Havia sete anos que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não precisava fazer leilões para ajudar a garantir preço mínimo e auxiliar no escoamento da safra de milho. Nessa temporada, no entanto, com uma expectativa de produção recorde e preço bem abaixo do que os produtores esperavam, a comercialização do cereal está praticamente paralisada. A saca de 60kg hoje, em várias praças do Centro-Oeste do Brasil, vale perto ou abaixo dos R$ 17,87 determinado pelo governo como o mínimo a ser pago ao produtor.
Por determinação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Conab já realizou neste mês três leilões nas modalidades de PEP e PEPRO (ver definição abaixo), dentro da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). Os três tiveram foco nos produtores do Mato Grosso, que tem maior dificuldade de escoamento por causa do preço elevado do frete. Nos dias 4, 11 e 16 de maio foram negociados mais de 1,2 milhão de toneladas do produto – 930,4 mil toneladas em PEPRO e 276,9 mil toneladas em PEP. As informações foram repassadas pela assessoria de imprensa do Mapa.
O que é PEP e PEPRO
O Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) tem o pagamento feito ao comprador, que deve comprovar a remuneração acertada no leilão ao produtor (preço mínimo). Já no Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (PEPRO), o pagamento é feito pelo governo diretamente ao produtor rural ou cooperativas.
Ana Luiza Lodi, analista de mercado da INTL FCStone, avalia que os leilões da Conab ajudam, mas não são suficientes para reverter o cenário negativo às cotações do milho. “Desde o começo do ano, a expectativa é bem favorável com a safra, mas de tendência baixista no preço. Compradores sabem que vai entrar uma grande quantidade de milho na safrinha e acabam segurando para ver se conseguem pegar um preço ainda mais baixo. Como a safra deve ser muito grande, estamos com estimativas de estoques finais elevados. O potencial de os leilões afetarem o preço deve ser limitado”, avalia.
O analista Camilo Moter, da Granoeste, também vê os leilões com potencial limitado. “Para o milho temos que olhar para a evolução da safra americana, o direcionamento dos preços em Chicago nos próximos quatro meses, ou seja, clima. E temos que levar em conta também o câmbio no Brasil, a economia brasileira, o cenário político. Essas duas vertentes vão ser determinantes”, relata.
Produção e exportações
A Expedição Safra estima que a produção de milho verão 2016/17 atinja 31,97 milhões de toneladas e que a safrinha alcance a marca de 60,9 milhões de toneladas (total de 92,87 milhões de toneladas). O consumo interno, inicialmente, está previsto em torno de 55 milhões de toneladas. O que significa que, seguramente, chegaremos ao fim da temporada com um estoque de mais de 10 milhões de toneladas de milho – o que dá margem para queda nos preços.
Leilão de frete
No próximo dia 2 de junho a Conab promove um leilão de frete. O objetivo é transportar 22,4 milhões de toneladas de milho em grão estocados no Mato Grosso para a região Nordeste. Estão na lista de destinatários os estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Piauí. O produto é destinado a abastecer pequenos criadores de animais cadastrados no Programa de Vendas em Balcão (PROVB). O produto será comercializado ao preço subsidiado de R$ 33,00 a saca, conforme informou a Conab.
Mais informações: www.conab.gov.br
Para colocar ainda mais tempero nessa cenário, as delações da JBS e suas possíveis consequências à economia e à política levantaram novas dúvidas sobre a retomada do crescimento do Produto Interno Bruto. Se o desempenho econômico for afetado será um golpe em cheio nas estimativas até então positivas para o setor de proteína animal. Isso, por consequência, pode afetar a demanda interna de milho e mexer ainda mais nesse mercado.
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