Além de maior produção, essas cultivares são resistentes à principal doença que ataca o guaranazeiro, a antracnose.| Foto: /

Até 2010, o pequeno produtor Adeílson Gomes de Souza, o seu Dedé, do Município de Maués (AM), produzia em média 70 kg de guaraná por hectare. “Essa produtividade que obtinha em uma área de seis hectares estava inviabilizando o trabalho com a cultura e se não tivesse adotado novas tecnologias, com certeza teria abandonado o guaraná”, diz ele.

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Esse quadro começou a mudar quando o produtor decidiu adotar as cultivares de guaraná desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental, com sede em Manaus (AM). Em sete anos, seu Dedé viu sua produção aumentar em mais de sete vezes: de 70 kg por hectare saltou para até 500 kg de semente seca por hectare. “O que eu produzia na minha área toda, hoje eu produzo em apenas um hectare”, comemora.

 
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O produtor planta em uma área de dez hectares, sendo cinco já em produção de frutos e outras cinco em fase de implantação. Com essa produção, afirma que a cultura é rentável, o que não acontecia antes: “com a tecnologia da Embrapa, a produção de guaraná compensa, mesmo com as despesas altas, principalmente com a mão de obra na época de colheita.”

Potencial dez vezes maior

As cultivares de guaranazeiros desenvolvidos pela Embrapa têm potencial para aumentar em mais de dez vezes a produtividade da cultura. Já foram lançadas 18 cultivares para uso comercial pelo Programa de Melhoramento Genético do Guaraná, sendo que algumas dessas variedades podem chegar a uma produção de 2,5 kg de semente seca por planta, enquanto a média estadual é de cerca de 0,2 kg. Além de maior produção, essas cultivares são resistentes à principal doença que ataca o guaranazeiro, a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola.

Para chegar a esses resultados foi um longo processo, iniciado há mais de quatro décadas. Segundo o pesquisador Firmino José do Nascimento Filho, na década de 1970, a produção de semente de guaraná chegou a níveis muito baixos, principalmente em decorrência da antracnose. A enfermidade ataca as folhas, atrofia galhos e impede a frutificação, muitas vezes levando a planta à morte. Na época, praticamente todos os guaranazeiros do Município de Maués, maior produtor do estado, foram atacados. “A Embrapa, ainda no início de suas atividades, teve a missão de solucionar esse problema”, relata o pesquisador. A meta, hoje, é expandir ainda mais a produtividade.

 

Novas cultivares propagadas por sementes

Uma cultivar desenvolvida pela Embrapa está em processo de registro e proteção no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A novidade é que as mudas dessa variedade são obtidas a partir de sementes, que trazem mais facilidade para os agricultores, diferentemente da técnica mais utilizada atualmente, a clonagem, que demanda o credenciamento de viveiristas para a produção das mudas e eleva os custos, por requerer mais cuidados.

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A BRS Noçoquém aguarda apenas o processo de proteção e autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen) para o seu lançamento oficial, devendo estar disponível para o produtor em menos de um ano após o lançamento.

“Com as sementes, o próprio agricultor pode fazer suas mudas e depois plantá-las em suas áreas de cultivo. Mesmo que elas tenham um tempo maior até chegar ao ponto de plantio, o agricultor terá menos gasto e mais controle de todo o processo”, ressalta o pesquisador André Atroch. Avaliações nos campos experimentais da Embrapa revelaram que a BRS Noçoquém alcançou produtividade média anual de 2,3 kg de semente seca por planta.

Banco Ativo de Germoplasma do Guaraná

O desenvolvimento do programa de melhoramento do guaraná só foi possível graças ao Banco Ativo de Germoplasma (BAG) que a Embrapa Amazônia Ocidental mantém nos campos experimentais em Maués e Manaus, desde o fim da década de 1970.

Segundo André Atroch, o BAG atualmente abriga cerca de 300 variedades da planta e possui uma ampla variabilidade genética, o que contribui para os trabalhos de melhoramento. “Temos materiais bem promissores que estamos trabalhando, alguns chegam a produzir até seis quilos de semente seca por planta. Mas são dados iniciais e precisamos realizar ainda testes e avaliações para estimar o potencial verdadeiro”, diz.

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