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Por enquanto, os casos são pontuais. Mas o risco é de uma interrupção significativa na colheita de soja e milho de verão justamente no momento em que as máquinas começam a ganhar ritmo. A informação vem de agricultores e de lideranças do setor em Mato Grosso e no Paraná, estados que mais produzem grãos no país."Podemos perder parte da colheita... Sem diesel não se faz nada em propriedade nenhuma", disse nesta terça-feira o presidente do Sindicato Rural de Sinop (Norte de Mato Grosso), Antônio Galvan, que já recebeu relatos de paralisação em diversas lavouras na região."Em dois dias, não haverá diesel para a colheita e boa parte dos produtores vão parar as máquinas", disse o produtor e presente do Sindicato Rural de São João (Sudoeste do Paraná), Arceny Bocalon. Um dos únicos postos de combustíveis da região, entre São João e Chopinzinho, tinha 10 mil litros de diesel nesta terça-feira pela manhã. O estoque durou até meio-dia. "Conseguimos 1 mil litros, mas a R$ 2,79, e há poucos dias o litro custava R$ 2,39", conta Bocalon.A colheita de soja chega aos 40% em Mato Grosso e aos 30% no Paraná nesta semana, caso haja sol e combustível para as máquinas. Os dois estados produzem quase metade da safra nacional, que neste ano deve render mais de 90 milhões de toneladas.O trânsito de veículos de carga está totalmente interrompido desde o final de semana em diversos pontos da BR-163, a rodovia da soja entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Empresários do setor de transporte e caminhoneiros reclamam do alto preço dos combustíveis e do baixo preço recebido pelo frete.O movimento começou na metade da semana passada em Mato Grosso e vem se espalhando pelo país nos últimos dias, com bloqueios em pelo menos dez estados na segunda-feira.

Fazendas sem dieselAs fazendas de Mato Grosso são conhecidas pela infraestrutura de máquinas, equipamentos e uso de insumos em escala. Mas um levantamento da Reuters com 12 produtores mostra que metade só tem combustível para os próximos cinco dias.O produtor João Marcos Bustamante pretendia colher 50 hectares nesta terça-feira, mas está sem diesel para movimentar as máquinas. "Nas distribuidoras não tem diesel. Vou ver se consigo um pouco no posto", disse ele, ressaltando que diversas outras fazendas vizinhas, no município de Santa Carmem, também estão paradas.O produtor Adelmo Zuanazzi ainda tem 50% de sua safra de soja para colher, ou quase 2 mil hectares, no município de União do Sul, e tem estoque de diesel para somente três dias de trabalho. Ele destaca que há previsão de chuvas fortes para o final da semana, quando, na melhor das hipóteses, poderia haver retomada do fornecimento de diesel, embora não haja nenhuma garantia de fim dos bloqueios. “Vai começar a estragar a soja... O risco de perda é iminente”, afirmou.Quando a soja madura recebe chuvas no campo, os grãos começam a fermentar e perder a qualidade, muitas vezes não atendendo os padrões exigidos pelos compradores.Demora Um empresário do setor de combustíveis de Sinop disse que, mesmo que os caminhões viessem a ser liberados nesta terça-feira, demoraria pelo menos quatro dias para que o diesel começasse a chegar na cidade."Só começaria a amenizar o problema no sábado", relatou Jonas de Paula, proprietário de um grande posto e atacadista de combustíveis de Sinop. A empresa dele tem pedidos não atendidos para 800 mil litros de diesel nesta terça.Até sábado, as encomendas de diesel não atendidas deverão chegar a 1,2 milhão de litros, afirmou ele. O volume equivale a uma semana de vendas da empresa, que tem 17 caminhões tanque parados nos bloqueios, tentando sair de Mato Grosso para buscar diesel nos fornecedores.

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