Já faz dez anos que a crise econômica mundial derrubou a confecção de seda no Paraná, o maior produtor do país, mas só agora é que a atividade começou a se reerguer, com mais produtores entrando no mercado.
Artigo de luxo, o produto do bicho-da-seda servia como fonte de renda a milhares de famílias no estado, que foram obrigadas a migrar para outras culturas em virtude da queda na demanda no final da última década, assim que as economias dos Estados Unidos e de países da União Europeia, clientes fiéis, começaram a entrar em colapso.
Maiores produtores de seda
1º - China: 146 mil toneladas
2º - Índia: 28,7 mil toneladas
3º - Uzbequistão: 1,1 mil toneladas
4º - Tailândia: 692 toneladas
5º - Brasil: 560 toneladas.
Fonte: Deral/Seab
O fio de seda brasileiro é considerado o melhor do mundo – com 95% de fios de primeira, quase o dobro em relação à concorrência – e tem entrada, sobretudo, em nichos da alta costura. No período de recessão, não suportou a competição com a China, que ganha na quantidade. O resultado é que, de 14,8 mil hectares na temporada 2007/08, a área no Paraná dedicada à produção de amoreiras, cujas folhas são a principal fonte de alimento do bicho, veio caindo safra a safra, chegando a 3,7 mil hectares no ciclo 2014/15.
Agora, no entanto, a curva está mudando de sentido: de acordo com os últimos dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da secretaria estadual de agricultura, a área de amoreiras enfim voltou a crescer, passando a 3,85 mil hectares, tendência que continua.
Recentemente, cerca de 50 famílias decidiram começar na sericicultura, que é o nome técnico da criação de bichos-da-seda. E mais gente está a caminho. A produtora rural Flávia Coral, de Engenheiro Beltrão, no Noroeste do estado, já tem todo o planejamento pronto para a instalação de um barracão para as larvas e a área para a plantação das amoreiras.
“Hoje nós trabalhamos com hortifrúti hidropônicos, soja e milho. Mas estamos no Vale da Seda e vimos nisso uma oportunidade perfeita”, conta Flávia, que desenvolveu o projeto junto com o namorado, João Paulo Dias. Os dois têm apenas 19 anos e a ideia é concluir tudo até metade de 2018. “Como o preço está bom, será ótimo para complementação de renda.”
Potencial de crescimento
O cultivo no Paraná, que atualmente soma 2,44 mil toneladas de casulos verdes, mas já foi de 9 mil toneladas, responde por 84% da produção nacional. Ele está concentrado nas regiões Norte e Noroeste, o chamado Vale da Seda. Ao todo, a atividade gera R$ 39 milhões por safra. Em fios de seda beneficiados, a produção brasileira gira em torno de 560 toneladas.
A seda brasileira perde em quantidade para gigantes do setor, como China e Índia, mas ganha em qualidade, abastecendo grifes internacionais na França, Itália, Suíça e Japão. Cerca de 90% da produção são enviados ao exterior e a meta é recuperar o tecido perdido.
No auge da crise, a única empresa que restou por aqui foi a Bratac, que fechou uma de suas unidades, mas continuou com as fábricas em Bastos (SP) e Londrina (PR).
Principal fornecedora da francesa Hermès, a companhia atua em todas as fases da cadeia produtiva, fornecendo as lagartas do bicho-da-seda aos produtores e comprando casulos produzidos para a fiação. Entretanto, ainda como consequência da crise internacional, a empresa tem operado com apenas 60% da capacidade.
“A nossa meta é atingir pelo menos 80%”, afirma o gerente de produção, José Oda. “Só não trabalhamos com um percentual maior porque precisamos de novos produtores, já que naturalmente há uma porcentagem que vai parando, alguns acabam vendendo a propriedade. Outro impedimento é que a mão de obra no campo está escassa.”
A saída tem sido o investimento em tecnologia: a Bratac vem trabalhando com a modernização na colheita das amoreiras e nos barracões, com tratores ajudando a fazer o serviço de limpeza e levantamento dos canteiros, trabalhos que até então eram braçais; além do desenvolvimento de lagartas mais resistentes. Sensíveis que são, elas comumente só se alimentam de folhas frescas e livres de defensivos agrícolas, o que pode ser um problema, já que, nas principais regiões produtivas, é comum o cultivo de cana-de-açúcar, por exemplo.
“Estamos melhorando para aumentar a produtividade e renda, e incentivar permanência do produtor no campo”, salienda Oda. “Trabalhamos com um nicho de clientes, que prezam por qualidade. Assim conseguimos remunerar os produtores e manter fiel esse mercado elitizado.”
Desafios
Engenheira agrônoma do Deral e especialista em sericicultura, Gianna Cirio reforça, apesar dos avanços nos últimos anos, é preciso inovar ainda mais, para tornar a atividade mais eficiente. Atualmente, a média paranaense de produtividade do bicho-da-seda está em 622 kg/hectare por ano. O objetivo é alcançar 943 kg/hectare, o que, em termos de renda, representaria um retorno de um salário mínimo mensal, já cobrindo todos os custos de produção. Há produtores no Noroeste do estado, inclusive, que já chegaram a 1,4 mil kg/hectare.
“Produtores estão trabalhando com aclimatação dos barracões, como em granjas de frango, porque o frio interfere no sistema da lagarta. Além disso, há experiências em nutrição de plantas, diagnóstico foliar, adubação correta, irrigação, correção de acidez do solo. É a garantia de que a pessoa que entra na atividade vai ter renda”, explica Gianna. “E é possível chegar a esses níveis de produtividade. Nesse meio tem pessoas que produzem muito pouco e tem gente que produz muito bem. O uso de toda essa tecnologia, além de reduzir o esforço físico, leva a uma renda melhor. Estamos pensando numa produção mais técnica, não só de base.”
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