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Mudanças no clima do Brasil dizimam abelhas e impactam oferta de alimentos

Em 90% das cidades brasileiras, aquecimento global deve reduzir a população de abelhas e agentes polinizadores | Macroscopic Solutions/ Flickr Commons/Fotos Públicas
Em 90% das cidades brasileiras, aquecimento global deve reduzir a população de abelhas e agentes polinizadores (Foto: Macroscopic Solutions/ Flickr Commons/Fotos Públicas)

Na prateleira dos mercados estão feijão, abacate e aquecimento global. Este último ‘produto’ virou um problema para as abelhas. Segundo pesquisadores, as abelhas são fundamentais para polinizar cultivos. Contudo, em 90% das cidades brasileiras, o aquecimento global deve reduzir a população do inseto, de acordo com estudo do Instituto Tecnológico Vale.

A consequência direta dessa redução populacional de abelhas e outros agentes polinizadores é o impacto na produção de alimentos.

Os pesquisadores se concentraram em 13 culturas agrícolas que possuem robusta base de dados, com informações sobre produtividade, localização e a dependência de polinizadores. Apesar disso, ainda faltam elementos. “Temos uma carência gigantesca de dados. Não sabemos quantas culturas existem no Brasil, mas devem ser centenas”, afirma Tereza Giannini, autora do estudo e pesquisadora do instituto.

Ao todo, o Brasil tem 5.570 municípios, de acordo com o levantamento mais recente do IBGE, dos quais 4.975 foram analisados. Os que ficaram de fora da análise não possuem dados sobre a produção ou não têm as culturas estudadas: acerola, abacate, feijão, coco, café, algodão, goiaba, tangerina, maracujá, caqui, girassol, tomate e urucum.

Impacto bilionário

Giannini afirma que alterações nas produções de espécies com alto valor de produção, como café e algodão, podem ter impactos significativos na economia. Estudos anteriores calculam que as mudanças climáticas podem custar entre US$ 4,9 bilhões (R$ 16,6 bilhões) a US$ 14,6 bilhões (R$ 49 bilhões) para o Brasil.

A pesquisa levou em conta as 95 espécies de abelhas relacionadas às plantações estudadas. Segundo Giannini, em média no país, haverá uma redução de 13% na ocorrência desses animais.

Contudo, essa taxa tem grande variação pelo país e os municípios mais afetados ficam no Sul e Sudeste, com risco de redução de polinizadores de até 60%. As plantações de girassol e tomate de cidades de Minas Gerais seriam as que mais sentiriam a redução.

Antonio Saraiva, cientista da USP e um dos responsáveis pelo estudo, afirma que as conclusões da pesquisa trazem “as mudanças climáticas para o bolso e para a barriga das pessoas”.

“Ter perda ou deslocamento dos polinizadores afeta a produção. Isso causa impactos em empregos e na renda local, e nos preços dos produtos pela diminuição da oferta”, afirma Saraiva, que ressalta que a questão dos preços não foi tratada nas análises.

De forma geral, as produções de goiaba, tomate, café e tangerina serão as mais afetadas.

Para dimensionar o impacto do aquecimento global na ocorrência de abelhas, a pesquisa considerou um aumento de temperatura de 2°C a 4°C até 2050 - seguindo dados do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU).

“Precisamos entender melhor essas relações entre polinizadores e culturas agrícolas para preparar programas de conservação”, diz Giannini. “As abelhas e polinizadores são prioritários. Se esses cenários se confirmarem, ficaremos em uma situação muito complicada quanto à produção de alimentos.”

O estudo foi publicado nesta quarta-feira (9), na revista científica “Plos one”.

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