O Brasil importa praticamente metade dos 11 milhões de toneladas de trigo que consome todos os anos. Ora, o país é quente, o trigo gosta de frio. Até aí, você já deve ter ouvido falar. Mas você sabia que, dependendo de investimentos em logística e planejamento, poderíamos não só abastecer o nosso próprio mercado como até exportar o cereal?
Para além da questão de mercado - atualmente, os preços pagos pelo cereal estão abaixo do custo, desestimulando agricultores -, foi essa a constatação de um estudo da Embrapa Trigo (RS) e da Embrapa Gestão Territorial (SP), que projetou quatro diferentes cenários para a produção nacional de trigo, considerando regiões para onde a cultura poderia se expandir. O maior potencial está na região 4 (conforme figura), onde seria possível cultivar 25 milhões de hectares. Hoje, no entanto, as lavouras de trigo não passam de 200 mil hectares nesta área.
Cenários
A projeção de expansão do trigo partiu de cenários criados a partir da combinação entre área de cultivo no verão (soja e milho), áreas aptas à cultura de inverno e otimização de áreas que historicamente já foram ocupadas pelo cereal. Os números já englobam o que é cultivado atualmente, em todas as regiões do mapa.
Como resultado, foram desenvolvidos quatro cenários possíveis: o “Cenário 1” projeta que o trigo possa ocupar um terço da área de soja e milho no inverno, com potencial de produção de 14 milhões de toneladas. Já o “Cenário 2” considera que o trigo ocupe 10% da área de soja e milho, podendo atingir 5,9 milhões de toneladas. O “Cenário 3” repete resultados da máxima produção histórica de trigo para cada município do país entre os anos de 1990 e 2012. O potencial é de 11,3 milhões de toneladas.
Por fim, o “Cenário 4” traça uma combinação entre os cenários 1 e 3, adotando o maior valor obtido em cada um deles. É o mais otimista, apresentando potencial de produção de 22 milhões de toneladas de trigo.
Panorama
O Brasil produz aproximadamente metade das 11 milhões de toneladas de trigo que consome e 70% do total é destinado à panificação, o que torna os resultados estratégicos para traçar alternativas ao abastecimento do cereal.
O país importa entre 5 e 6 milhões de toneladas de trigo a cada ano, provenientes principalmente da Argentina, favorecida pelos acordos do Mercosul. “Acredito que o Brasil é plenamente capaz de se tornar autossuficiente em trigo. Contamos com tecnologia e área, mas é fundamental o apoio de políticas públicas que assegurem o crescimento desta produção”, argumenta o chefe-geral da Embrapa Trigo, Sergio Dotto.
Em 2015, o Brasil cultivou 2,5 milhões de hectares com trigo, uma produção de 5,5 milhões de toneladas. Na distribuição territorial, a região Sul responde por cerca de 89% do total produzido, o Sudeste, por 9%, e o Centro-Oeste, por 2%, conforme a variação de clima, cultivares adaptadas e disponibilidade de infraestrutura logística.
“O planejamento e o investimento na otimização da logística de escoamento do trigo produzido, com qualidade adequada, em direção aos maiores centros de consumo do país são fundamentais para garantir a competitividade econômica do produto nacional frente ao importado”, afirma o analista da Embrapa Gestão Territorial Rafael Mingoti.
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