O Paraná dá sequência aos planos para suspender a vacinação contra a da febre aftosa sem contar com apoio unânime do setor. Preocupações como o risco de contágio dos rebanhos, benefício econômico limitado e o temor de desabastecimento doméstico dividem a opinião da cadeia produtiva, que intensifica os debates em busca de consenso. Uma audiência pública realizada ontem na Assembleia Legislativa do estado aqueceu as discussões.
Os argumentos contrários ao fim da vacinação começam no campo e terminam na indústria. O presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni, teme a contaminação via países vizinhos, como Argentina e Paraguai. “O argumento de que haveria ganho econômico não é compensado pelo risco”, aponta. Ele também demonstra preocupação quanto a vinda de animais de fora para as feiras agrícolas. Estaria em discussão uma regra especial para esses casos, mas ainda não há clareza sobre o tema.
Para evitar escassez de animais, a medida deveria vir acompanhada de uma política de fomento à pecuária, defende o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. Ele explica que a restrição impediria a importação de gado oriundo de estados fora da zona livre sem vacinação, como o Mato Grosso do Sul e São Paulo. “Todos sabem que o Paraná possui um rebanho limitado, sem escala de produção. Vamos virar uma ilha”, argumenta.
A possibilidade de ampliar o leque de compradores e a remuneração pela proteína bovina desperta outros questionamentos. “O Brasil está abrindo mercados como China e Estados Unidos mesmo com vacinação”, aponta o presidente da Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber.
Um setor que fatura R$ 20 milhões com a imunização do rebanho paranaense, a indústria de vacinas indica que haveria dificuldades de manejo casos a doença reaparecesse após a suspensão da campanha. “A vacina leva 8 meses para ser fabricada. Na falta de um banco de vacinas, o Paraná não teria onde adquirir doses em caso de contágio”, aponta Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan).
Os argumentos contrários ao fim da vacinação são rebatidos pelo presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz, e pelo secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. Eles destacam que o último caso de ocorrência da aftosa nas Américas foi em janeiro de 2012.
O presidente da Adapar diz que no caso de uma nova contaminação após o reconhecimento oficial seria possível reverter as restrições mais rapidamente. “Em Santa Catarina, o setor privado investe mais de R$ 20 milhões para manter esse status. Será que eles fariam isso se não fosse viável?”, indagou. Kroetz também questiona a representatividade da importação de animais. Ele aponta que em 2014 mais 78 mil cabeças de gado entraram no . No mesmo período saíram 220 mil animais, a maioria para abate em plantas de outros estados.
A visão é reforçada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep). “Temos estudos de viabilidade econômica que comprovam o ganho que o fim da vacinação pode gerar. O caminho é garantir a aprovação em etapas”, diz Ronei Volpi, especialista no tema.
Novos técnicos da Adapar vão a campo em junho
Dois anos após anunciar a realização de concurso público para reforçar o quadro pessoal da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) e do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o governo estadual confirmou na semana passada a contratação de 169 técnicos já concursados para a Adapar.
O secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara diz que a nomeação será feita ainda nesta semana, para então iniciar o treinamento dos novos profissionais. Ele aponta que a maior parte dos contratados vai atuar nas barreiras sanitárias ou em unidades locais e regionais da Adapar. “No final de junho eles já estarão atuando”, disse. A ação integra as estratégias para controle da aftosa e busca do reconhecimento oficial como área livre da Peste Suína Clássica (PSC).
Ortigara diz que as ações têm caráter estratégico, sobretudo na questão da aftosa. “Não colocaríamos o estado em risco simplesmente para ter um diploma na parede. Se não dermos um tranco na pecuária em dez anos vamos estar discutindo o fim da atividade”, complementou.