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Craque da seleção argentina, Messi aponta para o céu; é para onde muitos produtores também têm apontado. | Sebastião Moreira/Sebastião Moreira
Craque da seleção argentina, Messi aponta para o céu; é para onde muitos produtores também têm apontado.| Foto: Sebastião Moreira/Sebastião Moreira

Com a colheita encerrada em 77% das lavouras paranaenses, a queda drástica na produção de trigo é um problema consolidado, falta apenas dimensionar o real tamanho do estrago. O estado responde por metade da produção nacional. Porém, além das baixas produtividades, o que tem preocupado o setor é a qualidade do grão que chega à indústria, um dos fatores que mais pesa no momento de decidir: trazer ou não trazer trigo de fora do país.

E quando se fala em trigo de fora, estamos querendo dizer da Argentina. Se no futebol os ‘Hermanos’ têm tropeçado nas Eliminatórias da Copa e chegam a torcer pelo Brasil, na agricultura a situação é oposta.

Tudo começou com um balde de água fria nos triticultores paranaenses.

Safra de fases

De acordo com Rui Marcos de Souza, gerente de suprimentos do Moinho Globo, de Londrina (PR), os trabalhos de campo na região, reconhecida por ter o produto de melhor qualidade do país, já foram concluídos e o resultado deixou (bastante) a desejar. “Tivemos três fases da colheita: a primeira antes das chuvas, em que o trigo estava muito bom; na segunda, depois de quase dez dias de chuva, a qualidade caiu muito; e na terceira fase, quando o tempo ‘secou’, o trigo recuperou a qualidade, mas não chegou ao nível da primeira”, explica.

No geral, afirma Souza, os grãos recebidos pelo moinho neste ano têm vindo com a classificação extremamente segmentada: 33% muito bom; 33% ruim; e 33% razoável. “Está bem pior do que a média. Normalmente, temos 33% de trigo bom e 66% muito bom”, frisa o gerente. “Estamos recebendo com muito cuidado.”

Reviravolta de papéis

Se na temporada 2015/16, o clima praticamente perfeito sustentou uma das melhores colheitas que o estado já teve (em quantidade e qualidade), nesta, São Pedro não ajudou. “Tudo aconteceu: chuva, seca, geada”, diz Daniel Kümmel, presidente do Sinditrigo-PR (Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná) e diretor comercial do Moinho Arapongas, também no Norte do estado.

Dos cerca de 230 mil hectares que não foram colhidos, 20% estão em condições ruins; 45% em condições médias; e apenas 35% estão com a classificação boa.Albari Rosa/Gazeta do Povo

Os índices de qualidade das lavouras que ainda estão no campo são os piores dos últimos anos. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da secretaria estadual de agricultura, dos cerca de 230 mil hectares que não foram colhidos, 20% estão em condições ruins; 45% em condições médias; e apenas 35% estão com a classificação boa.

“Esse número corresponde só às lavouras que ainda estão em campo, não as que já foram colhidas”, salienta o analista do Deral, Carlos Hugo Godinho, que acrescenta: a situação tende a ser pior do que em 2013, quando as geadas derrubaram a produção. “Naquela época, o Sul do Paraná estava escapando um pouco dos problemas de condição das lavouras.”

Tanto as chuvas em excesso quanto longos períodos de estiagem podem interferir na qualidade do cereal, seja pela necessidade de secagem “à força” quando ele chega aos moinhos ou quando a própria natureza “estraga” os grãos em épocas de muita seca e calor.

Solução ‘Hermânica’

Segundo Daniel Kümmel, a capacidade de industrialização nos moinhos paranaenses está em 2,6 milhões de toneladas, ou seja, a safra estimada pelo Deral em 2,3 milhões de toneladas, por si só, já não daria conta da demanda interna do estado. No ciclo passado, a colheita no Paraná havia sido de 3,5 milhões de toneladas.

A questão é que, quando se fala em trigo, a matemática é ainda mais complicada: com os estoques de excelente qualidade que restaram da temporada passada, avaliados entre 300 mil e 400 mil toneladas, até daria para suprir a indústria. O problema é que se a qualidade da safra 2016/17 não melhorar, pode não haver trigo suficiente com características panificáveis. “A exigência do consumidor é alta”, frisa o presidente do Sinditrigo-PR.

“A chance de acontecer [o aumento de importações] é grande, provavelmente com a entrada de trigo da Argentina, pois o Paraguai foi prejudicado por secas e geadas, e não vai concorrer com o produto paranaense como nos anos anteriores”, pontua Rui Souza.

Especialistas argentinos ouvidos pelo AgroGP apostam - e muito - no mercado brasileiro. Para eles, em 2018, devemos comprar uma fatia de 50% a 60% dos 12 milhões de toneladas com potencial de exportação . Por lá, os triticultores estão empolgados com os preços e dispostos a vender, inclusive para fora da América do Sul.

Por aqui, o consumidor não deve sentir tanto o peso do aumento das importações, já que, mesmo em dólar, o trigo da Argentina, que projeta um “bis” de 17,5 milhões de toneladas em mais uma super-safra, entra bastante competitivo no mercado brasileiro. Para o produtor, entretanto...

“O preço é a única coisa que o produtor pode pensar. E isso vai depender muito da colheita argentina e do comportamento da Rússia, que teve produção enorme e se tornou o maior exportador do ano passado. Os Estados Unidos estão na contramão, com área muito pequena nesse ano”, avalia Carlos Godinho. “Se o produto não tem liquidez, ele migra pra outra cultura”, completa Daniel Kümmel.

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