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da cerveja à construção

Muito mais que comida de panda: as 1001 utilidades do bambu

Segundo os especialistas, o bambu tem uma capacidade de produção maior do que a madeira, principalmente porque a sua rotatividade é mais rápida | BigStock/
Segundo os especialistas, o bambu tem uma capacidade de produção maior do que a madeira, principalmente porque a sua rotatividade é mais rápida (Foto: BigStock/)

Quando se pensa na utilidade do bambu, quase sempre o que vem à cabeça são peças de artesanato ou móveis de conceito rústico. Mas a planta serve para isso e muito, muito mais. Não é à toa que os chineses descobriram as suas mil e uma utilidades há mais de 5 mil anos. Versátil, resistente, abundante e ecologicamente correto, o bambu tem potencial para ser cultivado em larga escala no Brasil, servindo como fonte de biomassa na geração de energia e como matéria-prima da construção civil.

Há cerca de 1,5 mil espécies diferentes de bambus ao redor do mundo, que variam em cor, tamanho e tipo de crescimento. O Brasil é o segundo país com mais espécies nativas de bambu no planeta – só perde para a China. Temos entre 250 e 260 espécies, concentradas em áreas de difícil acesso, como a região amazônica, o Acre e o Mato Grosso. Já as espécies que estão em regiões mais acessíveis, não têm tanto potencial econômico ou há pouca pesquisa acadêmica sobre elas, segundo o engenheiro civil Vitor Hugo Marçal, da Associação Brasileira dos Produtores de Bambu (Aprobambu).

No caso do uso comercial, a espécie mais comum por aqui é a Bambusa vulgaris, oriunda da China. Os chineses, aliás, são o povo que melhor aproveita o potencial da planta. Além de ser comida de panda, o bambu serve para a alimentação humana (consumo do broto e faz-se aguardente, vinho e cerveja a partir dele), além de ser usado na geração de energia térmica e elétrica e para construir verdadeiras obras-primas da construção civil. Em muitos países, ele está associado à cultura e história das sociedades.

“Ao contrário do que se possa imaginar, o bambuzal é formado por uma comunidade de indivíduos com a mesma qualidade genética, que vivem juntos por uma grande quantidade de anos. O corte da parte aérea não afeta a touceira, ao contrário, estimula o seu crescimento”, esclarece Marçal, que participou recentemente do 3º Congresso Internacional de Biomassa (CIBIO), que ocorreu em Curitiba.

O segredo é a raiz

O segredo do vegetal, segundo ele, está na raiz (ou rizoma), que cresce sem limitação, o que por um lado dificulta plantar bambu junto com outras culturas. Mas tendo conhecimento sobre como fazer o plantio é possível fazer absolutamente qualquer coisa com o bambu, segundo o engenheiro.

“Temos que abrir os olhos para as nossas espécies nativas, mas não fechá-los para as espécies exóticas, que atualmente são as maiores fontes de desenvolvimento econômico no Brasil”, diz Marçal. Até a indústria automobilística está estudando possibilidades de usar a fibra do bambu em carenagens e outras estruturas para veículos.

Neste ano, o Brasil se filiou ao International Network for Bamboo and Rattan (INBAR), uma rede intergovernamental que desenvolve e promove soluções inovadoras com o uso do bambu, tendo como foco a sustentabilidade ambiental. De acordo com Marçal, o Brasil pode se aproveitar da expertise dos 43 países associados, sobretudo com pesquisas para a utilização do bambu e capacitação de mão de obra.

Segundo os especialistas, dentro da silvicultura, o bambu tem uma capacidade de produção maior do que a madeira, principalmente porque a sua rotatividade é mais rápida, além de requerer menos mão de obra e maquinário. “Se a gente olhar em termos de produtividade, a do bambu é maior. No mesmo período de tempo e área plantada ele tem maior produção de biomassa do que a madeira. Fiz uma pesquisa de 10 anos e notei que o bambu tem o dobro de produtividade do eucalipto, por exemplo”, revela Marçal

Com seu crescimento acelerado, em média o bambu atinge a altura e diâmetros máximos em até 180 dias. Algumas espécies crescem até 1 metro por dia, podendo atingir 40 metros de altura. Marçal conta que, partindo de um primeiro e único broto, é possível criar uma floresta plantada em seis anos, podendo-se retirar biomassa e material para muitos usos, como construção, artesanato, entre outros. “Em 10 anos você tem uma floresta estabelecida, com indivíduos com característica adultas e prontos para o corte em escala industrial. E a partir desse décimo ano você tem produtividade constante pelos próximos 50 anos”, afirma.

Regras e normas

Mas antes de fazer uso do bambu de forma comercial, os especialistas dizem que é preciso ter regras para o plantio, normas para o tratamento contra pragas e padronização da produção de matéria-prima. No ano que vem, deve ser finalizada a norma brasileira para construção civil com bambu, o que também deve dar um impulso ao setor.

De acordo com Marcelo de Almeida, engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o bambu também é uma boa alternativa para a produção de biomassa vegetal no Brasil, hoje centralizada na cana de açúcar (17% dos 25% da matriz energética brasileira que é produzida a partir da biomassa). Lenha e carvão vegetal representam outros 8%.

Na área florestal, a principal fonte de biomassa é o eucalipto – o país tem 8 milhões de hectares plantados. Por outro lado, a área destinada ao bambu é de apenas 11 mil hectares, que produzem 86 mil toneladas de fibras por ano, que são destinadas principalmente para a fabricação de celulose e papel.

Segundo Almeida, estudos revelam que o bambu possui características energéticas similares ou superiores ao eucalipto, mostrando bom potencial para uso como fonte de energia, pois possui elevado poder calorífico e alta produtividade.

O bambu tem grande adaptabilidade, mas depende de bastante umidade, por isso crescem em regiões tropicais e subtropicais no mundo, desde o nível do mar até altitudes de mais de 4 mil metros. No Brasil, porém, a produção em escala está concentrada na Região Nordeste, mostrando que a planta é resistente a condições de clima mais árido. E mesmo gostando de calor, algumas espécies são capazes de aguentar até -20°C.

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