Enquanto as pradarias canadenses continuam produzindo mais canola, há uma preocupação crescente com a rápida disseminação de uma doença transmitida pelo solo que está ameaçando reduzir a produtividade.
O clubroot (hérnia das crucíferas) está se instalando em partes das vastas pradarias do Canadá. É uma doença invasiva que cresce como um câncer nas raízes de canola, não deixando que ela absorva água e nutrientes, reduzindo a produtividade e podendo matar a planta.
Enquanto a doença apareceu pela primeira vez na província de Alberta em 2003 em apenas um punhado de campos, agora há centenas de novos casos identificados a cada ano e novas cepas estão se tornando resistentes aos poucos produtos disponíveis para limitar a sua disseminação. A ameaça despertou preocupações de que os agricultores não poderão cultivar a oleaginosa de maneira lucrativa se a doença continuar a se espalhar.
“Estamos nos preparando para um ano recorde em termos do número de campos com clubroot”, afirma Dan Orchard, engenheiro agrônomo do Conselho da Canola do Canadá em Wetaskiwin, Alberta. “As pessoas estão encontrando plantas murchas e mortas em seus campos.”
O Canadá é o maior produtor de canola do mundo, uma oleaginosa criada por cientistas canadenses nos anos 1970 por meio do cultivo de traços específicos da colza. Desde então, tornou-se uma oportunidade de negócios para agricultores, uma vez que a demanda global do óleo explodiu para uso em tudo, desde molho de salada até batatas fritas. O número de acres plantados aumentou 40% nas últimas duas décadas, ultrapassando o trigo da primavera como lavoura mais plantada do país.
Esporos
Embora o aumento da produção tenha ajudado a criar uma indústria nacional que movimenta mais de US$ 20 bilhões, as rotações curtas entre plantios estão ajudando a fazer a propagação da clubroot. A doença libera esporos que podem permanecer vivos nos equipamentos agrícolas. Plantar canola todo ano ou no ano seguinte aumentam as chances de a doença permanecer.
Há atualmente até 300 novos campos contaminados a cada ano em Alberta e os casos começaram a se espalhar para Manitoba e Saskatchewan, a principal província produtora de canola do país, informa Orchard. Existem aproximadamente 3 mil campos com a doença confirmados, considerando que o número é provavelmente muito maior, pois os recursos para inspecionar as plantações são limitados, segundo o especialista.
Enquanto não há dados brutos sobre quanto exatamente das plantações de canola do país foram afetadas pelo clubroot, estima-se que pelo menos 2%dos casos tenham sido reportados, diz Stephen Strelkov, professor de patologia das plantas da Universidade de Alberta.
“É uma praga devastadora e é muito difícil de controlar”, diz Sebastien Dutrisac, agricultor do Northern Sunrise County, na região de Peace River, em Alberta. “Temos poucas variedades genéticas da planta e se não tomarmos cuidado arruinaremos a única ferramenta que dispomos”, acrescenta.
O condado de Dutrisac, assim como outras regiões de Alberta, tem tolerância zero para evitar a propagação da clubroot. Em Peace River, uma área ao norte onde a canola representa cerca de 40% de todas as culturas, autoridades do município não permitem que os agricultores plantem a oleaginosa em campos onde o clubroot foi encontrado há cinco anos, conforme explica Dutrisac.
Resistência genética
E talvez mesmo fazendo isso não seja suficiente.
As primeiras sementes de canola com resistência genética a cepas conhecidas do clubroot foram introduzidas em 2009 e tornaram-se amplamente usadas como método de manejo da doença, explica o patologista Strelkov. Desde então, pesquisadores tem descoberto um crescente número de campos onde novas linhagens da doença estão emergindo e acabando com a resistência. Há mais de 100 campos conhecidos com características de resistência identificados no último outono, segundo Strelkov.
Empresas como a Bayer estão trabalhando em tipos resistentes ao clubroot usando traços de vegetais como beterrabas para criar novas variações de sementes de canola, afirma Jed Christianson, chefe do setor de canola da Bayer Canadá em Winnipeg. Ainda assim, a próxima geração de sementes resistentes ao clubroot está potencialmente a um ano ou dois de ser lançada, segundo ele.
“É uma questão importante, porque a doença continua a se espalhar e, uma vez lá, é muito difícil se livrar dela e administrá-la adequadamente”, afirma Strelkov, que aponta que 15% dos campos com clubroot sofrem infestações severas. “Se a doença tornar severa em um campo, pode ter efeitos devastadores”, conclui.