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Possibilidade do Brasil importar café pela primeira vez na história divide opiniões

Os estoques de robusta do Brasil, primeiro produtor e exportador mundial de café, são de 2,2 milhões de sacas de 60 kg, segundo estimativas governamentais. | BRUNNO COVELLO/Gazeta do Povo
Os estoques de robusta do Brasil, primeiro produtor e exportador mundial de café, são de 2,2 milhões de sacas de 60 kg, segundo estimativas governamentais. (Foto: BRUNNO COVELLO/Gazeta do Povo)

Pela primeira vez em sua história, o Brasil poderá importar café robusta devido à grave seca na principal região produtora desta variedade. Mas essa possibilidade não agradou em nada aos produtores e obrigou o governo a suspender a autorização de compra.

Os estoques de robusta do Brasil, primeiro produtor e exportador mundial de café, são de 2,2 milhões de sacas de 60 kg, segundo estimativas governamentais. Uma quantidade insuficiente para os fabricantes de café solúvel, que reclamam há semanas a autorização de importação.

Mas os produtores de robusta colocam em dúvida essas cifras, assegurando que possuem um estoque suficiente para responder à demanda, ainda que as colheitas tenham elevado substancialmente os preços dessa variedade.

“Oitenta por cento de nossa produção é exportada e, para garantir nossa posição, precisamos de matéria-prima. As exportações de café solúvel brasileiro caíram 35% em comparação a janeiro de 2016, o pior resultado em 15 anos. A importação de café robusta é indispensável”, afirmou Aguinaldo de Lima, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria do Café Solúvel (Abics).

As autoridades brasileiras cederam em um primeiro momento a esta demanda, ao autorizar na terça-feira passada a importação de um milhão de sacas de grãos verdes do Vietnã - líder mundial de robusta - reduzindo de 10% a 2% as tarifas impostas sobre essa variedade.

Mas os produtores reclamaram e o presidente Michel Temer decidiu, no dia seguinte, suspender a ordem para “analisar a situação com os órgãos competentes”.

A Confederação Nacional de Agricultura (CNA) celebrou a vitória de “uma etapa importante na defesa do agro, um setor que gera emprego, renda e contribui decisivamente para o desenvolvimento do país” e pediu que os legisladores “continuem trabalhando para que a importação de café seja suspensa em caráter permanente”.

Luta frente a seca

Os cafeicultores do Espírito Santo, primeira região produtora de robusta no país, bloquearam estradas e ativaram os representantes do agronegócio no Congresso.

Os agricultores colocam em dúvida a estimativa oficial dos estoques e asseguram que, na verdade, existem 4 milhões de sacas, o que seria suficiente para responder à demanda da indústria brasileira de café solúvel, que usa uma mistura de robusta e arábica.

“Podemos demonstrar que temos estoques suficientes e, por isso, estamos preparando uma série de recursos judiciais para anular qualquer autorização de importação”, afirmou Julio Rocha, presidente da Federação Agropecuária do Espirito Santo (FAES).

Pelo segundo ano consecutivo, esta região sofre uma grave seca, que reduziu em 28,5% a produção de robusta entre 2015 e 2016, o que fez com que os preços dessa variedade no mercado interno alcançassem um nível recorde de 552 reais por saca de 60 kg em 14 de novembro passado.

Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo.

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