O governo federal, através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), deve anunciar nesta segunda-feira (21) um apoio financeiro à comercialização do trigo. A produção nacional, em fase final de colheita, com 6,5 milhões de toneladas, somada a uma expectativa de importação de 3,5 milhões de toneladas, derruba os preços no mercado interno e deixa a atividade no vermelho. Segundo o que secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, antecipou a lideranças do setor, serão liberados R$ 150 milhões, recurso suficiente para apoiar o escoamento de 1,2 milhão a 1,7 milhão de toneladas. O objetivo é tentar assegurar o preço mínimo ao cereal.
Os produtores aguardam a publicação com expectativa. Em pouco mais de quatro meses o preço pago ao produtor caiu de R$ 45 para menos de R$ 35/saca. No caso do trigo classificado como pão tipo 1, abaixo do preço mínimo de R$ 38,65/saca. Ou seja, uma cotação pela qual o agricultor não cobre nem mesmo os custos de produção. Quem dirá remunerar a atividade. Uma realidade que se agrava, pelo menos do lado do produtor, com a demora na intervenção federal. As negociações de apoio à comercialização têm mais de dois meses. Apesar da urgência, o processo, que precisa de validação do Ministério da Fazenda, ficou travado, para não dizer parado, no Ministério da Agricultura.
Se o assunto fosse tratado com a celeridade necessária, o mercado talvez não tivesse sido rebaixado com a intensidade e rapidez como ocorreu. No Paraná, maior produtor nacional, a sexta-feira registrou média de R$ 34,79 e mínima de R$ 30/saca. No valor menor, mais de 40% abaixo do preço mínimo. Contudo, o governo também precisava de tempo para ouvir e negociar com os moinhos. Representantes do Mapa, inclusive, estiveram em reunião exclusiva com o setor industrial aqui no estado. Encontro para o qual o setor produtivo não foi convocado. Talvez esteja aí o motivo da demora no encaminhamento do processo em Brasília.
E também está aí um dos grandes entraves e desafios da cadeia produtiva do cereal. Por que não sentar juntos, discutir juntos e equacionar em conjunto as demandas que afetam e atendem as duas pontas? Afinal, trigo é dieta básica da população, motivo pelo qual deveria ser tratado como um tema de interesse público, quase que de utilidade pública. Um debate que também deveria envolver a sociedade organizada, o consumidor, que no final das contas é o maior impactado pelos interesses, apoios e subsídios, seja ao produtor ou à indústria.
Dependência
Sem falar da questão de soberania. Como é que um país como o Brasil, um dos maiores produtores mundiais, produz apenas 60% da sua necessidade de consumo? Isso mesmo. Para garantir o abastecimento interno o país precisa importar de 3 milhões a 4 milhões de toneladas por ano. No próximo ano, com o produtor desestimulado e uma área possivelmente menor, pode ser que a necessidade de importação fique acima de 5 milhões de toneladas.
Mas ok. Para o momento é esperar e cobrar uma posição do governo em relação à política de apoio à comercialização. A publicação das normativas deve ocorrer entre esta segunda (21) e terça-feira (22). Os recursos serão disponibilizados nas modalidades PEP e PEPRO, Prêmio para Escoamento de Produto e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor. No primeiro instrumento, o pagamento é feito ao comprador que deve comprovar a remuneração ao produtor pelo preço mínimo. Na segunda ferramenta, o pagamento é feito ao produtor rural ou as cooperativas.
Máquinas agrícolas
Outro setor que reivindica novos recursos à safra 2016/16 é o das indústrias de máquinas agrícolas. Na semana passada o Ministério da Agricultura garantiu em uma reunião com a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) que irá remanejar R$ 2,5 bilhões de outros programas de crédito rural para financiar aquisições através do Moderfrota, o programa de modernização da frota de tratores e colheitadeiras agrícolas.
No ciclo atual, o Plano Agrícola prevê R$ 5,4 milhões para a compra de máquinas e equipamentos. Desse total, mais de 60% já teriam sido contratados, o que sugere que a destinação inicialmente prevista será insuficiente para atender tanto a demanda do campo como a expectativa de negócios da indústria.
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