A importação de trigo pelo Brasil em 2015 poderá atingir cerca de 5 milhões de toneladas, o que seria um recuo de 13,5% ante o total importado em 2014, em meio a um consumo menor no país, um dólar mais alto que encarece as compras externas e também uma safra local potencialmente maior. O quadro tende a manter pressionando os preços da farinha junto ao consumidor, avaliou nesta quinta-feira o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Sergio Amaral.
As compras externas do Brasil, um dos maiores importadores globais do cereal, dependeriam do tamanho da safra do país, com colheita em andamento, acrescentou Amaral.
No acumulado do ano até agosto, as importações brasileiras de trigo somam 3,3 milhões de toneladas, uma queda de cerca de 20% ante o mesmo período ano passado, com a maior parte do produto importado (2,7 milhões de toneladas) com origem na Argentina e cerca de 300 mil nos Estados Unidos, segundo dados da Abitrigo.
Isso diante de um recuo no consumo de farinha de trigo, que pode fechar o ano em baixa de 2,5% a 3%, segundo previsão da Abitrigo, em meio a uma economia em recessão. "Ainda é uma queda menor do que em outros setores", ponderou o presidente da associação.
Com um consumo em queda no país, a moagem de trigo deverá cair na mesma proporção, ou cerca de 3% na comparação com 2014, o que reduz um pouco a pressão sobre a oferta num momento de custos da matéria-prima em alta em reais.
Apesar de incertezas com a safra do Brasil, atingida recentemente por chuvas intensas especialmente no Sul do país, a Abitrigo ainda espera um aumento ante o total colhido em 2014, o que também explica uma importação menor.
O último dado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta uma colheita de 7 milhões de toneladas em 2015, aumento de pouco mais de 1 milhão de toneladas ante 2014, segundo previsão divulgada no início de setembro. O país ainda contou no ano atual com mais de 1 milhão de toneladas de estoques de trigo da safra passada.
De acordo com Amaral, o número atual da Conab ainda não mede o impacto das chuvas no Sul, mas ele acredita que se a produção for de 6 milhões de toneladas não será "nada fora dos padrões" do setor, ou seja, não traria grandes impactos.
Efeito cambialA indústria de trigo, disse o presidente da associação, está sendo fortemente impactada por custos maiores, decorrentes da energia elétrica mais cara e agora pela disparada do dólar, que deixa o produto importado com valores mais elevados na moeda local, com repercussões no mercado doméstico. "De forma geral, o impacto é grande e isso vai forçar um aumento de preços da farinha", afirmou Amaral.
Ele não detalhou quanto o valor do produto já foi elevado e quanto ainda poderá subir nos próximos meses. "O moinho não tem alternativa, o impacto do preço do trigo [pelo dólar] ou da conta de luz, isso tem que ser repassado", acrescentou.