Por causa do calor e do tempo de deslocamento, hoje, o fruto tem que ser colhido antes da época ideal.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Já pensou se um tomate cultivado em Reserva, no Paraná, pudesse permanecer no pé a ponto de ficar bem vermelho, preservando todo seu sabor, antes de ser despachado até Palmas, no Tocantins, a quase 2 mil quilômetros de distância? Hoje, isso seria impossível. Por causa do calor e do tempo de deslocamento, o fruto tem que ser colhido antes do ideal, para ir amadurecendo no caminho e ainda chegar bonito ao destino final, mas sem a mesma qualidade que no primeiro caso.

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Uma empresa dos Estados Unidos, porém, pretende mudar esse panorama. A Apeel Sciences criou uma espécie de segunda pele - imperceptível e comestível - usando folhas, brotos, casca de banana e outros materiais botânicos frescos, mas descartados depois que frutas e legumes são colhidos ou processados. Isso permitiria, segundo a empresa, controlar a entrada e a saída de água e gases de frutas e hortaliças, aumentando a durabilidade delas em até cinco vezes. A Apeel garante entregar um cacho de bananas no qual cada fruto amadurece em um dia diferente.

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A solução “basicamente detecta uma molécula diferente do normal e entra em ação”, diz James Rogers, fundador e principal executivo da Apeel.

Atualmente, numa parceria com a fundação de caridade do milionário Bill Gates, fundador da Microsoft, o produto já é utilizado para ampliar a vida útil da mandioca, ajudando pequenos agricultores na África. “Se não for consumida ou processada entre 24 e 48 horas, você perde quantias importantes”, diz Rob Horsch, chefe de pesquisa e desenvolvimento agrícola da Fundação Bill e Melinda Gates. “Isso dificulta a geração de renda, muita coisa é jogada fora”, acrescenta. Com a película, o tempo de vida da mandioca mais do que duplicou.

Testes

Além de aumentar a durabilidade dos produtos e reduzir o desperdício, a solução, afirmam os criadores, pode reduzir a necessidade de defensivos agrícolas, pois pode ser aplicada quando as frutas e legumes ainda estão na lavoura.

Contudo, a segunda pele ainda não passou por grandes testes comerciais, e encara vários obstáculos potenciais além da eficácia. Por exemplo, os consumidores podem desconfiar de uma nova camada sobre os alimentos frescos e os produtores podem não gostar do custo. “Os fatores socioeconômicos são tão importantes quanto as tecnologias em si”, diz Christopher B. Watkins, professor da Faculdade de Agricultura e Ciências Biológicas da Universidade Cornell.

A FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos, aprovou o produto como “reconhecido em geral como seguro”, ou seja, pode ser ingerido e vendido.

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Sobre a empresa

A Apeel foi fundada quando Rogers fazia doutorado em Ciência de Materiais na Universidade da Califórnia, campus de Santa Barbara. Ele começou a questionar se os mesmos processos que estudava para desenvolver coberturas que pudessem ser utilizadas para produzir células solares plásticas baratas também serviriam para ampliar a vida de frutas e verduras. Então, contatou Jenny Du, colega de faculdade que estudou a síntese e a aplicação de filmes inorgânicos nanoestruturados, entre outras coisas, e os dois começaram a trabalhar em sua garagem para desenvolver a película.

Em 2012, o conceito ganhou US$ 10 mil em um concurso de novos empreendimentos da universidade e, depois, Rogers recebeu um prêmio de US$ 100 mil da Fundação Bill e Melinda Gates, que estava interessada na maneira pela qual a ideia poderia ajudar pequenos agricultores da África.