O plantio da safra de verão começa com apostas menores para o milho nas regiões produtoras do Sul de São Paulo. Mirando uma rentabilidade maior com a soja, os agricultores quebram o protocolo da rotação de culturas e seguem cultivando a oleaginosa por mais de um ciclo. O foco em retorno financeiro preocupa os técnicos, que veem efeitos colaterais na incidência de pragas e nas operações de armazéns, constatou a Expedição Safra Gazeta do Povo após percorrer o estado na última semana.
O custo de produção elevado surge como primeiro empecilho ao cereal. Na região de Itaberá (Sul de São Paulo) o investimento é de aproximadamente R$ 3,7 mil por hectare, incluindo despesas com arrendamento. “O milho está virando raridade na região. Embora tenha ganhado algum espaço sobre áreas de pastagem neste ano, ele está caindo gradualmente”, aponta Fábio Siebert, técnico da cooperativa Castrolanda. Ele calcula que o plantio deve ocupar 1,5 mil hectares na região, contra 20 mil hectares que serão semeados com soja.
Em 2012/13 o estado já havia reduzido em 18,3% a área de milho, cultivando 560 mil de hectares na primeira safra (verão), conforme estimativa da Expedição Safra Gazeta do Povo. O índice respondeu por 7% da área nacional. A soja teve participação menor, de apenas 2% na área nacional (650 mil hectares) mas a tendência é de crescimento.
As dificuldades de encontrar mercado para o cereal levam produtores como Florian Schudt a reforçarem as apostas na oleaginosa, mesmo que a programação inicial tenha sido diferente. A escolha é justificada pela facilidade em fixar preços e a maior liquidez do grão, que será semeado em 2,6 mil hectares. “Saímos da rotação de cultura, mas isso é um risco avaliado.” Para o agricultor, um dos fatores que comprime a rentabilidade do produto são os subsídios ao escoamento da produção no Centro-Oeste do país, que acabam criando uma distorção de preços nas demais regiões.
Nas regiões em que há condições climáticas favoráveis, os produtores migram a produção do cereal para o inverno. É o caso de Cândido Mota, onde a safrinha ocupa 25 mil hectares – área semelhante à da oleaginosa, que soma 24 mil hectares no verão. “Ao preço de R$18 por saca o milho cobre apenas os custos, enquanto a soja tem rentabilidade maior”, aponta João Motta, presidente do Sindicato Rural do município. O trio de irmãos Paulo Oliveira Rocha Filho, Amauri Oliveira Rocha e Ariquemes Oliveira Rocha ampliou em 25 hectares a área de soja cultivada no município. Ao todo serão plantados 150 hectares, com perspectiva de produtividade para 53 sacas por hectare.
Produtores paulistas adotam diferentes estratégias para o longo prazo
Com a premissa de que o ciclo de bons preços da soja não será eterno, produtores do estado de São Paulo adotam diferentes estratégias para garantir que o trabalho no campo continue sendo viável a longo prazo. Em Itaberá (Sul) três agricultores assumem posturas distintas que confirmam o cenário.
Com uma pós-gradução em Gestão de Risco, o agricultor Florian Schudt toma todas as decisões da empresa adotando ótica empresarial. As definições de plantio são feitas com base em estimativas que traçam cenários e tendências de mercado. Máquinas que reduzem o desperdício e aceleram as atividades no campo foram adquiridas com base nesses cálculos.
Na mesma região o agricultor José Carlos Camargo optou por investir apenas em soja convencional para o plantio. Já em 1994 ele fugiu à regra e investiu na compra de um armazém. “É preciso se diferenciar”, resume.