Primeiro foi a seca na Rússia, maior exportador mundial de trigo. Depois a estiagem se abateu sobre as lavouras da Europa e da Austrália. E o bolo da cereja chegou com a guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump com a China, maior cliente mundial de soja e carne suína.
Todos esses ingredientes formaram um coquetel volátil que deu nova vida ao comércio internacional, beneficiando a maior bolsa de opções e futuro do mundo, a CME Group Inc, mais conhecida como Bolsa de Chicago. O volume de contratos do complexo agrícola negociados diariamente em Chicago atingiu seu maior patamar, desde, pelo menos, 2008.
A extensão dos prejuízos climáticos e da política olho-por-olho que estrangulou a demanda chinesa pela soja americana surpreendeu muitos investidores. Tudo aconteceu após vários anos de abundância de oferta de grãos que derrubaram as cotações e reduziram a volatibilidade do mercado, impondo limites à expansão dos contratos futuros em Chicago.
“O que acontece hoje envolvendo a China não é algo que você tinha como prever ou imaginar, mas, quando acontece, tem um impacto tremendo no mercado”, diz Tim Andriesen, diretor de commodities agrícolas da CME.
“Também houve problemas de produção na Argentina e na Austrália”, acrescenta Andriesen. “Então, foram vários riscos se avolumando no mercado e, quando há risco, as pessoas buscam proteção”.
Crescimento e valorização
O volume diário de negociação de contratos futuros e opções na Bolsa de Chicago – que também inclui milho, lácteos e carnes – cresceu 13% e atingiu a marca de 1,56 milhão de contratos nos 12 meses anteriores a setembro. O desempenho contrasta com crescimento de 1% no mesmo período, um ano antes. As ações da CME já valorizaram 24% este ano, a melhor performance entre bolsas rivais acompanhadas pela Bloomberg.
A agricultura não é o único mercado com crescimento em Chicago. Os contratos futuros de alumínio dispararam 24% neste ano, refletindo a corrida das empresas para garantir seus suprimentos após o presidente Trump sobretaxar o aço importado.
O volume de negociações de contratos de cobre, um termômetro da economia global, cresceu 35% nos nove primeiros meses do ano, o melhor desempenho desde 2012.
Os preços do cobre deram uma guinada na medida em que o raro caminho suave, trilhado desde o início do ano, ficou novamente acidentado diante da escalada de taxas na guerra comercial de Trump contra a China.
Na agricultura, os negócios em bolsa também dispararam na Europa e na Ásia. Já no mês de abril, a Bolsa de Chicago registrou recorde histórico de negociações futuras em horários fora do expediente americano.
“Esperávamos que esse fosse um ano lento nos negócios, porque alguns indicadores convencionais não apontavam para muita agitação”, disse Andriesen. “Acho que ninguém imaginava que as coisas tomariam esse rumo”.
Ainda que os fundos de investimentos e outros investidores tenham sido atraídos pela volatilidade, o fato é que os contratos de hedge (proteção contra variações súbitas) também registraram crescimento.
No dia 19 de junho deste ano o complexo agrícola da Bolsa de Chicago atingiu um recorde de 10,1 milhões de contratos em aberto e outros 3,2 milhões de contratos futuros e de opções. Esses números foram alcançados apenas 13 dias depois de um recorde de mais de 2 milhões de contratos em aberto para o milho.
“Definitivamente, tivemos um crescimento nos fundos de hedge e no setor de gestão de ativos relacionados aos produtos agrícolas”, aponta Andriesen. “Mas quando a procura por contratos cresce durante o desenvolvimento de uma safra ou na temporada de embarques, isso é um típico indicador de preocupações comerciais”.
Explosões em Brasília tem força jurídica para enterrar o PL da Anistia?
Decisão do STF que flexibiliza estabilidade de servidores adianta reforma administrativa
Lula enfrenta impasses na cúpula do G20 ao tentar restaurar sua imagem externa
Xingamento de Janja rouba holofotes da “agenda positiva” de Lula; ouça o podcast
Deixe sua opinião