O enredo da escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense provocou a reação de lideranças do agronegócio e entidades do setor. O samba “Xingu: o clamor que vem da floresta” exalta a luta dos povos indígenas e alerta para os riscos que sofrem as etnias nativas e, de acordo com a agremiação, não é uma crítica direta ao agronegócio.
“Jardim sagrado, o caraíba descobriu/Sangra o coração do meu Brasil/O Belo Monstro rouba as terras dos seus filhos, devora as matas e seca os rios/Tanta riqueza que a cobiça destruiu”, diz trecho do samba-enredo, interpretado como uma crítica por lideranças do agronegócio.
Além da canção, o desfile vai trazer alas que tratam de ameaças sofridas pelos índios. A que gerou mais polêmica se chama “Fazendeiros e seus agrotóxicos”. “Por incompetência e erro brutal de alguém no seu conjunto de decisões carnavalescas, surge lá uma ala horrenda, demoníaca, desgraçada”, criticou José Luiz Megido, do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS).
“É inadmissível, ultrapassado e insustentável, que o agronegócio seja colocado como ‘vilão do meio ambiente, da natureza e da população’ no samba-enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense para o carnaval 2017”, escreveu a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás em nota pública.
A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) também fizeram críticas públicas à Imperatriz Leopoldinense. Entidade máxima do setor, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), vai aguardar reunião do conselho para se manifestar.
No Congresso, o enredo carnavalesco também não foi bem recebido. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), prometeu articular a realização de uma sessão temática no plenário da Casa, para investigar os possíveis ataques feitos ao agronegócio. “Vou buscar a realização de sessão para discutirmos os motivos de um samba-enredo que denigre a imagem do agronegócio”, afirmou.
Alerta ambiental
A escola, entretanto, alega que não houve qualquer intenção de fazer crítica ao setor do agronegócio. “Em nenhum momento foi pauta essa crítica ao setor. Nosso enredo defende a causa do índio, e o nosso tema é a valorização da cultura indígena e as necessidades dos povos do Xingu”, disse o carnavalesco Cahê Rodrigues.
Ele explicou que o “Belo Monstro”, citado no samba-enredo, é uma referência aos impactos da construção da Usina de Belo Monte. Sobre a ala “Fazendeiros e seus agrotóxicos”, Cahê afirmou que se trata de uma crítica ao uso abusivo de agrotóxicos. “É uma questão ambiental e não ligada ao agronegócio. Não queremos apontar o dedo para ninguém”, disse.
O carnavalesco lembrou que, no ano anterior, ao homenagear a dupla Zezé Di Camargo & Luciano, a escola teve uma ala dedicada ao homem do campo e à agricultura e disse esperar que a questão seja esclarecida o mais brevemente possível para não prejudicar a agremiação carioca.
Em nota, a Imperatriz disse que “em nenhum momento” atacou o setor e seus trabalhadores. “Reforçamos que o nosso enredo não versa contra esta importante cadeia produtiva de nossa economia nem desqualifica os seus incansáveis trabalhadores. Como poderíamos exaltá-los de forma grandiosa num carnaval para em seguida criticá-los no outro?”.
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