A alta do dólar estimula os produtores brasileiros de soja às véspera do plantio. Com as máquinas reguladas durante o vazio sanitário – que previne a ferrugem e termina oficialmente nesta terça-feira – o setor viu a queda do real diante da moeda norte-americana elevar o preço do grão a R$ 68,50 por saca (60 kg) nos últimos dias no Paraná – preço 8% acima do praticado em agosto e 28% além da média de um ano atrás.
Além disso, o fenômeno El Niño, que afasta o risco de seca no centro-sul do país, estimula a semeadura e dá sustentações a previsões que apontam para uma colheita sem precedentes, acima de 100 milhões de toneladas. Na temporada passada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país colheu recorde de 96,2 milhões de t.
Os três estados que mais produzem soja confirmam contribuição para uma safra acima da casa dos três dígitos. Em Mato Grosso, a cultura deve ocupar 9,2 milhões de hectares, extensão 2,06% maior que a da safra passada. No Paraná, a previsão oficial é que a soja irá cobrir 5,08 milhões de hectares (+2%). E no Rio Grande do Sul a estimativa é de 5,43 milhões de hectares, com alta de 3,14% ante 2014/15.
“Juntos esses três estados podem determinar o crescimento da produção brasileira. Uma quebra em outros estados não é tão relevante quanto em Mato Grosso, Paraná ou Rio Grande do Sul”, diz a analista Natália Orlovicin, da consultoria FCStone, que em sua primeira estimativa aponta 100,9 milhões de toneladas de soja e expansão da área nacional em 4,4%.
O El Niño favorece o centro-sul mas pode trazer irregularidade e seca ao Nordeste, que abrange a fronteira agrícola formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – o Matopiba – pondera o meteorologista Luiz Renato Lazinski. Por outro lado, ele avalia que a região tem menos influência no volume nacional de produção, também apostando em uma safra volumosa.
Dólar
Apesar de as cotações da principal commodity agrícola estarem nos menores níveis dos últimos seis anos no mercado global, o dólar cotado a mais de R$ 3,8 assegura alta em real que compensa elevação dos custos de insumos importados. “A taxa cambial tem feito o preço da soja no mercado interno altamente estimulante para o produtor. Nas conversas com o setor, é possível identificar o pessoal bastante empolgado. Como o câmbio não deve cair no curto prazo por questões políticas, o cenário é interessante”, destaca Camilo Motter, economista e analista de mercado.
Para o presidente da Coamo, de Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), Aroldo Gallassini, as altas no insumo, diesel e impostos como a conta de luz serão atenuadas pelo efeito do dólar. Regiões de abrangência da cooperativa que tinham custo de R$ 23 por saca hoje registra R$ 30/sc.
“Os preços despontam como bons e temos mercado para comprar tudo que for produzido. Já tem gente fazendo contrato com R$ 70 a saca. Novamente, a soja será um produto que deixa uma boa margem [de lucro] para o produtor”, destaca o executivo. Os associados da cooperativa devem plantar 2,4 milhões de hectares com a oleaginosa.
China
Os temores econômicos associados à China não tem sido suficientes para frear a expansão da soja. Nas últimas semanas, notícias sobre a desaceleração da economia chinesa derrubaram bolsas ao redor do mundo e jogaram a cotação da soja no pior patamar em mais seis anos.Porém, para Motter, a “fome” da população de 1,3 bilhão de pessoas aliada à necessidade do governo chinês de evitar, a qualquer custo, a escassez de alimento irão garantir a continuidade das importações. “Podem perder o ritmo, mas continuarão expressivas”, afirma.
Segundo o último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a China irá comprar 77 milhões de toneladas de soja neste ano, quase 7 milhões a mais do que em 2014 (70,4 mi/t). “Se fechar em 75, já é um baita crescimento”, diz o analista.
Colaborou Luana Gomes.
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