café colombiano, tido como o melhor do mundo.
Novos mercados
Na fazenda que foi fundada pelo avô – japonês “legítimo” – há mais de 30 anos, Evilásio dedica 25 hectares ao cultivo do grão. Das 700 sacas produzidas por ano, cerca de 10% são de café gourmet. “O especial é uma das partes do commodity. A diferença é que os melhores grãos são colhidos separadamente, porque amadurecem no pé em diferentes épocas por causa do clima”, explica. “Mas acredito que, com uma ampliação de estrutura, podemos atingir 30% de café especial. Só precisamos melhorar a nossa comercialização, para estimular mais pessoas. Nesse sentido, Minas Gerais e Espírito Santo estão mais avançados”, complementa.
É o que ele e mais 40 produtores da região pretendem aprimorar, em parceria com uma cafeteria de Curitiba. Há pouco mais de um ano, o grupo criou o selo “Red Foot” (o tradicional “Pé Vermelho” paranaense, em inglês). “Formulamos um protocolo de produção para um grão entrar em nossos cafés especiais. Com isso, estamos incentivando outros bares aqui no Brasil e buscando mercados no exterior para dar vazão à produção”, conta o barista Leo Moço, proprietário da cafeteria e da marca Café do Moço.
Uma demanda que existe e não para de crescer. “Para dar um exemplo, em nossa antiga loja vendíamos 70 cafés por dia. Depois da ampliação, há menos de um ano, passamos a vender 220. E isso na mesma rua, então não é uma questão de ponto comercial”, salienta o barista.
Indústria se articula
De olho nessa fatia de mercado, que em 2016, em plena crise, cresceu 15,7% com os cafés de cápsula, segundo a Abic, a café Utam, que tem fábricas em Ribeirão Preto (SP) e Piumhi (MG), fez um investimento de R$ 2 milhões em equipamentos e capacitação dos funcionários. “O investimento eleva a capacidade produtiva em 40%, passando para 420 toneladas mensais no segmento gourmet”, frisa a diretora-executiva, Ana Carolina Soares de Carvalho. “O Brasil hoje vive o que podemos chamar de quarta onda do consumo de café. Já passamos pela época do consumo massivo, das experiências fora de casa e com os cafés artesanais. Agora estamos na fase em que é necessário se diferenciar pela qualidade, que é o que nosso consumidor está buscando e está disposto a pagar um pouco mais por isto”, completa a diretora.
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