Os produtores querem vender safra por mais de R$ 60 a saca, mas compradores não bancam essa cotação.| Foto: Foto: Marcelo Andrade/gazeta Do Povo

Apenas um terço da safra de soja foi vendido antes do início da colheita, enquanto um ano atrás essa proporção se aproximava da metade. A estimativa parte de consultorias privadas e, segundo os especialistas, deve-se ao fato de os produtores ainda estarem esperando uma melhora dos preços, enquanto os compradores apostando numa queda.

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A queda de braço trava as negociações num momento em que a colheita começa a avançar em Mato Grosso e no Paraná, os dois estados que mais produzem soja no Brasil. As disparidades de cotações não se limitam aos dois estados. Em Goiás, por exemplo, esmagadoras têm oferecido R$ 55,50 por saca e tradings aceitam pagar R$ 50, mas os produtores fecham negócio apenas acima de R$ 60 reais, disse Vitor Carettoni, chefe da mesa de agronegócio do escritório de investimentos Lifetime, de São Paulo.

"Nos últimos anos, se trabalhou nesse nível de preços [60 reais por saca]. E, com a escalada recente do dólar, o produtor tem o sentimento de que o preço alcançará novamente esse patamar", disse ele. Além disso, os produtores estão capitalizados por uma sequência de anos de alta rentabilidade e têm poder para endurecer as negociações.

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Desde novembro, os preços da soja na Bolsa de Chicago giram em torno de 10 dólares por bushel, após tocarem 9 dólares em outubro, menor patamar em quatro anos e meio. Por outro lado, a queda nas cotações internacionais foi parcialmente compensada pela altade mais de 10% do dólar frente o real entre o início de outubro e 16 de dezembro, quando a moeda norte-americana atingiu sua maior cotação de fechamento em quase uma década, a R$ 2,74.

A desvalorização da moeda brasileira torna mais rentáveis as exportações de commodities como a soja, com influência direta no mercado no interior do país. No entanto, o dólar já caiu 1,15% desde o pico de dezembro. "Com as recentes quedas (na cotação do dólar e no preço da soja em reais) os números entre vendedor e comprador ficaram distantes", disse um corretor de Maringá, no Paraná. Vendedores na região têm pedido R$ 64 por saca, enquanto compradores oferecem R$ 59 a R$ 60.

No Porto de Paranaguá (PR), houve sinalização de compradores, mas ainda não houve registro de negócios realizados, disse o Cepea. "Os line-ups dos portos de Santos e Paranaguá não apontam navios previstos para chegar e embarcar soja por enquanto", afirmou o centro de pesquisas ligado à Universidade de São Paulo, em relatório.

Enquanto produtores apostam numa recuperação de preços, na esteira do dólar valorizado, compradores confiam no efeito da chegada de uma safra recorde ao mercado para derrubar as cotações nas próximas semanas. "O grosso mesmo (das negociações), ocorrerá com a entrada da safra", ressaltou Carettoni.

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