A segunda audiência pública que discute o fim da vacinação dos bovinos contra a febre aftosa no Paraná não conseguiu pôr fim aos principais impasses que dividem o setor. O risco de reaparecimento da doença e a incerteza quanto aos benefícios econômicos com a suspensão seguem sendo alvo de questionamento por parte da cadeia produtiva. Os debates ocorrem no momento em que o governo faz o balanço da última campanha de imunização, encerrada no Domingo (31).
O presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz, voltou a defender enfaticamente a suspensão da vacinação. Ele explicou que caso ocorram novos focos da doença no estado após o fim da vacinação o reconhecimento internacional como área livre pode ser recuperado em apenas três meses. Para isso basta identificar rapidamente os casos e depois eliminar os animais e carcaças contaminadas. “Não se trata de combater a doença, mas de preveni-la. Temos muitos indícios de que não há circulação do vírus nas Américas”, apontou. A entidade deve confirmar nesta semana a contratação de 169 técnicos que fazem parte da estratégia para reforçar a defesa sanitária estadual.
O argumento foi reforçado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep). O representante de entidade, Ronei Volpi, destacou que existe um montante de R$ 56 milhões disponíveis para cobrir eventuais prejuízos que uma nova ocorrência da aftosa poderia gerar. Os recursos fazem parte do Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Fundepec), do qual o especialista é diretor-executivo. “Esse dinheiro é intocável, e só pode ser utilizado para pagar indenizações”, apontou.
O presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni, voltou a criticar o fim da vacinação. Ele alertou para o risco de fraudes no sistema de defesa agropecuária e indicou que há outros efeitos colaterais negativos, como a realização de eventos. “No caso da Expolondrina 80% dos animais vem de fora. Se hoje já é difícil organizar uma feira agropecuária, vai ficar impossível”, reclamou.
Representando a indústria de vacinas, o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, argumentou que o ideal seria desmistificar a diferença entre áreas com e sem vacinação. “Como isso não é possível, as áreas livres precisam criar um banco de vacinas para caso de emergência. A indústria não vai produzir para jogar fora, já que a validade é curta”, alertou.
Membros de outros elos da cadeia produtiva também compareceram a audiência para opinar sobre a questão. O diretor presidente da Frimesa, Valter Vanzella, que congrega cinco cooperativas do estado, apontou que o impasse da aftosa também afeta a suinocultura. “Estamos fora de 70% do mercado mundial de carne suína porque há vacinação nos bovinos”, disse. A empresa tem colaborado nos investimentos para reforçar a estrutura de defesa sanitária do estado, inspirado no exemplo de Santa Catarina. Vanzella revela que a continuidade da vacinação pode repelir investimentos. “Temos o projeto de construir um novo frigorífico no próximo ano, mas se a perspectiva não for favorável vamos ter que repensar”, ameaçou.
Deputada estadual pelo Mato Grosso do Sul, Mara Caseiro (PT do B) veio ao encontro defender o fim da vacinação em bloco, e não individualmente como o Paraná está fazendo. “Tivemos uma crise da aftosa em 2005 e foi um período de muito aprendizado. Para evitar novos problemas o ideal seria o estado ser reconhecido como área livre junto com São Paulo e o Mato Grosso do Sul”, declarou.
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