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Fazendeiros correm para salvar animais e plantações do furacão Florence

Steve Carroll inspeciona estoques de cogumelos de sua fazenda: preparativos para o furacão Florence | Eamon Queeney/For The Washington Post
Steve Carroll inspeciona estoques de cogumelos de sua fazenda: preparativos para o furacão Florence (Foto: Eamon Queeney/For The Washington Post)

Nuvens espessas e umidade pesada indicavam que a tempestade seguia em direção à Fazenda de Cogumelos Carolina. Mas dentro de um dos coolers de concreto e metal continuava a temperatura exata de 3°C, onde são armazenados os cogumelos colhidos e embalados.

Para Shahane Taylor e Steve Carroll, coproprietários da fazenda, a eletricidade que mantém os galpões de cogumelos na temperatura certa, níveis adequados de umidade e luz, é essencial para manter a maior produção de cogumelos do Sudeste americano. Os galpões são aparafusados em um piso de concreto e, segundo Taylor e Carroll, têm resistido a todos os grandes furacões e tempestades desde o início dos anos 1980.

Mas o furacão Florence tem previsão de ser uma tempestade de enorme ferocidade, transformando-se em uma ameaça ainda maior para as ostras, cogumelos juba de leão e shiitakes da fazenda. Os cogumelos estão bem protegidos, diz Carroll, acrescentando que “com essa chuva toda, metade do estado vai ficar embaixo d´água”.

O Florence tem potencial para dizimar a economia agrícola, que concentra pelo menos a metade de todos os empregos do estado e produz boa parte da batata doce, tabaco, carne de porco e aves do país. Muitos fazendeiros estão baseados na parte leste do estado, que deve ser a mais atingida pelo Florence e receber até 600 milímetros de chuva. Os produtores sabem que a temporada de furacões e da colheita se sobrepõem, às vezes com consequências devastadoras.

Há um temor de que a tempestade dizime as lavouras recém-plantadas de soja, algodão, amendoim e batata doce. “A maior parte da produção ainda está nos campos”, diz Mike Yoder, coordenador dos programas de emergência do NC State Extension, instituto de pesquisa ligado à Universidade da Carolina do Norte, “e esses fazendeiros vão sofrer tanto ou mais que a indústria pecuária”.

Tabaco, milho e batata doce

Em Lucama, empregados das Fazendas Scott trabalhavam na terça-feira (4) para colher a maior quantidade possível de tabaco, milho e batata doce que podiam antes da chegada do furacão. “Estamos concentrados em colher tudo agora”, afirmou Jeff Thomas, diretor de marketing da fazenda.

As Fazendas Scott, que tem cerca de 130 funcionários e plantou perto de 13 mil acres neste ano, tomou algumas medidas para tentar mitigar os possíveis efeitos catastróficos da inundação e da tempestade. Os empregados plantaram batata doce em áreas que não são alagáveis e os sistemas de armazenamento e curagem conseguem manter os produtos por mais de um ano.

A lembrança do Furacão Matthew, que passou pela região em outubro de 2016, está fresca na memória de Thomas. A fazendas salvou boa parte de sua produção de batata doce da chuva contínua e da severa inundação. Mas o Florence está chegando um mês antes que o Matthew, encurtando o período de colheita, e sua força deve ser maior. Thomas diz que não é possível fazer qualquer previsão, mas está confiante de que os sistemas de proteção da fazenda vão ajudar a mitigar potenciais danos.

Larry Wooten, presidente do Bureau de Fazendas da Carolina do Norte, diz que passaram pela devastação causada pelos furacões Matthew e Floyd, que destruiu a parte leste da Carolina do Norte em 1999, sabem que o Florence pode o pior furacão que já viram. “O governo diz que estamos literalmente no olho do furacão. A agricultura está no centro desse olho”, afirma.

Wooten diz que um decreto de emergência assinado pelo governo do estado tem ajudado os fazendeiros a acelerar a colheita, ignorando inspeções de limite de peso dos caminhões e permitindo que veículos operem o dia todo. Algumas culturas estão mais adiantadas: cerca de 50% a 60% do tabaco do estado já foi colhido, assim como 75% do milho na parte leste do estado. O que não for colhido do milho ou tabaco antes da tempestade muito provavelmente será destruído pelo vento.

O secretário de Agricultura do estado, Steve Troxler, diz que pela velocidade de avanço do furacão vai ser difícil estarem todos completamente preparados.

“Estamos nos preparando desde a semana passada, tentando assegurar que teremos tudo planejado”, disse, antes de acrescentar que o Florence parece pior que os furacões anteriores. “Estamos achando que esse vai ser ‘o furacão’”.

Gado

Produtores de gado também estão tomando as providências necessárias desde a semana passada, segundo Troxler, mudando os animais de áreas propensas a inundação e reduzindo o nível das lagoas de decantação que armazenas dejetos para que acumulem água de chuva adicional. Alguns estão mandando os rebanho para o abate para tirá-los das fazendas.

Na Carolina do Norte, segundo maior produtor nacional de carne de suíno, a maioria dos produtores estão na parte leste do estado também. A companhia Smithfield, o maior produtor do estado, informou que está mudando os animais para áreas mais altas e assegurando que tenham comida e se preparando para quedas de energia.

A empresa disse que também está analisando as enormes lagoas onde os dejetos animais são armazenados. Os poços revestidos acumulam rejeitos que viram adubo, para mais tarde serem usados como fertilizantes. A Smithfield disse ainda que os fazendeiros estão informando que as lagoas podem acumular mais de 300 milímetros de água da chuva. Wexler diz que as lagoas estão mais vazias porque o esterco foi espalhado nas lavouras recentemente.

Grupos ambientais temem que as lagoas transbordem. “O risco catastrófico é que as águas transbordem e carreguem grandes quantidades de dejetos dos animais para dentro dos rios e carregue isso adiante”, afirmou Frank Holleman, advogado sênior do Centro de Direito Ambiental do Sul.

A Carolina do Norte também é grande produtor de aves - 1,8 milhões de frangos morreram durante o furacão Matthew. Na Fazenda House of Raeford, onde trabalham 150 criadores de aves no leste da Carolina do Norte, os empregados correm para mudar as aves para áreas mais altas. Em alguns casos significa movê-las para outras fazendas, segundo Dave Witter, gerente de sustentabilidade corporativa e comunicação.

Os produtores também estão distribuindo a maior quantidade possível de ração para o caso dos caminhões não conseguirem trafegar depois nas áreas inundadas. E no caso de apagões, a House of Raeford está coordenando junto com os fazendeiros uma forma de garantir que cada um tenha combustível suficiente para manter funcionando os seus geradores. “Uma coisa que aprendemos é que temos que nos adiantar a isso. Se não fizermos, a coisa não vai terminar bem”, conclui.

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