As mulheres são mais da metade entre a população brasileira, ainda assim, quando se trata do agronegócio, a participação delas foge completamente à proporção: apenas 5% das propriedades são comandadas por produtoras rurais. Os dados são de um levantamento da ONG britânica Oxfam, que também atua no Brasil. Para a diretora executiva da entidade no país, Katia Maia, o domínio masculino em relação à posse dos estabelecimentos rurais, tanto em número quanto em tamanho da terra, acentua as desigualdades de gênero no país.
“Metade da população brasileira é composta por mulheres, que também têm papel importante no mundo rural. Não ter a propriedade significa uma relação de poder do homem sobre a mulher. Essa desigualdade diminui um pouco quando passa para as propriedades menores, mas ainda é grande”, salienta.
“A maioria dos produtores da região não é dona da propriedade e os donos são todos homens. Em geral, as mulheres não se metem nessa questão financeira, o homem é o provedor e a mulher é a mantenedora. Acho que é cultural.” Quem diz é a agricultora Ana Maria Azevedo dos Santos, 50 anos, que produz legumes e verduras orgânicos há mais de dois anos para fins comerciais. A propriedade, localizada em Pedro do Rio, na região serrana do Rio de Janeiro, é da família, mas está no nome do irmão, que é seu sócio.
Em Camapuã, no Mato Grosso do Sul, a educadora aposentada e agora pecuarista Soila Domingues recebeu a propriedade como herança do marido, que morreu há 20 anos. Hoje, aos 85 anos, é ela quem comanda a fazenda e investe em inovação para melhorar a produtividade. “Nós estamos apenas começando, em breve tudo vai estar mudado”, afirma, confiante, sobre a área de pastagem que pretende recuperar.
“Acho que o homem, dentro dessa visão patriarcal, tem medo de perder o seu papel, sua função, se a mulher passar também a ter a posse da terra e das finanças e se tornar provedora”, completa Ana Maria dos Santos.
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