A China vai zerar as tarifas de importação de soja de alguns vizinhos asiáticos a partir do dia 1º de julho, anunciou nesta terça-feira (26) o gabinete central do governo chinês.
Ficarão isentos de pagar a atual tarifa, de 3%, os exportadores de soja da Índia, Coreia do Sul, Bangladesh, Laos e Sri Lanka. Vlamir Brandalizze, consultor de Curitiba, avalia que o zeramento da tarifa de importação de soja dos vizinhos da China foi uma “jogada para a torcida”.
No ano passado, a China comprou cerca de 54 milhões de toneladas das 68 milhões de toneladas de soja que o Brasil exportou. Nos Estados Unidos, os asiáticos foram buscar outras 37 milhões de toneladas.
A medida, portanto, é vista pelo mercado mais como um jogo de cena na guerra comercial com os Estados Unidos do que como algo de impacto mais significativo. “É uma forma de tentar fazer com que o setor produtivo americano pressione Trump para buscar um acordo comercial melhor. Na soja, a China não tem escape. Umas 35 milhões de toneladas terão de ser compradas dos Estados Unidos, não existem outros fornecedores”, diz o consultor Brandalizze.
A decisão envolvendo a tarifa da soja integra uma lista mais ampla de produtos da região, e prevê ainda cortes nas taxas aplicadas a outros produtos agrícolas, químicos, médicos, siderúrgicos e de alumínio.
A China tem se esforçado para ampliar sua produção de soja neste ano, depois de ameaçar a adoção de uma tarifa retaliatória de 25% contra importações de soja dos EUA. Os chineses também têm procurado diversificar suas fontes de importações de soja, comprando a commodity agrícola de países como Brasil e Rússia.
Ciranda
Para o professor da Esalq/USP e pesquisador de soja do CEPEA, Lucilio Alves, um eventual acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China poderá provocar uma ciranda entre os mercados fornecedores e compradores. “No curto prazo, os preços da soja nos EUA podem cair enquanto sobem no Brasil. Mas a médio prazo, a União Europeia, segundo maior importador de soja no mundo, pode se perguntar: por que vou comprar do Brasil, mais caro, se posso comprar mais barato dos Estados Unidos?”, destaca. “Pode existir uma oportunidade para a soja brasileira, uma euforia num primeiro momento, mas a médio prazo a tendência é de o mercado se ajustar”, acrescenta.
Brandalizze estima que a Índia, que produz cerca de 10 milhões de toneladas, talvez possa exportar 500 mil toneladas, “no máximo um milhão, porque consome muito”. Os outros países não têm condições de produzir em larga escala. “É um gesto de política regional, para se mostrarem mais agradáveis com os vizinhos e tentar dar uma batida de leve nos americanos, que afinal, estão forçando essa briga toda”, afirma .