Nas últimas décadas, o Brasil reduziu em 30% a área plantada com feijão. Ainda assim, a produção no período subiu 35%, chegando, hoje, a mais de 3 milhões de toneladas. O ganho se deve ao aumento de produtividade, em parte atribuído ao uso de novas variedades.
Os dados são de uma pesquisa da Embrapa, que avaliou a eficiência de seu programa de melhoramento de feijão com base no cálculo de progresso genético da cultura.
O indicador relaciona características agronômicas como a produtividade, e métodos utilizados para a seleção, cruzamento e avanço de gerações de plantas (linhagens). Considerando todo o período do estudo (22 anos), o avanço da produtividade corresponde a 380 kg a mais por hectare, ou o equivalente a um terço da produtividade média nacional, que é de 1.354 kg/ha.
De acordo com o pesquisador Luis Claudio de Faria, que esteve à frente do projeto, o progresso genético foi estimado em uma série de experimentos no campo, em conjunto com instituições parceiras, em quatro regiões produtoras (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste). O estudo envolveu 20 ambientes diferentes, três épocas de semeadura (água, seca e inverno) e empregou uma base de dados com 22 anos de informações sobre linhagens e variedades.
“Como o estudo foi conduzido com repetições e em vários ensaios no campo, foi possível representar mais fielmente as condições de interação entre os genótipos e os diferentes ambientes de cultivo; e fazer uma estimativa consistente do progresso genético médio para produtividade de grãos, por meio do método do tipo direto, permitindo alcançar resultados bastante precisos”, conta Faria.
Qualidade também melhorou
Além da produtividade, a estimativa de progresso genético apresentou ganho significativo de 2,37% ao ano na qualidade de grãos. São aspectos valorizados pelo consumidor e pela indústria, como tempo de cozimento, coloração do caldo de feijão, não escurecimento do produto empacotado e rendimento de grãos inteiros no beneficiamento.
Segundo Faria, o estudo do progresso genético serviu também para verificar se são necessários ajustes no rumo do programa de melhoramento de feijão-carioca, o mais cultivado no país. “O caminho seguido está na direção desejada”, frisa o pesquisador.
Apesar disso, ele cita aspectos que precisam ser ajustados. “A seleção gerou alguns resultados desfavoráveis para arquitetura ereta de plantas e a tolerância ao acamamento (tendência da planta se deitar sobre o solo). Com isso, as linhagens mais produtivas não, necessariamente, representam progresso também para essas outras duas variáveis”, afirma. Ele esclarece que isso ocorre porque a associação entre produtividade, arquitetura ereta de planta e tolerância ao acamamento só foi realizada recentemente.
Impacto de variedades
O engenheiro-agrônomo e produtor rural em Planaltina (DF), Hélio Dal Bello, planta feijão há mais de 50 anos e é um dos agricultores que usa variedades melhoradas. “Percebo evolução grande em produtividade e na resistência a doenças, especialmente antracnose. As lavouras atualmente são, sem dúvida, bem mais sadias que antigamente. Hoje também o grão carioca possui maior durabilidade da cor clara, ele não escurece rapidamente, e, por isso, é um produto valorizado pela indústria. Outro aspecto importante é que o ciclo das plantas diminuiu, as cultivares se tornaram mais precoces”, explica.
Dal Bello, no entanto, salienta que há elementos que podem melhorar, sobretudo com relação ao sistema de raízes da planta. “Seria bom ter plantas mais resistentes a fungos de solo, como fusarium, que é um dos problemas que enfrento.”