Os efeitos do fenômeno climático El Niño e a desvalorização do real frente ao dólar tem sido protagonistas para definir as cotações das principais commodities agrícolas no mercado internacional. Estudo realizado pela consultoria FC Stone aponta que da soja a cana de açúcar, vários setores têm ponderado os dois fatores na definição dos preços de venda. O quadro impacta principalmente os Estados Unidos, que enfrentam excesso de chuva no cinturão produtor de grãos.
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Soja
Para a analista de soja da consultoria, Natalia Orlovicin, o clima dos próximos meses será decisivo na manutenção da produtividade da soja em um patamar relativamente alto. A previsão é de que a ocorrência do El Niño -- provocado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico -- seja favorável ao desenvolvimento da safra da oleaginosa, trazendo chuvas adequadas e temperaturas mais amenas durante julho e agosto nos Estados Unidos. “Essa incerteza, porém, ainda pode trazer maior suporte e volatilidade aos preços, como ocorre nesta época”, avalia Natalia.
No território norte-americano, as chuvas recentes têm gerado uma umidade excessiva do solo em parte do cinturão produtor de grãos (Corn Belt), com alguns pontos de alagamento, podendo resultar em aumento da incidência de doenças, colocando as produtividades em cheque. “O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos vem reduzindo as condições da safra dos Estados Unidos a cada semana e os preços na Bolsa de Chicago reagiram, encontrando suporte nas questões climáticas”, explica a analista Ana Luiza Lodi.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira (02) o agrometeorologista da Somar, Marco Antonio dos Santos, destacou que há previsão de chuvas para as regiões produtoras do Meio-Oeste, Sudeste e Leste dos Estados Unidos. “Assim, as condições continuarão desfavoráveis ao desenvolvimento das lavouras, já que há previsão de que essas chuvas se estendam até meados da semana que vem”, salientou. O especialista aponta ainda que as lavouras devem ter redução produtividade, “já que tanto a chuva quanto os vários dias consecutivos de céu nublado irão reduzir as taxas fotossintéticas e consequentemente reduzir os potenciais produtivos das plantas”, acrescentou.
Cana
No Brasil, o foco climático também está na ocorrência das chuvas, que pode atrapalhar a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul (principalmente a partir de setembro) e no ATR médio, que vem apresentando queda devido principalmente à floração dos canaviais, indica a consultoria.
Em seu último relatório quinzenal, divulgado no final de junho, a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica) apontou que até o dia 16 do mês passado haviam menos usinas em operação no Centro-Sul: eram 264 unidades, contra 271 no mesmo período de 2014. O diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, salientou na ocasião que “a moagem na safra 2015/2016 ainda continua inferior àquela observada no último ano e as condições climáticas nos próximos meses serão fundamentais para determinar o ritmo de processamento e o número final de moagem da atual safra.”
Dólar
Outro fator que deverá ser protagonista nos próximos meses é a evolução do dólar. De acordo com a analista de câmbio da FCStone, Lígia Heise, os produtores brasileiros deverão continuar enfrentando preços mais caros na aquisição de insumos importados, como os fertilizantes, em função do patamar mais elevado da taxa de câmbio.
Nesta quarta-feira (01) a moeda norte-americana registrou alta após duas quedas seguidas e depois de ter fechado junho num patamar menor do que o do final de maio. A alta foi sustentada pelo comportamento da moeda no exterior, após dados fortes do mercado de trabalho norte-americano. O dólar balcão teve valorização de 1,13%, a R$ 3,1440, na máxima. Na mínima, marcou R$ 3,098. No ano até hoje, tem alta acumulada em 18,42%. No mercado futuro, a moeda para agosto marcava ganho de 1,19%, a R$ 3,1765.
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