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Entrevista

‘Retração no PIB do agro acende sinal amarelo ao setor’

Analista adverte, porém, que essa é a hora de se reinventar e mostra os caminhos que podem ser seguidos para se defender dos anos desafiadores que estão por vir. | Arquivo/Gazeta do Povo
Analista adverte, porém, que essa é a hora de se reinventar e mostra os caminhos que podem ser seguidos para se defender dos anos desafiadores que estão por vir. (Foto: Arquivo/Gazeta do Povo)

Em um cenário de crise, já é unanimidade que o agronegócio tem ‘salvado a lavoura’ da economia brasileira. Mas os dados do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, divulgados na última semana, preocupam os analistas. Em entrevista exclusiva ao Agronegócio Gazeta do Povo, Gino Oyamada, consultor da 3G Consultoria – Governança, Gestão e Gente – faz a leitura de que os números são um sinal de alerta. O especialista adverte, porém, que essa é a hora de se reinventar e mostra os caminhos que podem ser seguidos para se defender dos anos desafiadores que estão por vir.

AgroGP: Como o senhor interpreta os números de retração do PIB do agronegócio?

Gino Oyamada: Nos últimos anos, o país vinha com dificuldade de atingir patamares melhores em relação ao PIB. O agronegócio vinha sempre salvando a economia de números piores. Mas nos últimos anos, setores ligados ao agronegócio, principalmente o de bens de produção (caminhões, tratores, silos, galpões e etc), que tem custo de capital alto, regrediram, porque são bens de alto valor, e na incapacidade de o estado financiar é natural que isso aconteça. A gente culminou no último trimestre um PIB negativo. Pela primeira vez nessa série histórica a gente vê o agronegócio com preocupação.

AgroGP: O senhor acredita que esse cenário deve se manter igual nos próximos meses?

Gino Oyamada: o tempo tem nos ajudado para o ciclo 2016/17, embora a gente tenha que torcer para permanecer assim até a colheita. A safra de verão muito provavelmente seja recorde e isso se confirmando, deve haver uma contribuição para melhora no cenário do PIB em geral. Mas o primeiro alerta foi feito, ninguém esperava. Eu acho que existem riscos que devem ser considerados.

AgroGP: As mudanças na economia internacional que estão se desenhando podem interferir no agronegócio brasileiro?

Gino Oyamada: A gente sabe que uma agenda protecionista dos Estados Unidos tem um potencial de mexer muito no mercado, e os números todos indicam que se houver protecionismo americano podemos ter impacto relevante no PIB chinês. Sabemos que se configurando isso o Brasil será afetado, já que a China hoje é um grande parceiro do agronegócio. Esse cenário geopolítico internacional, naturalmente, preocupa os agentes do agronegócio.

AgroGP: E o consumo interno do Brasil?

Gino Oyamada: O consumo em dólar tem uma capacidade incrível. Mas nosso potencial interno é enorme e uma fonte muito importante do agronegócio. Ano a ano estamos perdendo capacidade de consumo, se fala em quatro anos de perda de capacidade de consumo. O efeito imediato são as expectativas de venda de natal, que não são tão boas. Vamos ter ainda um crescimento dessa equação de famílias endividadas, complementada pelo ajuste do setor público, vão ser anos difíceis.

AgroGP: As empresas do agronegócio que estão finalizando seus planejamentos podem se defender de que forma desses anos difíceis?

Gino Oyamada: Eu diria que infelizmente não há tanta margem de manobra para se defender dos anos difíceis. Ganhos em produtividade, redução de custos, melhoria de processos, são agendas já recorrentes nos últimos anos. Mas vejo um espaço nas questões de investimento em tecnologia e inovação. Sabemos, porém, que isso não tem efeito no curto prazo. Para investir, é preciso injetar capital em um retorno incerto. Mas essa prática é crítica para a sobrevivência das empresas. Temos que alertar que as organizações não podem ter uma estratégia apenas de curto prazo.

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