O excesso de chuvas verificado nos últimos dois meses começa a provocar estragos nas lavouras paranaenses e a soja já apresenta perdas de 2% na região Oeste, a maior produtora do grão no Estado. “Não há expectativa de que se repitam as condições climáticas excelentes da safra anterior, que permitiram uma colheita recorde”, disse o secretário da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, ao comentar o levantamento da produção de novembro que aponta uma colheita de 23 milhões de toneladas de grãos, recuo de 9% em relação à safra anterior.
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura, a projeção se mantém estável em relação à previsão inicial, mas o excesso de chuvas começa a preocupar. Segundo Ortigara, mesmo com o aperfeiçoamento da tecnologia empregada pelos produtores, o desempenho do clima já apontava que os ganhos não seriam tão consistentes como foram no ano passado.
“Na largada do plantio da temporada 2017/18, houve uma sequência de eventos que não contribuem para a repetição de fase tão favorável como foi no ano passado”, disse o secretário. Houve atraso do plantio em função da seca, depois chuvas abundantes, erosão e soterramento de sementes. “Ainda assim, a expectativa é de uma safra grande”, afirmou.
O Departamento de Economia Rural da Seab trabalha com uma queda de produção de 2% para a soja, cujo volume colhido deve cair de 19,8 milhões de toneladas (safra anterior) para 19,4 milhões de toneladas. Em relação à estimativa inicial a queda prevista é de 1% (100 mil toneladas). Essa redução está sendo provocada pelo excesso de chuvas de outubro e novembro e afetou principalmente a região Oeste.
Segundo o economista Marcelo Garrido, do Deral, vários fatores estão contribuindo para esse quadro. Inicialmente o plantio atrasou por causa de um período de seca entre os meses de agosto e setembro. O plantio foi normalizado em outubro, mas em seguida houve uma concentração de chuvas que causaram erosão e lixiviação que provocou a quebra de produção. “Essa redução será ainda reavaliada daqui para frente”, disse o técnico.
Cerca de 96% da área prevista para soja - de 5,45 milhões de hectares - já foi plantada e a maior parte está em boas condições. Os preços também estão estáveis, embora menores que no ano passado. Em novembro do ano passado a cotação média era R$ 66,00 a saca. Neste ano, no mesmo mês, a cotação é de R$ 62,00 a saca, uma queda de 5%.
Menos milho
A área destinada ao milho é de 340.680 hectares, já totalmente plantada e a expectativa com o desenvolvimento da lavoura é boa. A área é a menor da história para a primeira safra do grão, com uma queda de 34%. A previsão de produção é de 3,07 milhões de toneladas, 38% menor em relação ao ano passado.
O plantio de milho se concentrou na região Sul do Estado, tradicional produtora do grão. Cerca de 50% da área plantada com milho nesta safra concentra-se nas regiões de Ponta Grossa, com 57 mil hectares; Guarapuava, com 56 mil hectares e Curitiba, com 55 mil hectares.
A redução no plantio é explicada pela queda no preço, que já chega a 31%. Em novembro de 2016 a saca valia R$ 32,00 a saca e este ano R$ 22,00.
Mais feijão
Está começando a colheita do feijão de primeira safra, com 2% da área prevista (196.445 hectares) colhidos nas regiões de Francisco Beltrão, Jacarezinho, Londrina, Maringá e Curitiba. A previsão de produção é de 379.665 toneladas, cerca de 3% acima da produção do ano passado.
De acordo com o engenheiro agrônomo do Deral Carlos Alberto Salvador, o aumento da produção está ocorrendo em função da produtividade, que está 2% maior em relação ao ano passado, com um rendimento de 1.933 quilos de feijão por hectare. O técnico alerta para as condições climáticas, que não estão sendo tão benéficas como ocorreram na safra anterior e o clima frio dos últimos dias ainda pode levar á uma redução na produtividade.
A existência de muito feijão de qualidade no mercado aponta tendência de queda no preço. Segundo o Deral, no mês de outubro o feijão de cor estava cotado em média, por R$ 89,96 a saca, uma queda de 1,91% em relação ao mês anterior. Já o feijão-preto está com tendência ao contrário. No mesmo período, os preços médios estavam em torno de R$ 111,80 a saca, uma alta de 1,97% em relação ao mês anterior.
Má fase do trigo
O Paraná está encerrando a colheita de trigo da safra 2017, com uma queda de 37% na produção em relação ao ano passado – passando de 3,5 milhões para 2,2 milhões de toneladas.
A queda na produção ocorreu em função da redução na área plantada que este ano foi de 13% - de 1,1 milhão para 960 mil hectares. Além disso, teve quebra de safra de 27% em relação à estimativa inicial (3,024 milhões de toneladas).
De acordo com o Deral, o trigo foi prejudicado por um período seco entre julho e setembro, que atingiu todas as fases de desenvolvimento das lavouras, e agora está sendo prejudicado novamente com excesso de chuvas na colheita.
O mercado continua com preços estáveis de R$ 34,00 a saca, abaixo dos custos de produção. Segundo o Deral, esses preços são os mesmos praticados no ano passado e não reagem por estar no período de safra e por causa das importações.
Boa fase da mandioca
Cerca de 93% da área plantada com mandioca já foi colhida e ainda há falta generalizada de raiz para a indústria, o que mantém os preços em alta. Atualmente a raiz está sendo comercializada por R$ 687,00 a tonelada, 48% acima da média de comercialização em igual período do ano passado que era de R$ 464,00 a tonelada.
Segundo o economista do Deral, Methódio Groxko, a escassez de mandioca ocorre em função na redução da área plantada no ano passado, após um período de preços baixos que em 2015 induziu os produtores apelarem ao governo federal para que comprasse farinha de mandioca.
Na safra atual foram plantados 124.381 hectares e a colheita aponta para um volume de 3,2 milhões de toneladas - 5% acima do ano passado.
Avanço do fumo
A área plantada com fumo no Paraná evoluiu 6%, passando de 75 mil hectares no ano passado para 79 mil hectares este ano. Já a produção cai de 194 mil toneladas no ano passado para 189 mil toneladas este ano, uma queda de 3%, por causa da redução da produtividade, que este ano volta ao normal. As condições da lavoura estão boas e a colheita do fumo começa em dezembro, quando serão discutidos os preços para a próxima safra (2018).
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