Bandeira do Japão, campo de beisebol, academia de judô, portais orientais. Na região Oeste do estado de São Paulo, Bastos, uma cidade de apenas 20 mil habitantes, chama atenção pelos traços culturais do outro lado do mundo, herança dos japoneses que se instalaram na região no fim dos anos de 1920.
Os imigrantes e seus descendentes deram ao município de Bastos o título de ‘Capital Nacional do Ovo’. De acordo com o presidente do Sindicato Rural, o avicultor Katsuhide Maki, as granjas da cidade produzem 18,7 milhões de ovos por dia. São 216 unidades por segundo e mais de 10 bilhões por ano. O Brasil produz 39,2 bilhões.
Para dar conta do recado, 22 milhões de aves poedeiras estão alojadas na região. Outras 6 milhões são pintainhas ou frangas, que não estão em fase de produção. Das 65 granjas locais, 62 estão nas mãos de descendentes de japoneses.
A relação de Bastos com a postura comercial começou no fim de Segunda Guerra. Segundo o presidente do Sindicato Rural, até então, a principal atividade era a criação do bicho-da-seda.
“Com o fim da guerra, a demanda caiu e atividade ficou inviável. Alguns apostaram na fruticultura, no café e na cana, mas o solo da região é muito arenoso. Até surgir a ideia de aproveitar os galpões para alojar poedeiras. Isso ainda no fim dos anos de 1940. A produção começou rudimentar. As galinhas criadas soltas. Com o tempo, o processo foi evoluindo”, diz Katsuhide Maki.
Filho de Katsuhide, Christian Maki é da quarta geração da família que trabalha com postura de ovos comerciais. Proprietário da Granja Maki, ele conta que atividade é desafiadora: “Ao contrário do frango de corte, em que é preciso fazer a engorda por apenas 42 dias, na postura são dois anos. São 45 dias no galpão de pintainhas, 120 dias na recria e 1 ano na postura. Talvez 1 ano e meio, dependendo do manejo”.
A granja dele produz 72 mil ovos diariamente. Ao todo, são 18 funcionários que trabalham na coleta, lavagem, secagem, classificação e embalagem dos ovos. “Nós vendemos 80% no atacado e 20% no varejo. É uma atividade complexa. Não é para aventureiros. Ainda mais para nós, que trabalhamos com ovos vermelhos”, complementa.
Christian Maki é integrante da Comissão Julgadora do Concurso de Qualidade de Ovos de Bastos, que é realizado no mês de julho, durante a Festa do Ovo, criada há 58 anos para celebrar a principal matéria-prima da cidade. “No começo, a avaliação era apenas visual. Hoje, temos equipamentos que avaliam frescor, consistência e cor da gema, além de medir a espessura e a resistência da casca, entre outros aspectos. Evoluímos bastante”, afirma.
Proprietário da granja Mizohata, Wagner Mizohata acredita no potencial do mercado de postura comercial no país. Assim como outros granjeiros da região, ele também é descendente de japoneses e herdou o negócio do pai. “Nós começamos com 200 aves. Hoje temos 500 mil. Nossa produção diária é de 432 mil ovos”, revela.
Desde que assumiu a granja, estabeleceu uma meta ambiciosa: crescer 10% ao ano. “E nós temos conseguido. Mesmo no ano passado, quando o preço do insumo disparou, fizemos ajustes e atingimos o nosso objetivo”.
No Brasil, no atacado, o produto é vendido em caixas de 30 dúzias (360 ovos). Atualmente, a cotação está em R$ 124. “É a melhor atividade do agronegócio. Meu pai costuma dizer que as pessoas nunca vão deixar de consumir comida. E nós temos uma proteína de qualidade e acessível”.
Para Mizohata, o potencial de crescimento da atividade é enorme. Atualmente, a média nacional de consumo é de 190 ovos/habitante por ano. No México é o dobro. “Podemos crescer demais no mercado interno. Isso sem falar na exportação. Atualmente, o Brasil não está nem no ranking, temos uma participação muito pequena. E nós temos condições de exportar e ganhar mais mercado”, acredita.
Segundo o produtor, que atua no atacado, principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, outra transformação virá da indústria. “É incrível o número de produtos derivados do ovo e que ainda não são produzidos no país. Na Tailândia, eles utilizam o ovo inteiro, da pela é extraído colágeno, da casca é feito suco de cálcio. Essa transformação, em dez anos, vai chegar ao Brasil. É o futuro. E para isso, nós e o setor temos investido em tecnologia e modernização”.