Um novo surto de salmonela nos Estados Unidos - provocado por um tipo letal da bactéria encontrada em cargas de mamão papaya (do tipo Maradal) vindas do México - é o exemplo mais recente do risco de contaminação de frutas e verduras frescas, e não pelos habituais suspeitos: ovos e frango.
Segundo pesquisas sobre surtos de salmonela do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, a maioria dos casos desde 2006 está ligada ao consumo de produtos crus. Durante o período, houve aproximadamente 30 diferentes surtos de salmonela ligados a frutas, vegetais, nozes e derivados. Ao mesmo tempo, foram 20 casos relacionados ao consumo de carnes, aves, ovos e produtos similares.
Além disso, um levantamento do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) mostra que, de 1996 a 2010, foram relatados 131 surtos relacionados a produtos frescos, resultando em 14.350 casos confirmados, com 1.382 pessoas hospitalizadas e 34 mortes. Esses casos estavam associados ao consumo de aproximadamente 20 diferentes tipos de produtos .
Entre os surtos que tiveram resultados letais, um deles, em 2015 , estava ligado ao consumo de pepinos mexicanos, resultando em seis mortes. Outro surto foi relacionado à pasta de amendoim, e aconteceu entre 2008 e 2009, levando à morte nove pessoas. Como resultado, um produtor de amendoim do estado da Geórgia acabou condenado a 28 anos de prisão.
A bactéria encontrada no mamão papaya já levou uma pessoa à morte na cidade de Nova York, com 47 pessoas infectadas em 12 estados e dezenas de hospitalizações, segundo o CDC. O órgão recomendou aos consumidores não comerem, aos restaurantes não servirem e aos varejistas não venderem a fruta do tipo Maradol com origem no México.
Especialistas em segurança alimentar afirmam que o aparecimento de surtos de salmonela relacionados à produção de alimentos reflete duas forças opostas da sociedade norte-americana: consumidores que desejam comer alimentos mais saudáveis e a aversão da agricultura comunitária por regras que elevam os custos.
Durante vários anos, os cidadãos dos Estados Unidos foram aconselhados a comerem mais frutas e vegetais. Se por um lado há evidências de que parte deles tem seguido a sugestão, também há dados que mostra uma parcela da população que vem ignorando o conselho. Mas o fato é que aqueles que vêm consumindo mais frutas e vegetais frequentemente ingerem o produto cru, para obter ao máximo as vantagens nutricionais do alimento.
“Quando frutas e vegetais estão contaminados com salmonela, os consumidores podem ser contaminados ao mastigar o produto fresco”, afirma Francisco Diez-Gonzalez, professor e diretor do Centro de Segurança Alimentar da Universidade da Georgia. Lavar o produto não vai adiantar, segundo o professor. Ele explica que a única forma de destruir a salmonela é o cozimento: “A bactéria morre segundos após a temperatura acima de 71º graus”.
Como um produto é contaminado com salmonela?
Diez-Gonzalez explica que isso pode acontecer devido ao uso de água contaminada na produção, pelo uso de estrume infectado como adubo ou ainda pelo manuseio inadequado durante outro momento da cadeia produtiva, como na distribuição de alimentos. Vegetais, por exemplo, podem até mesmo ser contaminados ao terem contato com uma tábua previamente utilizada para cortar aves.
E há também casos como o produtor de amendoim contaminado, que teve a ‘brilhante ideia’ de transportar amendoim em contêineres repletos de poeira e ratos, segundo documentos judiciais. “Mas não se pode generalizar, pois existem produtores do México que possuem padrões elevados de produção”, conclui Diez-Gonzalez.
Com isso, novas regras serão estabelecidas, a partir de janeiro, para grandes fazendas norte-americanas. Já estrangeiros que buscam exportar produtos aos Estados Unidos têm de provar altos padrões agrícolas, em alinhamento às regras locais.
De acordo com Jim O’Hara, diretor de promoção de saúde do Centro de Ciências para Interesse Público, as novas regras de segurança serão relacionadas à qualidade da água, limites de micro-organismos observados, entre outras regras. Mesmo assim não há garantias de que os casos de salmonela relacionados à produção vão cair.
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