Herbert Bartz concedeu entrevista ao Agronegócio da Gazeta do Povo na ExpoLondrina| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

No início dos anos 70 o agricultor Herbert Bartz, de Rolândia, no Paraná, quebrava a cabeça para inventar uma máquina que pudesse colocar a semente no solo diretamente sobre a palhada do cultivo anterior, sem precisar revolver a terra. Eram tempos de erosão desenfreada, em que bastava uma chuva um pouco mais intensa para carrear sementes e toneladas de solo para os rios, causando prejuízos incalculáveis e retrabalho.

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“Depois de me frustrar com o equipamento que construí na propriedade, decidi que era melhor ir direto à fonte. Comprei passagem em dez prestações na Varig e fui até a Feira de Hannover, na Alemanha. Mas não encontrei nada lá”, recorda-se Bartz.

Da Alemanha, Bartz seguiu para a Inglaterra onde foi apresentado às primeiras experiências com plantio direto naquele país. Nova decepção, porque a técnica envolvia a queima da palha, o que ia diretamente contra a convicção do produtor quanto à necessidade de proteger a matéria orgânica. Já desanimado, Bartz seguiu para o Kentucky, nos Estados Unidos, onde tinha visita agendada à propriedade do agricultor Harry Young Jr.

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“Ele já fazia plantio direto há dez anos. Lá vi a plantadeira cortando o capim e já colocando o adubo e a semente. Ao lado tinha uma lavoura na altura dos joelhos e outra emergindo. Ver esse potencial fantástico, para mim, foi uma revelação. Daquele momento em diante fiquei em estado de graça, por que estavam resolvidos os meus problemas”, relata Bartz.

Mesmo sem ter dinheiro, antes de voltar para casa o alemão de Rolândia encomendou uma máquina americana que custava cerca de US$ 8 mil. “Eu disse que voltaria ao Brasil e iria providenciar o financiamento. Incrivelmente, a firma Allis Chalmersvteve fé em mim e enviou a máquina”.

O plano era plantar apenas 10% da área como um teste, mas uma geada fulminou a plantação de trigo e obrigou Bartz a cultivar tudo pelo novo sistema. “Aquilo foi o suficiente para solidificar meu apelido de alemão louco”.

Os pormenores da saga do plantio direto no Brasil estão no livro “O Brasil possível: a biografia de Herbert Bartz” (240 páginas, edição do autor), escrito pelo jornalista Wilhan Santin. Durante 14 meses, ele fez 20 entrevistas com o biografado, ouviu outras 27 pessoas, pesquisou em dezenas de revistas, jornais, fotografias, livros e artigos da Internet para reconstruir toda a história de 81 anos de vida de Bartz.

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“A obra foi idealizada por Johann e Marie Bartz, filhos de Herbert, e construída graças à colaboração de muitas pessoas, inclusive do próprio Bartz. Ele participou intensamente, contando tudo com detalhes. Muitos o relacionam ao pioneirismo do Plantio Direto, mas desconhecem toda a história anterior que o levaram ao Sistema. Além disso, trata-se também de, além da saga de um agricultor, contar um capítulo importante do agronegócio brasileiro”, explica Santin.

Produtor nasceu em Rolândia, no Norte do Paraná, mas passou a infância na Alemanha durante a II Guerra 

Essa história de achar que Bartz estava ficando maluco foi tão longe que a primeira safra acabou confiscada pela Polícia Federal, de tão estranho que era o novo jeito de plantar. Atualmente, a situação se inverteu. “O agricultor que hoje não faz plantio direto é considerado mentalmente duvidoso, não é?”, brinca Bartz.

Dados da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação indicam que o Sistema é utilizado em aproximadamente 35 milhões de hectares no Brasil, o que corresponde a quase 90% das áreas ocupadas com lavouras de grãos. O Sistema propiciou à agricultura do País chegar ao século 21 com recordes de produtividade.

Sobrevivente e revolucionário

Menino nascido no Brasil e criado na Alemanha, em meio à Segunda Guerra Mundial (1939-45), Bartz é um sobrevivente. Na noite de 13 de fevereiro de 1945, ele estava em Dresden, quando um imenso ataque aéreo com bombas incendiárias, comandado por forças britânicas, arrasou a cidade alemã cortada pelo Rio Elba. Herbert e outras crianças, abrigadas em um porão, foram salvos por adultos que não pararam de jogar água sobre eles para aplacar o calor.

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O título do livro foi ideia de Bartz. “Tenho a certeza de que o Brasil com o qual eu sonho é sim possível. Espero que tudo o que está acontecendo no agronegócio se espalhe para todos os setores, que aqueles que ocupam os cargos políticos possam se espelhar no homem do campo, que trabalha do nascer ao pôr-do-sol, que come marmita em cima do trator com o motor ligado para fazer o plantio e a colheita no tempo certo, que planta sem ter a certeza de preços bons no momento da safra, que enfrenta estradas esburacadas para escoar a produção e que entende a natureza e a respeita. Por sinal, ela, a natureza, não aceita propinas.”

O lançamento da biografia do “pai do plantio direto no Brasil” conta com o apoio do Iapar, Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação e Sociedade Rural do Paraná. A obra foi patrocinada por Fundação Agrisus, Dow AgroSciences, Itaipu Binacional, Jacto, Marchesan e Microgeo.

SERVIÇO

Evento: lançamento da biografia “O Brasil possível: a biografia de Herbert Bartz”
Data: 10 de abril, terça-feira, às 19h30
Local: Centro de Treinamento Milton Alcover, no Parque de Exposições Governador Ney Braga, durante a ExpoLondrina

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